O Governo garante que não há justificação para negar a entrada no Porto de Lisboa de um navio que o Bloco de Esquerda (BE) diz estar envolvido no transporte de material militar norte-americano para Israel. O Executivo garante que “não é transportada qualquer carga militar, armamento ou explosivos” e que não há “nenhum contentor com destino a Israel”, mas Mariana Mortágua, coordenadora do BE, diz que “o problema não é a carga a bordo agora” e acusa o Governo de “olhar para o lado”.

“O problema não é a carga a bordo agora. É que vai seguir para Marrocos ao encontro de outro navio Maersk (já banido pelo governo de Espanha quando o esquema foi descoberto) do qual receberá a carga ilegal para entregar ao Estado genocida”, escreveu a coordenadora do Bloco de Esquerda na rede social X. “O Governo responde de novo com bugalhos e olha para o lado”, acusa num tweet seguinte. “Façam como Espanha e cumpram a resolução que aprovaram na ONU”, remata.

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Maria Mortágua refere-se ao facto de o governo espanhol ter decidido, esta semana, que dois navios Maersk não fariam escala em Espanha. Segundo o jornal El País, o executivo de Pedro Sánchez negou a escala em Algeciras de dois navios procedentes dos Estados Unidos suspeitos de transportar armamento para Israel, depois de, nessa manhã, o deputado da coligação de esquerda espanhola Sumar, Enrique Santiago, ter denunciado a suspeita sobre as embarcações.

Várias organizações realizaram este sábado à noite uma ação de protesto em frente ao Porto de Lisboa, para contestar a atracagem do navio em causa. “Este navio vai deslocar-se segunda-feira para Marrocos onde presumivelmente vai receber carga desse mesmo navio, carga com armamento com destino a Israel. Se isso acontecer, Portugal estará formalmente na rota do genocídio”, disse Fabian Figueiredo no protesto em Lisboa.

O líder parlamentar bloquista lembrou que Portugal votou na Organização das Nações Unidas uma resolução para travar o fornecimento de armas a Israel, o que “implica também impedir navios que estejam envolvido no comércio ilegal de armamento dos EUA para Israel”, disse horas antes, em declarações à RTP3. “Por isso é que o Estado espanhol impediu este mesmo navio de atracar. [Este navio] este envolvido em centenas de carregamento ilegais. Há um cadastro à volta deste navio”, defendeu.

A denúncia de que o navio em questão ia atracar em Lisboa partiu do Comité Nacional Palestiniano BDS (Boicote, Desinvestimento, Sanções), que afirma que o navio esteve envolvido, durante meses, em mais de 400 transportes ilegais de armas para Israel, através do uso do porto espanhol de Algeciras.

O Bloco de Esquerda alertou este sábado para o possível envolvimento do porta-contentores num “esquema ilegal de abastecimento de armas” a Israel questionando o Governo sobre a autorização dada para atracar. Confrontado com as acusações, o Ministério das Infraestruturas e Habitação emitiu um comunicado dizendo que não iria proibir a entrada do navio no porto de Lisboa. “Este navio prevê partir na manhã de manhã, 10 de novembro, sem efetuar qualquer carga. Em resposta a pedido de esclarecimento, foi-nos reconfirmado que não é transportada qualquer carga militar, armamento ou explosivos”, lê-se na declaração enviado às redações.

Segundo o ministério, o navio pediu autorização para atracar em Lisboa para descarregar 144 contentores, que incluem automóveis, roupa, alimentos, sementes, mobiliário, cerâmica, copos de vidro, champôs e sabões, quadros e pinturas, aparelhos elétricos, cabos de fibra ótica e diversos metais (lingotes de cobre, granalha de ferro, ligas à base de cobre-zinco). O executivo garantiu ainda que não há “nenhum contentor com destino a Israel” e que, entre a carga que transporta e que não será descarregada em Portugal, estão “três contentores com componentes de aviões (peças de asas) com destino aos EUA”.