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"Viveu para servir os outros até ao fim". Morreu, aos 100 anos, o ex-Presidente dos EUA Jimmy Carter

Foi o 39.° Presidente dos EUA e recebeu o Prémio Nobel da Paz pelos "esforços infatigáveis" pela "resolução pacífica dos conflitos internacionais". Líderes políticos salientam "clareza moral".

As cerimónias fúnebres vão decorrer durante os próximos oito dias
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As cerimónias fúnebres vão decorrer durante os próximos oito dias

Getty Images

As cerimónias fúnebres vão decorrer durante os próximos oito dias

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Em atualização

Morreu este domingo, aos 100 anos, o ex-Presidente dos EUA Jimmy Carter, avançou o Washington Post e confirmou o Centro Carter, uma organização sem fins lucrativos fundada em 1982 pelo antigo Chefe de Estado.

Jimmy Carter foi o 39.° Presidente dos Estados Unidos. Recebeu, em 2002, o Prémio Nobel da Paz. Tinha completado 100 anos a 1 de outubro. A causa da morte não foi revelada. Em fevereiro de 2023, o Centro Carter anunciava em comunicado que Jimmy Carter iria pôr fim aos tratamentos pelos quais tinha passado nos anos anteriores, depois de lhe ter sido diagnosticada uma forma agressiva de cancro da pele, que se alastrou ao fígado e ao cérebro. Estava, desde então, a receber cuidados paliativos.

Jimmy Carter morreu em casa, em Plains, na Geórgia. A Casa Branca já colocou a bandeira a meia-haste.

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A Casa Branca já colocou a bandeira a meia-haste

Veterano da Marinha dos EUA e governador da Geórgia entre 1971 e 1975, foi o único democrata eleito Presidente entre os mandatos de Lyndon B. Johnson e Bill Clinton. Como 39.º Presidente, governou com maiorias democratas no Congresso. Mas quatro anos após a tomada de posse, perdeu a reeleição contra Ronald Reagan, numa altura de elevada inflação e desemprego e uma economia a estagnar.

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Em 2002, aos 78 anos, foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz, uma atribuição justificada pelas “décadas de esforços infatigáveis a favor de uma resolução pacífica dos conflitos internacionais, do progresso da democracia e dos direitos do homem e da promoção do desenvolvimento económico e social”.

“Jimmy Carter não ficará provavelmente na História americana como o Presidente mais eficaz, mas é certamente o melhor ex-Presidente que o país jamais teve”, afirmou, naquele dia, Gunnar Berge, então presidente  do Comité, no discurso de abertura da cerimónia. Berge explicou, também, que a distinção refletia uma crítica à política internacional da administração de então, liderada por George W. Bush, sobretudo no que tocava à relação com o Iraque.

Nascido James Earl Carter Jr., a 1 de outubro de 1924, Jimmy Carter governou os EUA entre 1977 e 1981 e foi durante o seu mandato que foram firmados os acordos de Camp David, assinados pelo então Presidente egípcio Anwar Sadat e pelo primeiro-ministro israelita Menachem Begin. Carter foi mediador das negociações e foi na residência de férias do Presidente americano, em Camp David, que os dois líderes políticos se reuniram e chegaram a acordo, em setembro de 1978, o que lhes viria a garantir o Prémio Nobel.

Carter passou 13 dias naquele retiro com Sadat e Begin e num processo que esteve para cair por terra várias vezes foi “crucial na mediação de um acordo histórico entre rivais amargos”, sintetiza o Washington Post. Os acordos traduziram-se em dois documentos: um que regulava a relação entre o Egito e Israel e consagrava a devolução da Península do Sinai; outro, nunca aplicado, que previa a retirada de Israel da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.

Foi também durante o seu mandato que se deu a tomada de reféns na embaixada dos EUA em Teerão. Era o dia 4 de novembro de 1979 quando um grupo de estudantes apoiantes da Revolução Islâmica invadiram a embaixada, alegando que se tratava de um “ninho de espiões”. A crise só viria a terminar 444 dias depois, com a libertação de 52 diplomatas norte-americanos, após a morte do Xá deposto no Egito. Era 20 de janeiro de 1981, o dia em que Carter disse adeus à Casa Branca com a investidura de Ronald Reagan. Depois dessa crise, Washington rompeu as relações diplomáticas com Teerão.

Durante a crise de reféns, em abril de 1980, Carter autorizou uma tentativa de resgate que terminou de forma catastrófica: duas aeronaves norte-americanas colidiram, causando a morte de oito militares dos EUA. O secretário de Estado Cyrus R. Vance, que se tinha oposto à missão, demitiu-se. Numa entrevista em 2018 ao Washington Post, Carter disse que ficou “tão obcecado” com os reféns e as suas famílias “que queria fazer qualquer coisa para os levar para casa em segurança, o que fiz”.

