O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu esta terça-feira “mais vozes e ações mais corajosas” dos países membros da Aliança das Civilizações, “à medida que a maré de ódio e intolerância se torna num tsunami”.

Numa intervenção no Fórum da Aliança das Civilizações, no concelho de Cascais, António Guterres saudou a adesão crescente à organização criada há duas décadas e que conta atualmente com 160 membros, mas pediu “mais vozes” a favor do diálogo intercultural e aos países para “irem mais fundo” no seu apoio financeiro.

“O vosso apoio e amizade são uma tábua de salvação para a missão vital da Aliança. Juntos, vamos garantir que este esforço essencial seja garantido e cresça nesta altura tão crítica”, afirmou o antigo primeiro-ministro português numa intervenção muito aplaudida pelos participantes.

Para o secretário-geral da ONU, “uma aliança forte é mais crucial do que nunca”, numa fase em que se estão “a viver tempos turbulentos e os direitos humanos estão a ser atacados”, lamentando igualmente as ameaças contra as minorias, os migrantes e as comunidades religiosas como “sintomas que refletem a incapacidade de união em prol do bem comum”.

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Agradecendo a Portugal por acolher esta edição do Fórum da Aliança das Civilizações, António Guterres disse que, durante vinte anos, a organização “ajudou a construir pontes de compreensão e inclusão”, através da criação de plataformas para a governação, sociedade civil, jovens, líderes religiosos, media e setor privado.

Este “apoio crítico” é essencial para “ajudar a combater as condições conducentes ao extremismo violento, combater a discriminação, promover o respeito mútuo, reforçar a coesão social e ajudar a construir as bases para a paz”, considerou, referindo-se em concreto ao papel do Centro de Inovação Intercultural, que trabalha com jovens líderes de 81 organizações em mais de 115 países.

O antigo governante português apontou também o Fundo de Solidariedade à Juventude e a iniciativa Jovens Construtores da Paz, congratulando-se pelo esforço dos membros da Aliança ao “realçar o papel vital das mulheres e dos jovens”.

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O secretário-geral das Nações citou exemplos de projetos da participação de políticas públicas para o setor privado e de justiça climática na Colômbia e de construção de paz na Sérvia e na Bósnia, que recordam que, “quando as mulheres e os jovens têm um lugar à mesa, vivem com coragem, sabedoria e compromisso com as gerações futuras”.

Anteriormente, na sessão de abertura do Fórum da Aliança das Civilizações, o secretário-geral da ONU avisou que a continuação de vários conflitos no mundo está a levar à “erosão da confiança” no sistema multilateral e nas sociedades.

Precisamos de paz, acima de tudo, de paz. Paz em Gaza, com um cessar-fogo imediato, a libertação imediata e incondicional de todos os reféns, a entrega eficaz e sem obstáculos de ajuda humanitária e o inicio de um processo irreversível em rumo à solução dos dois Estados”, apelou.

De igual modo, pediu uma solução pacífica e imediata para os conflitos em curso no Líbano e no Sudão e também na Ucrânia, “em conformidade com a carta das Nações Unidas, o direito internacional e com as resoluções da Assembleia Geral”.

O Centro de Congressos do Estoril, no concelho de Cascais, acolhe até quarta-feira o 10.º Fórum Global da Aliança das Civilizações das Nações Unidas (UNAOC).

Visando melhorar a compreensão e as relações de cooperação entre nações e povos de diferentes culturas e religiões, a Aliança das Civilizações foi criada em 2005, por iniciativa dos Governos de Espanha e Turquia, com o patrocínio das Nações Unidas.

Em abril de 2007, o antigo Presidente da República português Jorge Sampaio foi designado como o primeiro Alto Representante para a Aliança, cargo que deixaria em fevereiro de 2013. O antigo chefe de Estado português (1996-2006), que morreu em 2021, foi homenageado durante o evento em Cascais.

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