O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, recuou esta quinta-feira na proposta de aumentar os impostos sobre a eletricidade, procurando persuadir a União Nacional (RN, sigla em francês) a não derrubar o seu Governo minoritário de centro-direita, o que desencadearia uma “tempestade” económica e financeira.
“Decidi não aumentar os impostos sobre a eletricidade no projeto de lei de finanças para 2025”, o que “permitirá baixar os preços da eletricidade em 14%, ultrapassando assim a redução de 9% inicialmente prevista”, declarou o primeiro-ministro numa entrevista ao diário francês Le Figaro.
O primeiro-ministro sublinhou que se trata de um pedido praticamente unânime da classe política. Os deputados da União Nacional tinham reiterado esta exigência num comunicado de imprensa, imediatamente antes do anúncio, e insistiram noutras reivindicações, incluindo a indexação das pensões a 1 de janeiro “para todos os pensionistas”.
O atual líder da RN, Jordan Bardella, reagiu rapidamente ao anúncio do primeiro-ministro, afirmando que a redução do imposto sobre a eletricidade era “uma vitória” para o partido, mas acrescentou que “as linhas vermelhas permanecem“, nomeadamente no que se refere à redução do reembolso dos medicamentos em 2025.
“Os franceses que trabalham ou trabalharam devem ser ouvidos: deve haver uma moratória sobre qualquer nova criação ou aumento de impostos”, afirmou o líder do RN na rede social X.
Le Rassemblement National vient de remporter une victoire en obtenant de Michel Barnier l’annulation de la taxe de 3 milliards d'euros sur l’électricité. Grâce à notre action déterminée, les prix de l’énergie n'augmenteraient pas pour les Français en 2025, si cette promesse est…
— Jordan Bardella (@J_Bardella) November 28, 2024
Há pouco mais de dois meses no poder, o Governo arrisca a sua sobrevivência perante a moção de censura que o RN ameaça votar com a esquerda, possivelmente já na próxima semana, sobre o orçamento da Segurança Social, caso não consiga cumprir os compromissos de melhorar o poder de compra dos franceses, dos quais o partido de extrema-direita se apresenta como garante.
O RN está também a apoiar a esquerda na sua tentativa de revogar esta quinta-feira a criticada reforma das pensões.
O ministro da Economia e das Finanças, Antoine Armand, reafirmou a sua determinação em reequilibrar as finanças públicas, numa altura em que a segunda maior economia da zona euro enfrenta críticas de Bruxelas devido ao seu défice excessivo, ao mesmo tempo que aguarda uma avaliação sobre a sua dívida por parte da agência de classificação S&P, na sexta-feira à noite.
O executivo quer reduzir o défice público de 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 para 5% em 2025, e depois para um valor inferior ao limite máximo europeu de 3% em 2029, reduzindo lentamente a sua dívida a sua dívida (112% do PIB no final de junho, ou seja, quase 3230 mil milhões de euros).
No entanto, caso o Governo caia, o orçamento não será adotado e França caminhará diretamente para o desastre, afirmam os membros do Governo de centro-direita.
“O que eu digo aos partidos políticos que não têm nada em comum, quer estejam à direita ou à esquerda do hemiciclo”, é que “o facto de não concordarmos com uma política não significa que estejamos a colocar um país no vermelho”, disse Antoine Armand no canal francês BFMTV/RMC.
“Corremos o risco de cair como um avião a grande altitude que, a dada altura, corre o risco de perder o controlo. Mas há um caminho: esse caminho é este orçamento”, acrescentou, apelando ao Partido Socialista francês em particular para que “assuma as suas responsabilidades”.
A possibilidade de uma França sem Governo já provocou um choque nos mercados com a taxa de endividamento da França a ultrapassar brevemente, pela primeira vez, a da Grécia, um país que esteve perto da falência em 2008.
Por seu lado, o antigo presidente socialista François Hollande rejeitou os apelos da esquerda radical, da extrema-direita e de alguns políticos de direita para que o atual Presidente francês, Emmanuel Macron, se demitisse em caso de moção de censura.
“Realizar uma eleição presidencial no estado em que o mundo se encontra, na situação em que o país se encontra, com os mercados a observar-nos? Acham que é a solução correta? Não, acho que não”, afirmou François Hollande.