Na mesma entrevista, reconheceu que tinha “vários arrependimentos” dos seus anos na Casa Branca, sobretudo relacionados com a crise de reféns e de não ter feito mais para unir o Partido Democrata. Por outro lado, orgulhava-se dos acordos de Camp David, da tentativa de normalizar as relações com a China e o foco nos direitos humanos. “Mantive o nosso país em paz e defendi os direitos humanos, o que é raro para os Presidentes do pós-Segunda Guerra Mundial”, afirmou.

Oito dias de cerimónias fúnebres

Jimmy Carter tinha quatro filhos, 11 netos e 14 bisnetos. A mulher, Rosalynn Smith Carter, morreu em 2023, depois de um casamento que durou 77 anos.

“O meu pai foi um herói, não só para mim mas para todos os que acreditam na paz, nos direitos humanos e no amor altruísta”, afirmou Chip Carter, filho, num comunicado do Centro Carter divulgado este domingo. “Os meus irmãos, a minha irmã e eu partilhámo-lo com o resto do mundo através destas crenças comuns. O mundo é a nossa família devido à forma como ele uniu as pessoas e agradecemos-vos por honrarem a sua memória ao continuarem a viver estas crenças comuns”, disse ainda.

As cerimónias fúnebres vão decorrer durante os próximos oito dias, segundo a calendarização divulgada pelo The New York Times. Carter deverá ser levado em cortejo para Atlanta e daí para o Capitólio do Estado da Geórgia, antes de chegar ao Centro Carter, que é a sede das suas atividades filantrópicas pós-Presidência, onde ficará durante 36 horas.

Será, depois, transportado para Washington para as tradicionais cerimónias transmitidas na televisão. Estará no Capitólio durante um dia e meio antes do funeral de Estado na Catedral de Washington, onde se espera que Joe Biden discurse numa cerimónia. Regressará, por fim, à Geórgia, mais concretamente para Plains, a cidade onde nasceu e morreu e onde será enterrado num jazigo familiar.

“Fez tudo para melhorar a vida dos americanos”. As reações à morte de Jimmy Carter

Não param de surgir, em todo o mundo, as reações à morte de Jimmy Carter. Nas redes sociais, atuais e ex-líderes mundiais prestam homenagem ao antigo Presidente dos Estados Unidos. Num comunicado da Casa Branca, Joe Biden e a primeira-dama Jill Biden apelidam Carter como um “líder extraordinário, estadista e humanitário”.

“Com a sua compaixão e clareza moral, trabalhou para erradicar a doença, forjar a paz, promover os direitos civis e os direitos humanos, promover eleições livres e justas, alojar os sem-abrigo e sempre defendeu os mais frágeis entre nós”, lê-se. Um “homem de grande caráter e coragem, esperança e otimismo”, dizem ainda, dirigindo-se depois aos mais novos e a todos os que “procuram o que é viver uma vida de propósito”. “(…) estudem Jimmy Carter, um homem de princípio, fé e humildade. Mostrou que somos uma grande nação.”

Na sua rede social, a Truth Social, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, lembrou os “desafios” que Carter enfrentou durante o seu mandato.

“Acabei de saber da morte do Presidente Jimmy Carter. Aqueles que tiveram a sorte de exercer o cargo de Presidente compreendem que este é um clube muito exclusivo, e só nós conseguimos perceber a enorme responsabilidade de liderar a Maior Nação da História. Os desafios que Jimmy Carter enfrentou enquanto Presidente surgiram numa altura decisiva para o nosso país e ele fez tudo o que estava ao seu alcance para melhorar as vidas de todos os americanos. Por isso, temos para com ele uma dívida de gratidão”, lê-se na mensagem de Trump.

Barack e Michelle Obama, por sua vez, sublinham como o Presidente Carter “nos ensinou a todos o que significa viver uma vida de graça, dignidade, justiça e serviço”. E num extenso comunicado, lembram alguns dos feitos do seu mandato: os acordos de Camp David; o trabalho para “diversificar o sistema judicial federal”, incluindo com a nomeação da ativista pioneira dos direitos das mulheres e advogada Ruth Bader Ginsburg para o Tribunal da Relação do distrito de Columbia; ou as reformas ambientais que pôs em prática, “tornando-se um dos primeiros líderes mundiais a reconhecer o problema das alterações climáticas”.

Salientam, também, a “decência” do antigo Presidente. “Eleito na sombra do Watergate, Jimmy Carter prometeu aos eleitores que diria sempre a verdade. E fê-lo — defendendo o bem público, independentemente das consequências. Ele acreditava que algumas coisas eram mais importantes do que a reeleição — coisas como a integridade, o respeito e a compaixão”.

