O ex-Presidente de França, Nicolas Sarkozy, começa esta segunda-feira a ser julgado no âmbito do processo que investigou o financiamento da sua campanha presidencial de 2007 pelo regime líbio de Muammar Kadhafi. É considerado o maio escândalo de financiamento político da história moderna francesa.
Ao todo, sentam-se no banco dos réus 13 pessoas, incluindo três antigos ministros, acusados de receberem financiamento de forma ilegal. A acusação fala num “pacto de corrupção” firmado entre Sarkozy e o regime de Kadhafi em que, alegadamente, intermediários fizeram chegar malas com dinheiro ao político francês para financiar à margem da lei a campanha presidencial de 2007, que acabou por vencer. Em troca, o regime líbio pediria favores diplomáticos, jurídicos e económicos.
Um desses alegados pedidos envolveria o levantamento do mandado de captura internacional de Abdullah al-Senussi, chefe de espionagem de Muammar Kadhafi, condenado a prisão perpétua em França, em 1999, pelo papel no bombardeamento de um avião comercial da UTA (entretanto incorporada na Air France) sobre o Níger, que provocou a morte de 170 pessoas.
Sarkozy e Kadhafi: uma história de negócios obscuros, alianças e traições
Elementos da equipa de Sarkozy ter-se-ão encontrado, alegadamente, com a equipa de Kadhafi, na Líbia, em 2005, quando Sarkozy era ministro da Administração Interna. E depois de ser eleito Presidente, Sarkozy convidou o então líder da Líbia para uma visita de Estado a Paris, tornando-se o primeiro líder ocidental a receber o então líder líbio desde que as relações com o país foram suspensas, nos anos 80.
O julgamento terá a duração de três meses e irá descortinar a relação de Sarkozy com Kadhafi, que foi deposto pelos rebeldes em 2011. Aliás, nesse ano, foi com Sarkozy no cargo de Presidente que França esteve na linha da frente dos ataques aéreos liderados pela NATO contra as tropas de Kadhafi, que ajudaram os rebeldes a derrubar o regime.
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Sarkozy, que foi Presidente de 2007 a 2012, negou as alegações de ilegalidades, se condenado, poderá enfrentar uma pena até 10 anos de prisão. