A estreia de Ruben Amorim pelo Manchester United, em casa do Ipswich Town, não foi propriamente o ouro sobre azul que o treinador português terá equacionado quando sonhou com os primeiros dias em Inglaterra. A semana mais aguardada depressa se tornou uma semana complexa — com direito a interrupções de Ed Sheeran, a ideia de que existem demasiados compromissos com a comunicação social ou até a certeza de que nenhum adepto responsabilizava o técnico pelo empate de domingo.

Esta quinta-feira, porém, mudava a competição. Na estreia em Old Trafford, que só tinha pisado para gravar o vídeo de apresentação, Ruben Amorim recebia o Bodø/Glimt na 5.ª jornada da Liga Europa e precisava de um resultado positivo para garantir que o Manchester United permanecia na zona de apuramento para o playoff e ainda podia sonhar com uma qualificação direta para a fase seguinte.

“É difícil comparar com o que aconteceu no Sporting, é mais complicado.” Amorim diz que jogadores “vão sofrer”, mas que vai “tentar ajudar”

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Na segunda conferência de imprensa como treinador dos red devils, ao lado de Bruno Fernandes, o treinador português concordou com a ideia de que a equipa vai precisar de tempo para se adaptar ao novo sistema tático — mas voltou a sublinhar a intenção de não abdicar dos próprios planos. “É difícil comparar ao que aconteceu no Sporting. Aqui é diferente, é mais difícil. Mas tenho jogadores com mais experiência. São jogadores internacionais, que só precisam de confiança. Não sei como responder a essa pergunta agora. Mas sei que, com a quantidade de jogos, vai ser difícil para mim e ainda mais difícil para eles. Estão no campo e vão sofrer e eu vou tentar ajudar”, disse Ruben Amorim.

Neste contexto, esta quinta-feira, o treinador português fazia várias alterações face ao onze inicial que lançou na estreia contra o Ipswich e colocava Lisandro Martínez, que acabou de voltar de lesão, no trio de centrais. Antony e Malacia surgiam abertos nas alas, naquele que era o primeiro jogo do neerlandês em mais de 500 dias, e Mason Mount e Garnacho apoiavam Højlund, com Bruno Fernandes e Ugarte no meio-campo. Do outro lado, num Bodø/Glimt que tinha mais um ponto do que o Manchester United, Kjetil Knutsen tinha Jens Petter Hauge, Helmersen e Zinckernagel no ataque.

Ruben Amorim entrou em Old Trafford sob uma chuva de aplausos, retribuindo com vários agradecimentos às bancadas, e até teve direito a uma enorme tarja em português onde se lia “bem-vindo a casa, Ruben”. E o início do jogo não poderia ter sido mais parecido ao de domingo, contra o Ipswich: ainda dentro do primeiro minuto, Højlund aproveitou um erro de comunicação entre a defesa dos noruegueses e ganhou a bola ao próprio guarda-redes, permitindo que Garnacho encostasse para a baliza deserta (1′).

A vantagem do Manchester United, contudo, não durou 20 minutos. Num lance muito rápido do Bodø/Glimt, Evjen recebeu de Brunstad Fet completamente sozinho e atirou de primeira de fora de área, sem hipótese para André Onana e empatando o jogo (19′). Menos de cinco minutos depois, surgiu a reviravolta: futebol direto dos noruegueses, com Zinckernagel a receber nas costas de Malacia e a atirar rasteiro para dar a volta ao marcador (23′).

Antes do intervalo, porém, os red devils ainda conseguiram empatar. Mazraoui cruzou a partir da direita e Højlund, com uma receção perfeita e um bom remate, bateu Nikita Khaikin para levar tudo igualado para o final da primeira parte (45′). Ruben Amorim mexeu logo no arranque do segundo tempo e lançou Diogo Dalot, retirando um claramente limitado Malacia para apostar no português na ala esquerda.

O Manchester United poderia ter marcado logo nos primeiros instantes da segunda parte, com Mason Mount a rematar à trave (48′), mas a verdade é que não precisou de muito mais tempo. Num belo lance coletivo que começou em Antony, Ugarte apareceu descaído na direita a cruzar para a área, onde Højlund surgiu a desviar de primeira para bisar e recuperar a vantagem inglesa (50′) — proporcionando a primeira grande explosão emotiva de Ruben Amorim em Old Trafford.

O treinador português voltou a mexer à passagem da hora de jogo, trocando Rashford, Amad Diallo e Luke Shaw por Mount, Antony e Lisandro Martínez, e esgotou as substituições já dentro da última meia-hora ao tirar para De Ligt para colocar Casemiro, que se estreou no trio de centrais. Ou seja, a dada altura, o Manchester United tinha três jogadores adaptados no setor mais recuado, dois laterais e um médio, sendo que o brasileiro era mesmo o central pelo meio.

Os red devils podiam ter feito xeque-mate em diversas ocasiões, com Garnacho a atirar por cima (76′) e Rashford a rematar ao lado (80′), Onana fez uma defesa enorme a um livre direto nos descontos (90+2′), mas o resultado já não voltou a mexer. O Manchester United venceu o Bodø/Glimt e somou o primeiro triunfo com Ruben Amorim ao leme, mantendo-se na zona de apuramento para o playoff da Liga Europa com nove pontos em cinco jornadas. E Højlund, com dois golos, garantiu que esta foi a noite em que o treinador português se apaixonou por outro nórdico depois de Gyökeres.