“Vou sempre lembrar a sua bondade, sabedoria e graça profunda. A sua vida e o seu legado continuam a inspirar-me — e vão inspirar gerações vindouras”, afirmou, por sua vez, a atual vice-Presidente, Kamala Harris, em comunicado.

Também no X, o antigo Presidente George W. Bush lembrou o legado de Carter. “Era um homem de convicções profundas. Era leal à sua família, à sua comunidade e ao seu país. O presidente Carter dignificou o cargo. E os seus esforços para deixar um mundo melhor não terminaram com a sua presidência. O seu trabalho com a Habitat for Humanity e com o Centro Carter são um exemplo de serviço que vai inspirar os americanos por várias gerações”, escreveu o republicano.

Bill Clinton, também ex-presidente dos EUA, afirma, em comunicado citado pelo New York Times, que Carter “trabalhou incansavelmente por um mundo melhor e mais justo”. Sublinhando o trabalho de Jimmy Carter em questões como os direitos civis ou os acordos de paz entre Israel e o Egipto, Clinton destaca que “guiado pela sua fé, o presidente Carter viveu para servir os outros – até ao fim”.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar “profundamente triste” com a morte de Jimmy Carter, de quem destacou o legado na paz e segurança mundiais.

Numa declaração emitida na tarde de domingo em Nova Iorque, Guterres sublinhou os “marcos” de Carter na diplomacia dos Estados Unidos, como os acordos de Camp David ou os relativos ao Canal do Panamá, mas também o seu desempenho enquanto mediador de conflitos, após a sua presidência, em matérias como o controlo eleitoral em países em transição, a promoção da democracia e a erradicação de doenças.

Estes esforços, reconhecidos com a atribuição a Carter do Prémio Nobel da Paz em 2002, “contribuíram para fazer avançar as Nações Unidas”, sublinhou Guterres, cujo organismo que lidera atravessa um momento de fragilidade particular.

Carter será recordado pela solidariedade para com os mais fracos e “pela sua fé infatigável no bem comum e na nossa humanidade partilhada”, o que permitirá que o seu legado como “campeão dos direitos humanos” continue vivo.

Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte e enviou a Joe Biden as condolências, destacando “os esforços incansáveis de Jimmy Carter na promoção dos Direitos Humanos e da paz na cena internacional, temas a que dedicou parte significativa da sua vida após a conclusão da sua Presidência e nos anos finais da sua vida”.

Marcelo invocou ainda “o apoio simbólico de Jimmy Carter, e da sua administração, à consolidação democrática em Portugal“. “Nesta hora de pesar, o Presidente da República junta-se a todos os que lembram com admiração a vida de Jimmy Carter e o seu contributo em prol da humanidade.”

O primeiro-ministro português também já transmitiu as condolências num post na rede social X. “Foi com pesar que soube da morte do Presidente Jimmy Carter, Prémio Nobel da Paz 2002. É e será uma referência moral global da democracia e dos direitos humanos. Apresento condolências à família, ao Presidente @POTUS e ao povo americano”, escreveu Luís Montenegro.

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, lamentou, esta segunda-feira, a morte do ex-presidente norte-americano, lembrado por “conquistas históricas” no trabalho pela “diplomacia da paz”.

“O Presidente Jimmy Carter alcançou feitos históricos através dos seus esforços incansáveis, não só durante a sua presidência, mas ao longo de toda a sua vida, na diplomacia da paz, pela qual lhe foi atribuído o Prémio Nobel da Paz”, começou por sublinhar Ishiba, num comunicado emitido pelo seu gabinete.

“Destaco o meu profundo respeito pelo Presidente Carter, que contribuiu significativamente para o reforço das relações amigáveis entre o Japão e os Estados Unidos e para a manutenção da paz e da estabilidade na comunidade internacional”, acrescentou.

O Presidente israelita, Isaac Herzog, agradeceu a Jimmy Carter pelo apoio à normalização das relações entre Egito e Israel nos anos 1970, numa mensagem após a morte do antigo presidente norte-americano.

“Nos últimos anos, tive o prazer de lhe telefonar e de lhe agradecer os seus esforços históricos para reunir dois grandes líderes, Beguin e Sadat”, escreveu Herzog nas redes sociais, referindo-se a Menachem Beguin e Anwar el-Sadat, líderes israelita e egípcio, respetivamente, que assinaram os acordos de Camp David com Carter em 1978.

Os acordos permitiram aos dois países assinarem, em Washington, o acordo de paz de 1979, que normalizou as relações entre ambos.

O Presidente angolano, João Lourenço, enviou uma mensagem de pesar. “Nesta hora de luto para o povo norte-americano, desejo saudar o percurso desta grande figura que percorreu todo um século, durante o qual pôde vivenciar, observar e desempenhar um papel atuante e ativo nos acontecimentos que marcaram indelevelmente a história da humanidade nos últimos cem anos”, escreveu João Lourenço.

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