As autoridades sul-coreanas divulgaram esta segunda-feira uma linha temporal do acidente com o avião da Jeju Air que se despenhou quando aterrava no aeroporto de Muan, provocando 179 mortes. Este é já considerado um dos desastres mais mortíferos da história da aviação da Coreia do Sul e o pior envolvendo uma companhia aérea local desde 1997, quando um acidente com um avião da Korean Air, em Guam, provocou a morte de 225 pessoas.

Avião despista-se na Coreia do Sul. Autoridades confirmam 179 mortos e apenas dois sobreviventes

“Uma ave está presa na asa [do avião]. Não podemos aterrar. Devo escrever as minhas palavras finais?”, questionou uma das 181 pessoas que seguiam no avião numa mensagem enviada antes do acidente, pelas 9h locais (00h em Lisboa), e vista pelo Guardian. O jornal britânico também cita um pescador que testemunhou os últimos momentos do avião. Relatou que viu um bando de aves a colidir com o motor do lado direito e chamas a surgir depois de ter ouvido dois ou três “estrondos.”

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Nas 48 horas antes do acidente, o avião que se despenhou fez 13 viagens, algumas internas, para Muan, a Ilha Jeju Island e Incheon, mas também rotas para outros países, voando para Pequim, Bangkok e Taipei. Segundo a agência Yonhap, desde o acidente, mais de 60 mil pessoas cancelaram voos domésticos e internacionais através da Jeju Air, uma das companhias aéreas de baixo custo mais populares da Coreia do Sul.

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Esta é a linha temporal do acidente, que tem por base as informações divulgadas pelo Ministério dos Transportes da Coreia do Sul e dos bombeiros, citados pela agência de notícias Reuters.

8:54 locais (23h54 horas em Lisboa) — Os controladores aéreos do aeroporto de Muan autorizaram o avião a aterrar na pista 01.

8:57 — Os controladores aéreos emitem o seguinte alerta aos pilotos do voo 7C2216: “Cuidado — atividade de aves.”

8:59 — O piloto do avião da Jeju Air relata um choque com aves e declara emergência. Os controladores aéreos ouvem o alerta: “Mayday, Mayday, Mayday” e “Choque com aves, choque com aves, ir à volta”.

9:00 — O avião inicia a manobra para dar a volta e pede autorização para aterrar na pista 19.

9h01 — Os controladores aéreos autorizam a aterragem na pista 19.

9h:02 — O voo 7C2216 faz contacto com a pista a 1.200 metros do ponto de 2.800 metros da pista.

9:02:34 — Os controladores aéreos transmitem à unidade de resgate de incêndio do aeroporto o alerta para um acidente.

9:02:55 — A unidade conclui a preparação do equipamento de resgate.

9:03 — O avião embate num muro de betão depois de ultrapassar a pista.

9:10 — O Ministério dos Transportes recebe um primeiro relatório do acidente das autoridades aeroportuárias.

9:23 — Um homem é resgatado e transportado para um centro médico temporário.

9:38 — O aeroporto de Muan é fechado.

9:50 — As autoridades resgatam uma segunda pessoa da cauda do avião.

Ao longo do dia, as autoridades foram divulgando o balanço do número de vítimas, com idades entre os três e 78 anos. Ao início da manhã falavam em 28 mortos, depois 47 e 62. Ao final da noite, altura em que o Presidente em exercício da Coreia do Sul chegava ao aeroporto, acabando rodeado pelos familiares das vítimas que exigiam explicações sobre o acidente, confirmavam 179 mortos.

As autoridades anunciaram uma investigação para apurar as causas do acidente do Boeing 737-800. Nesse esforço contam com o apoio dos Estados Unidos da América. Para já, o líder do departamento de incêndios do aeroporto adiantou numa conferência de imprensa que o incidente poderá ter sido provocado pelo choque com aves e pelo mau tempo. Um funcionário do Conselho de Investigação de Acidentes Ferroviários e de Aviação revelou à agência Yohnap que uma das caixas negras do avião foi recuperada, mas sofreu danos parciais.

Alguns especialistas acreditam que a investigação deverá demorar meses e focar-se numa série de questões, incluindo as ações dos pilotos, os motivos para os mecanismos típicos de uma aterragem terem falhado, as condições do tempo e se o avião tinha recebido manutenção adequada pela companhia aérea. “Neste momento este é um mistério por resolver”, reconheceu ao New York Times Shawn Pruchnicki, especialista em segurança de aviação e professor da Universidade Estatal de Ohio. Ao mesmo jornal Jeff Guzzetti, ex-investigador da agência norte-americana de segurança em transportes, alertou que geralmente este tipo de acidentes são fruto de uma “combinação de fatores.”