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De "Rosa do Deserto" a odiada. Quem é Asma al-Assad, a bancária inglesa amante do luxo e mulher do ex-presidente da Síria?

Dez anos separam Asma e Bashar al-Assad, que casaram em 2000 numa cerimónia secreta. Com dupla nacionalidade, bancária era vista como esperança para a Síria, mas acabou por tomar o partido do marido.

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Casal al-Assad em 2010

AFP via Getty Images

Casal al-Assad em 2010

AFP via Getty Images

Chegou a ser apelidada “Rosa do Deserto”, mas depressa se tornou numa das pessoas mais indesejadas da Síria (e do mundo) — levando a Vogue norte-americana a apagar um perfil que retratava a antiga primeira-dama como “refrescante” e “magnética”. Nascida no Reino Unido, Asma al-Assad representava esperança para uma Síria mais aberta e evoluída, mas quando a guerra começou, colocou-se ao lado do marido e focou-se em gastar milhares em objetos de luxo. Houve até quem lhe perguntasse: “O que te aconteceu, Asma?”.

Asma al-Akharas e Bashar al-Assad chegaram a conviver quando eram mais novos, uma vez que os seus pais — um cardiologista e uma diplomata — tinham acesso ao palácio presidencial, onde vivia o então Presidente do país, Hafez al-Assad. Mas foi apenas anos mais tarde, em 1992, que ambos se aproximaram. Asma e Bashar estavam ambos em Londres: ela tinha nascido na capital britânica e nunca tinha deixado o país, enquanto ele procurava especializar-se em Oftalmologia (após licenciar-se em Medicina).

Nascida em 1975, Asma al-Akharas frequentou uma escola anglicana e formou-se depois em Ciência Informática e Literatura francesa no renomeado King’s College. Iniciou a sua carreira no alemão Deutsche Bank, como gestora de fundos, e mais tarde rumou para a JP Morgan, em 1998. Teria um futuro promissor no mundo da Banca, mas optou por ceder em nome do amor. À medida que progredia profissionalmente, a sua relação com Bashar al-Assad crescia e em dezembro de 2000, numa cerimónia secreta, casaram-se. Da relação surgiram três filhos (atualmente com idades entre os 19 e 23 anos). Esta segunda-feira foi avançado que a primeira-dama tinha pedido o divórcio ao agora deposto presidente, informação entretanto desmentida.

Kremlin desmente rumores de que mulher de Bashar al-Assad pediu o divórcio e quer regressar ao Reino Unido

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Com 25 anos, uma educação inglesa e uma presença elegante, esperava-se que Asma al-Assad contribuísse para uma Síria mais progressista e evoluída. E houve mesmo quem considerasse que se tratava de uma estratégia para apresentar uma imagem renovada e moderna do país, escrevia a BBC em 2012. O casal passou a ser visto como reformador, com o povo a acreditar que haveria uma mudança no regime face à realidade vivida anteriormente.

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A mulher de Bashar al-Assad, qual primeira-dama europeia, dedicou-se ao apoio e defesa das mulheres e crianças e jovens. E chegou a dizer, em entrevista, que não podia “falar sobre dar poder aos jovens, encorajá-los a serem criativos e a assumirem responsabilidades” se não fizesse o mesmo com os seus próprios filhos, detalha o jornal Público. Investiu ainda mais na sua vertente social quando, em 2005, criou a organização não-governamental Massar, destinada a promover a atividade política jovem.

“Será que a princesa Diana da Síria se tornou na sua Maria Antonieta?”

Em fevereiro de 2011, a Vogue norte-americana publicou um perfil de Asma al-Assad. Era apelidada de “Rosa do Deserto” e descrita como “a mais fresca e magnética das primeiras-damas”, jovem e chique. Anos antes, em 2008, já a revista Elle a classificava como “a primeira-dama mais bem vestida do mundo” e a Paris-Match dava-lhe o título de “Diana do Oriente”.

A admiração pela primeira-dama síria era grande — tanto a nível social como a nível estético — mas tudo mudou drasticamente com o início da guerra civil na Síria, levando a que saísse de cena. Foi nos primeiros meses de 2011 que se iniciaram vários protestos na Síria, com rebeldes sírios a lutar para afastar Bashar al-Assad do poder.

O artigo foi retirado do site, mas algumas imagens da publicação têm circulado nas redes sociais

Em março desse ano, 15 crianças de Deraa, no sul da Síria, escreveram nas paredes da escola: “O povo quer a queda do regime”. Em resposta, o governo do país prendeu-os e torturou-os, gerando indignação na população, que saiu à rua em protesto.

“O que é que a esposa de Assad, uma mulher inteligente e educada criada no liberalismo inglês, pensa das malvadezas perpetradas todos os dias pela Síria? Será que a princesa Diana da Síria se tornou na sua Maria Antonieta?”, questionou o diário britânico The Times à época.

