A Organização Não Governamental (ONG) Media Institute of Southern Africa (MISA Moçambique) denunciou esta sexta-feira o desaparecimento de dois jornalistas sul-africanos e um moçambicano, que cobrem os protestos no país, desde quarta-feira, dia em que foram detidos. África do Sul já anunciou libertação dos dois jornalistas sul-africanos.
“Podemos confirmar que os dois jornalistas sul-africanos foram detidos em Moçambique. Depois da verificação das suas credenciais e dos documentos diplomáticos da nossa embaixada em Moçambique, as autoridades moçambicanas libertaram os jornalistas”, disse o governo sul-africano numa mensagem enviada aos órgãos de comunicação social.
“O MISA Moçambique tomou conhecimento, com bastante preocupação, do desaparecimento, na última quarta-feira, em Maputo, de dois jornalistas sul-africanos que se deslocaram ao país para a cobertura das manifestações pós-eleitorais”; lê-se numa nota enviada à Lusa, na qual se acrescenta que além desses “mais um jornalista moçambicano, que acompanhava os colegas sul-africanos, também está desaparecido”.
A ONG cita uma publicação de sexta-feira do Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD) que afirma que os jornalistas sul-africanos Bongani Sizibiba e Sbonelo Mkhasibe, que trabalham para o canal nigeriano de notícias NewsCentral Africa TV, estão desaparecidos há dois dias, tendo sido vistos pela última vez em Maputo.
“A News Central TV expressa a sua profunda preocupação pela detenção da nossa corresponde sul-africana, Bongani Siziba, e do nosso operador de câmara, Sbonelo Mkhasibe, que foram detidos quando cobriam os acontecimentos em Maputo”, escreve também a agência espanhola de notícias, a EFE, citando um comunicado da televisão nigeriana.
Manifestantes moçambicanos cortam acesso à principal fronteira com a África do Sul
No texto, a estação televisiva da Nigéria escreve que “apesar dos esforços, não foi possível estabelecer contacto direto desde a sua detenção” e acrescenta que está a “colaborar com as autoridades relevantes e os canais diplomáticos para garantir que sejam postos em liberdade imediatamente e de forma segura”.
No comunicado original que dá conta da detenção e do subsequente desaparecimento, o Centro para a Democracia e Direitos Humanos afirmou que os jornalistas “foram detidos e mantidos sem comunicações” desde quarta-feira.
“Todos os esforços para os contactar fracassaram; as autoridades não deram nenhuma explicação sobre a sua situação ou sobre os motivos pelos quais foram retidos sem contactos com o exterior”, escreve a ONG.
Esta iniciativa, denuncia a organização, “mostra a intenção de silenciar a cobertura internacional da atual crise em Moçambique”.
Pelo menos 11 pessoas morreram e outras 16 foram baleadas desde quarta-feira em três províncias moçambicanas nas manifestações de contestação de resultados das eleições, revelou esta sexta-feira a plataforma eleitoral Decide.
Moçambique está no decorrer desta sexta-feira no terceiro dia da quarta fase de paralisações de contestação dos resultados eleitorais convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que nega a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos.
Esta fase segue-se aos protestos nas ruas que paralisaram o país nos dias 21, 24 e 25 de outubro, e à paralisação geral de vários dias convocada também por Mondlane, com protestos nacionais e uma manifestação em Maputo, a 07 de novembro, que provocou o caos na capital, com barricadas, pneus em chamas e disparos de tiros e gás lacrimogéneo pela polícia, durante todo o dia, para dispersar.
Venâncio Mondlane anunciou que as manifestações de protesto são para manter até que seja reposta a verdade eleitoral.
Pelo menos 11 mortos e 16 baleados em manifestações desde quarta-feira em Moçambique