A economia portuguesa tem tido neste ano um comportamento “hesitante“, sobretudo a partir do segundo trimestre, com “sucessivos períodos de desaceleração” seguidos por alguns momentos de recuperação, salienta Mário Centeno. Apesar de ainda considerar que a economia nacional está num “momento muito positivo“, sobretudo contrastando com uma “Europa estagnada“, o governador do Banco de Portugal diz que se verificam possíveis “primeiros sinais de cautela“.
No discurso de abertura de uma conferência organizada em Lisboa pelo Jornal de Negócios, para discutir o setor bancário, Mário Centeno salientou que “a economia portuguesa vive um momento muito positivo, sobretudo olhando para o mercado de trabalho: a massa salarial paga pelo setor privado cresceu 85% entre 2015 e 2014, um número que poucos poderiam antecipar”.
Porém, embora seja “um momento para estarmos orgulhosos”, é necessário “percebermos que há desafios“. “Temos de saber gerir a boa situação que a economia portuguesa hoje nos coloca”, salientou Mário Centeno, acrescentando que os indicadores diários de atividade económica medidos pelo Banco de Portugal estão a sinalizar alguns “primeiros sinais de cautela“.
Depois de um primeiro trimestre com resultados sustentados e positivos, que se traduziu numa subida do Produto Interno Bruto de 0,6% em cadeia (face ao quarto trimestre de 2023), a partir do segundo trimestre temos tido sucessivos períodos de desaceleração. A atividade económica desde o final do primeiro trimestre tem estado hesitante, o que que torna mais difícil fazer uma previsão sobre a evolução da atividade económica”, afirmou Centeno.
O governador do Banco de Portugal diz que “os riscos acumulam-se em baixa, desde os riscos geopolíticos – a guerra está na Europa ainda – e o resultado das eleições americanas e o seu resultado ao nível das taxas alfandegárias que podem ser lançadas no comércio internacional”. Estas “não são boas notícias para uma economia aberta como a Europa”, diz Centeno, lembrando que “a Europa representa três quartos do nosso comércio externo”.
A procura externa vinda da zona euro caiu em 2023 e está estagnada em 2024. Ou seja, neste momento é inferior a 2022. E essa situação gera pressão sobre as nossas empresas, que tem sido atenuada pelo dinamismo dos mercados extra-zona euro e da situação interna em Portugal, que é positiva”, afirmou o governador do Banco de Portugal.
Mário Centeno salientou, ainda, a evolução da poupança, em Portugal, que está em níveis “historicamente elevados” e que atingiu níveis “quase tão elevados como os que registámos no período da Covid-19“. Embora seja um desenvolvimento “bem-vindo”, a evolução da poupança é, para o governador do Banco de Portugal, espelho de um “fenómeno de precaução que hoje está presente” na economia.
Será “decisivo”, avisou Centeno, estimular que essa poupança se transforme em investimento, que tal como na Europa está em Portugal em “níveis baixíssimos“. Com França a juntar-se à Alemanha no coração das preocupações económicas na zona euro, Centeno diz que “a Europa é uma economia estagnada, que não cresce, apesar de criar muitos empregos”.
“A Europa criou 11 milhões de empregos em quatro ou cinco anos. Mas a economia não cresce”, afirmou Centeno, perguntando: “Por quanto mais tempo poderão as empresas europeias sustentar um crescimento salarial desejável para recuperarmos das perdas salariais que houve na Europa (mas não em Portugal) e, ao mesmo tempo, manter o nível do emprego?”