O editor de Fotografia do Observador, João Porfírio, e o editor de Política, Rui Pedro Antunes, receberam esta sexta-feira o Prémio Gazeta Multimédia pela reportagem “Wagner. Dentro da Máquina de Guerra de Putin”, que conta com vários depoimentos ligados ao grupo Wagner, incluindo um antigo mercenário, vítimas e uma enfermeira ucraniana. O web design foi feito por Miguel Feraso Cabral e a edição multimédia por Teresa Abecasis, também presentes na cerimónia.
O prémio mais importante do jornalismo português, iniciativa do Clube de Jornalistas, foi entregue esta tarde no Grémio Literário, em Lisboa, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas.
Na cerimónia, João Porfírio agradeceu aos colegas e a Rui Pedro Antunes, com quem partilhou as centenas de quilómetros na Ucrânia e um livro, editado no ano passado pela Tinta da China com o título “Wagner: A Máquina de Guerra de Putin”. “É um dos trabalhos de que mais me orgulho”, disse o fotojornalista do Observador, que viu ser-lhe atribuído, há um ano, o prémio Gazeta de Fotografia, pelo conjunto de fotografias que fazem parte do conjunto de reportagens “Ucrânia – Os primeiros 75 dias de guerra”.
João Porfírio lembrou, aliás, que no ano passado dedicou parte do discurso a um momento negro do Global Media Group, altura em que foram formados movimentos para angariar fundos para jornalistas que não estavam a receber os salários.
“Há um ano estavam jornalistas sem ter o que comer e estavam a sobreviver à conta de transferências bancárias de outros jornalistas. Este ano, a história repete-se”, disse, aludindo à campanha de crowdfunding lançada pelos trabalhadores da Trust in News, declarada insolvente, que detém publicações como as revistas Visão e Exame.
O fotojornalista deixou uma mensagem de força ao grupo da revista Visão e alertou que “um jornalismo falido é uma democracia a caminhar para o abismo”.
“A sorte dá trabalho, nós temos a sorte de trabalhar no Observador”, disse por sua vez Rui Pedro Antunes, editor de Política do Observador, durante o discurso na cerimónia. O jornalista deu o exemplo do Bairro do Zambujal e da “lama de Valência” como exemplos de aposta no jornalismo e disse que o jornalismo continua vivo.
A Carlos Moedas felicitou pelo Programa Lisboa Cultura e Media — um programa de apoio a jornalistas com 200 mil euros —, discordando, porém, que metade desse valor seja atribuído a influencers. Embora diga compreender a importância de conteúdos digitais para Lisboa, refere que “os tik-toks, o Jason Derulo, e os mágicos desastrados” ainda não têm a mesma importância do que o jornalismo. Por isso, deixou a sugestão de se aumentar a parte atribuída ao jornalismo, “seria uma grande ajuda”.
Sobre a reportagem “Wagner. Dentro da Máquina de Guerra de Putin”, o editor de Política de Observador admitiu que a Ucrânia o obrigou a sair da zona do conforto porque sempre foi “jornalista de Política”. Rui Pedro Antunes diz que este trabalho multimédia apenas conta o lado ucraniano e admite, por isso, ter vontade de ir ao lado russo ainda que seja mais “brutal e injusto”. E terminou o discurso com uma mensagem de solidariedade ao grupo da Visão, com uma questão: “Agora é o grupo Visão, quem será para o ano?”.
Já o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, descreveu a classe dos jornalistas como precária, “trabalhando sempre no osso”, e lamentou que, no ano passado, tenha dedicado parte do discurso à crise do grupo Global Media e que agora os protagonistas sejam outros. A crise, diz, nota-se nos salários por pagar, nos conteúdos produzidos e nas consequências negativas da vida das pessoas.
Marcelo Rebelo de Sousa fez ainda uma referência às medidas do Executivo para a comunicação social. Embora reconheça a falta de consenso, diz que “30 medidas é melhor do que nenhuma — em princípio, depende das medidas”. O Presidente da República sublinhou “a solidariedade” entre jornalistas para “atenuar efeitos de ordenados que ficam por pagar” e como apesar das dificuldades o jornalismo continua “inconformado e inquieto” numa sociedade que não pode dispensar ser escrutinada.
Já Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, defendeu que o jornalismo “não pode perder a sua essência” e que se trata de um “bem público” que “tem de ser preservado e promovido, seja pelo Estado central ou pelas autarquias”. Sobre o Programa Lisboa Cultura e Media, referido por Rui Pedro Antunes, diz que foram recebidas mais de 100 candidaturas — 26 de projetos jornalísticos e 81 dos candidatos para os projetos digitais. Entre os candidatos há de freelancers a elementos de associações culturais. “Temos grandes projetos, difícil será escolher”, disse, acrescentando que no futuro irá olhar para a sugestão deixada pelo jornalista do Observador.
Além do Prémio Gazeta Multimédia atribuído aos jornalistas do Observador, foram entregues os seguintes prémios:
- O Prémio Gazeta de Mérito foi atribuído a Maria Antónia Palla.
- O Prémio Gazeta Especial foi atribuído ao jornalista chileno, recentemente falecido, Mário Dujisin, fundador da Associação da Imprensa Estrangeira.
- A jornalista Miriam Alves, da SIC, recebeu o Prémio Gazeta de Televisão pela reportagem “Vírus que tratam”.
- A jornalista Marta Vidal recebeu o Prémio Gazeta de Imprensa pela reportagem “A liberdade, lá em cima: os pássaros de Gaza”, publicada no Expresso.
- O jornalista Filipe Santa-Bárbara, da TSF, recebeu o Prémio Gazeta de Rádio com a reportagem “Violeta”.
- A jornalista Inês Loureiro Pinto, freelancer, recebeu o Prémio Gazeta Revelação, pela reportagem emitida na RTP2 “Natureza vs. Luxo imobiliário”.
- O semanário de Vila Real “A Voz de Trás-os-Montes”, fundado em 1947, recebeu o Prémio de Imprensa Regional.