O fim do trânsito de gás natural russo em território ucraniano está a criar vários problemas na Transnístria, região pró-russa pertencente à Moldávia. Enfrentando graus negativos, a população está a ser aconselhada a aquecer-se perto de lareiras, sendo que a indústria está completamente paralisada. No entanto, as autoridades locais recusam comprar gás ao Ocidente, aguardando que a Gazprom volte a abastecer em breve a região.
Segundo a agência de notícias moldava IPN, a Tiraspoltransgas, fornecedora de gás na Transnístria, recusou a ajuda fornecida pelo governo moldavo de Chișinău, que previa o abastecimento com gás oriundo de outros países europeus. As autoridades pró-russas recusaram a oferta, argumentando que estariam sujeitas a preços “altos e instáveis”.
A região tem, assim, enfrentado cortes de eletricidade, situação que voltou a acontecer este sábado e que se espera que se prolongue nos próximos dias. O líder da Transnístria, Vadim Krasnoselsky, adiantou que a Transnístria tem reservas de gás para os próximos dez dias — mas o que acontecerá depois é uma incógnita.
Vadim Krasnoselsky admite que a situação é complexa, mas recusa que se trate de uma “situação de desespero”. Esta sexta-feira, citado pelo Kyiv Independent, o responsável pediu à população para se aquecer junto a lareiras. “Felizmente, a nossa região é rica em madeira. Pode ser comprada em todos os distritos. Ainda temos stock.”
As autoridades centrais moldavas, lideradas por um governo pró-Ocidente, estão a deixar duras críticas às atitudes da Transnístria. Num comunicado citado pela Reuters, o primeiro-ministro da Moldávia, Dorin Recean, afirmou que todos os aliados da Rússia sofrem um “desfecho inevitável”: “Traição e isolamento”.
Desde o fim da União Soviética, a Transnístria criou sempre problemas às autoridades centrais de Chișinău, almejando a integração na Federação Russa. Dorin Recean acusou a Rússia “de colocar em risco o futuro do seu protetorado”, de forma a “desestabilizar a Moldávia”. “Tratamos esse assunto como uma crise de segurança destinada a permitir o regresso de forças pró-russas ao poder na Moldávia e a instrumentalizar o nosso território contra a Ucrânia”, denunciou o primeiro-ministro moldavo.
Nas últimas eleições presidenciais, que tiveram lugar no início de novembro, o candidato pró-russo, Alexandr Stoianoglo, perdeu as eleições para a Presidente Maia Sandu. No entanto, os moldavos vão novamente às urnas no próximo verão para as eleições parlamentares — e a inflexibilidade em comprar gás a outras fontes além da Rússia é, no entender do atual governo pró-Ocidente, uma forma de tentar já influenciar as eleições.
No dia 1 de janeiro, a Ucrânia anunciou o fim da passagem de gás russo pelo território ucraniano, depois de o contrato de passagem de fornecimento de gás da Gazprom para vários países europeus ter terminado. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, considerou que era “uma das maiores derrotas” para a Rússia. Contudo, a Transnístria e também a Eslováquia têm deixado duras críticas à atuação de Kiev.
Sendo um das maiores aliados da Ucrânia, o governo moldavo pró-Ocidente conseguiu preparar-se antecipadamente para o corte de gás russo, aumentando a produção doméstica e importando eletricidade da vizinha Roménia. Contudo, a região separatista da Transnístria recusou fazê-lo e apelidou a estratégia de independência energética da Rússia como sendo “fora da realidade”.