Em resposta, num email enviado pela então primeira-dama lia-se: “O Presidente é o Presidente da Síria, não uma fação de sírios, e a Primeira Dama apoia-o nesse papel. Atualmente, [a primeira-dama] está igualmente envolvida em colmatar as lacunas e encorajar o diálogo. Ela ouve e conforta as famílias das vítimas da violência.”

A reação de Asma al-Assad, que ficou do lado do marido, gerou indignação. E levou a Vogue a retirar o artigo inicialmente publicado em virtude não só desta declaração, como de toda a situação de guerra que o país atravessava e que a primeira-dama parecia apoiar. “Depois da nossa entrevista, à medida que os terríveis acontecimentos do último ano e meio se desenrolavam na Síria, tornou-se claro que as prioridades e os valores [do regime de Assad] estavam completamente em desacordo com os da Vogue“, disse Anna Wintour, editora-chefe da revista, citada pelo New York Post.

Tudo se agravou ainda mais quando o The Guardian, ainda em 2012, divulgou emails privados trocados entre Bashar al-Assad e a sua mulher em que era revelado que Asma al-Assad tinha gasto milhares de dólares em bens de luxo, nomeadamente sapatos, jóias, mobílias personalizadas e pinturas. Só em mobílias inglesas terá gasto cerca de 500 mil dólares (cerca de 480 mil euros). Tudo isto ao mesmo tempo que milhares de pessoas morriam e o país continuava em guerra.

“O que te aconteceu, Asma?”

O crescimento da revolta para com a postura que Asma al-Assad estava a assumir levou a comunidade internacional a reagir, sendo lançada uma petição (que contou com o apoio das mulheres dos embaixadores britânico e alemão junto da Organização das Nações Unidas). Neste âmbito, foi lançado um vídeo onde apelavam à primeira-dama síria para que agisse e contribuísse para o fim da guerra.

O vídeo, com a duração de 4 minutos, foi publicado no Youtube e apresentava um contraste de realidades: surgiam imagens de Asma al-Assad no quotidiano e imagens de mulheres e crianças feridas e mortas. Ao mesmo tempo, ouviam-se frases como “algumas mulheres preocupam-se com o estilo… e algumas cuidam do seu povo”. Ouve-se depois parte de um discurso feito por Asma al-Assad em que a primeira-dama diz que “todos devemos poder viver em paz, estabilidade e com dignidade”, sendo depois lançada a questão: “O que te aconteceu, Asma?”

Desde 2012, pouco tem sido escrito sobre Asma al-Assad. Apenas em 2018 veio a público que teria sido diagnosticada com cancro da mama, estando a fazer tratamentos. Na rede social X foi, inclusivamente, divulgada uma fotografia do casal durante uma das sessões de tratamento. Um ano depois Asma al-Assad aestava curada. Mas, em maio deste ano foi anunciado que a primeira-dama tinha sido diagnosticada com leucemia, tendo iniciado, uma vez mais, tratamentos, de acordo com a BBC.

18 apartamentos e 250 milhões. Os laços com Moscovo

Esta segunda-feira foi avançado por meios de comunicação turcos e árabes que Asma al-Assad teria pedido o divórcio a Bashar al-Assad e tinha intenções de regressar ao Reino Unido. No entanto, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, já desmentiu a informação, assegurando que as informações “não correspondem à realidade” e que Bashar al-Assad e a mulher não estão proibidos de sair de Moscovo (onde estão exilados) e nem têm bens congelados.

Mas onde começa a ligação de Asma al-Assad com a Rússia? Tal como recorda a BBC, o país liderado por Vladimir Putin foi um forte aliado de Bashar al-Assad durante a guerra civil na Síria. E que apenas não terá dado apoio a este país após o ataque do final de novembro (no qual Bashar al-Assad foi deposto) porque estava com todos os olhos voltados para a Ucrânia.

Como vai ser o asilo de luxo de Bashar Al-Assad em Moscovo, uma cidade que lhe é familiar

Contudo, pouco tempo depois de os rebeldes sírios terem afastado Bashar al-Assad do poder, a imprensa russa noticiava que a família do até então presidente sírio estava já em Moscovo, tendo sido concedido asilo por “razões humanitárias”.

Nos últimos anos, a família de Bashar al-Assad terá comprado pelo menos 18 apartamentos de luxo em Moscovo, de acordo com o Financial Times. O mesmo jornal escreve que o presidente terá transportado por via aérea cerca de 250 milhões de dólares em dinheiro para a capital russa entre 2018 e 2019. Além disto, o próprio filho mais velho do casal Al-Assad, Hafez (cujo nome é igual ao do anterior presidente), tem estado a viver em Moscovo, tendo recentemente defendido a sua tese de doutoramento, de acordo com a agência AFP.

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