Na manhã em que as grávidas da Região de Lisboa e Vale do Tejo, incluindo o Hospital Distrital de Leiria, passam a ter de ligar para a Linha SNS Grávida antes de recorrerem à urgência hospitalar de Obstetrícia e Ginecologia, o ambiente à porta da Maternidade Alfredo da Costa, no centro de Lisboa, era calmo, sem quaisquer filas de utentes à porta da unidade — até às 9h tinha sido feito um parto e a sala de espera estava “vazia”.
Mas os avisos na porta alertam para as alterações desta segunda-feira, explicando quais as situações em que as mulheres não têm de passar pela triagem telefónica, dada a obrigatoriedade de serem avaliadas no hospital. Durante a gravidez, os sinais que obrigam a uma avaliação na urgência de Obstetrícia e Ginecologia são, no caso das grávidas: perda de sangue pela vagina, perda de líquido transparente, dor contínua e forte no fundo da barriga, dor ou sensação de contratura no fundo da barriga, dor contínua e forte na região lombar, dor de cabeça contínua e forte, dor contínua e forte na região do estômago, subida marcada da pressão arterial, alterações da visão, vómitos muito frequentes, febre, redução dos movimentos, comichão em diversas partes do corpo, convulsões generalizadas, queda ou acidente com possível traumatismo da barriga, exteriorização do feto, partes fetais, placenta ou cordão umbilical. Já nas primeiras semanas após o parto, as situações que obrigam a uma avaliação na urgência são: perda de sangue vermelho vivo pela vagina, dor contínua e forte ao fundo da barriga e nos genitais, febre, dor mamária contínua, complicações da cicatriz de cesariana ou da cicatriz perineal.
“Este novo modelo das urgências de Obstetrícia e Ginecologia arranca assim em fase piloto com as ULS [Unidades Locais de Saúde] da Região de Lisboa e Vale do Tejo e de Leiria e será reavaliada dentro de três meses”, adianta o Ministério da Saúde, em comunicado. O projeto-piloto poderá abranger ainda outros hospitais de diferentes regiões que manifestem interesse em participar, desde que preencham determinados requisitos.
Pré-triagem para grávidas. Hospitais de Lisboa já estão com avisos à porta
“As ULS que queiram aderir voluntariamente podem fazê-lo, o que já ocorreu com as de Gaia/Espinho [Hospital de Gaia], Alto Alentejo [Hospital de Portalegre] e Santo António [Centro Materno Infantil do Norte]. Ao final de três meses haverá lugar a uma avaliação do impacto, para que o plano possa ser estendido a todo o país”, indica a tutela.
No caso do Hospital de Gaia, por exemplo, Rui Guimarães, presidente do conselho de administração do Hospital de Gaia, fez um balanço do início da manhã desta segunda-feira: foram atendidas duas grávidas — um caso urgente e outro caso não urgente. Ainda assim, explicou Rui Guimarães à RTP, a mulher relacionado com o caso não urgente não tinha ligado para a Linha SNS Grávida, recusou ligar quando chegou a esta unidade hospitalar e, depois de ser vista por um enfermeiro na fase de triagem, recebeu uma pulseira verde — que significa caso não urgente. “É preciso manter as portas bem abertas” para os casos urgentes, sublinhou Rui Guimarães. No entanto, acrescentou também, “muitos dos casos não são desses [graves] — são pessoas que estão enjoadas, que têm uma infeção urinária”.
No comunicado, o Ministério da Saúde refere ainda que, a partir de janeiro, as ULS da Península de Setúbal (Almada-Seixal, Arco Ribeirinho e Setúbal) vão também aderir.
O restante calendário ainda está a ser definido e será “oportunamente divulgado”, segundo fonte da tutela.
Só serão encaminhadas situações urgentes
Numa portaria publicada na sexta-feira em Diário da República, assinada pela ministra da Saúde, Ana Paula Martins, é informado que serão colados cartazes à porta das urgências de Obstetrícia e Ginecologia a informar desta necessidade de pré-triagem telefónica, indicando que apenas serão atendidas situações urgentes e exemplos concretos desses casos que podem ocorrer durante a gravidez, nas primeiras seis semanas após o parto ou em qualquer altura da vida.
A pré-triagem telefónica deverá ser feita preferencialmente por enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica, indica a portaria, acrescentando que os hospitais usarão os mesmos algoritmos da Linha SNS Grávida/Ginecologia na triagem presencial da urgência, que prevalecerá sobre a triagem telefónica.
Os hospitais poderão adicionalmente criar uma pré-triagem telefónica própria, em articulação direta com a linha SNS Grávida/Ginecologia, acrescenta.
Mas há exceções para situações com forte suspeita de poderem representar risco iminente de vida, designadamente a perda de consciência, convulsões, dificuldade respiratória, hemorragia abundante, traumatismo grave ou dores muito intensas.
O Governo sublinha a necessidade de adotar medidas que promovam “uma forma racional” de canalizar a procura dos cuidados de saúde para os locais mais apropriados, retirando as situações não urgentes das urgências de Obstetrícia e Ginecologia.
A portaria estabelece ainda condições para hospitais que possam querer juntar-se a este projeto-piloto, como, por exemplo, terem consulta aberta hospitalar para situações obstétricas e ginecológicas em horário adaptável à procura, mas em funcionamento todos os dias úteis, assim como criarem um mecanismo para agendamento célere na consulta aberta hospitalar, nas consultas abertas nos Cuidados de Saúde Primários e em consultas regulares no hospital.
Esta pré-triagem telefónica já estava prevista no Plano de Reorganização para as Urgências de Obstetrícia e Ginecologia e de Pediatria apresentado em outubro, depois de no verão as urgências de Obstetrícia/Ginecologia e de Pediatria terem voltado a registar dificuldades de funcionamento, devido à falta de especialistas para preencher as escalas, o que levou ao encerramento parcial ou a constrangimentos nos serviços.