O coronel Vasco Lourenço acusou esta quarta-feira a direita de estar a distorcer a história para esconder que foi a “principal derrotada” no dia 25 de Novembro de 1975 e de pretender comemorar a efeméride porque “nunca aceitou o 25 de Abril”.

“Quem quer comemorar desta maneira o 25 de Novembro, atua como se, no 25 de Novembro, a única força vencida fossem as esquerdas. Eles, que estão a querer comemorar, foram os principais derrotados“, afirmou, em declarações à agência Lusa, o também presidente da Associação 25 de Abril.

Declarado comandante da Região Militar de Lisboa (RML) na madrugada do dia 25 de Novembro de 1975, Vasco Lourenço recordou que, nesse dia, as “forças ditas à esquerda são derrotadas imediatamente, mas perceberam que havia que agarrar-se ao essencial e recuaram“.

“E são as forças mais à direita que tentam um novo 28 de Maio. E tentaram forçar, junto de mim e do Eanes (…) atos de bombardeamento, por exemplo do RALIS, do Forte de Almada, também da própria força em Tancos — isto já no dia 27 — o que provocaria uma guerra civil”, frisou.

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Salientando que foram as forças de direita que, nesse dia, lhe deram “mais trabalho”, Vasco Lourenço defendeu que, ao promover as comemorações do 25 de Novembro de 1975, a direita está a distorcer e a mascarar “o que se passou e os que foram derrotados na altura”.

“Não pactuo com esta distorção, com este mascarar da evocação do 25 de Novembro”, afirmou.

Declarando-se como “homem do 25 de Abril e do 25 de Novembro”, Vasco Lourenço considerou que a efeméride que se prepara para ser comemorada na próxima segunda-feira no parlamento é importante porque permitiu que Abril “reentrasse nos carris”, mas rejeitou que tenha a importância do dia da Revolução dos Cravos.

Para Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril — que já disse que não vai participar na sessão solene no parlamento —, o 25 de Novembro foi importante porque “permitiu que o programa do MFA pudesse ser cumprido no seu essencial” e que a Assembleia Constituinte desempenhasse o seu papel e aprovasse a Constituição.

“A grande vencedora do 25 de Novembro é a Constituição da República. Agora, não aceito é que tentem mascarar o que se passou e que aqueles que foram derrotados na altura — e que, depois, inclusivamente, são a única força que vota contra a Constituição — queiram agora vir comemorar um 25 de Novembro deles que, enfim, é o 25 de Novembro dos derrotados”, afirmou, numa alusão ao voto contra do CDS-PP à Constituição da República de 1976.

Vasco Lourenço disse que “ninguém quer esquecer” o 25 de Novembro, salientando que, no âmbito das comemorações do 50.º aniversário do 25 de Abril, também se devem assinalar “os percalços que houve” durante a Revolução.

“Mas a que propósito é que estão a querer comemorar os 49 anos do 25 de Novembro e não comemoram os 50 anos do 28 de Setembro ou do 11 de Março?”, pergunta.

Questionado se considera, como invocam o PCP, BE e Livre, que a comemoração do 25 de Novembro visa desvalorizar a importância histórica do 25 de Abril, Vasco Lourenço respondeu que concorda que essa é uma das intenções da direita, “porque eles nunca aceitaram o 25 de Abril como data libertadora e democracia plena”.

“Tentaram sempre controlar a democracia com a chamada democracia musculada ou com o novo 28 de Maio. E, portanto, continuam a tentar fazer isso, numa atitude que, enfim, depois passa por criar heróis fictícios do que se passou na altura do 25 de Novembro”, referiu, minimizando o papel desempenhado pelo general António Ramalho Eanes naquele dia.

“Se eu encarar o que se passou no 25 de Novembro como uma prova desportiva onde são atribuídas medalhas, eu daria a medalha de ouro ao Presidente da República, general Costa Gomes, daria a medalha de prata a mim próprio e daria a medalha de bronze ao Ramalho Eanes“, disse, salientando que, naquele dia, Ramalho Eanes era seu adjunto.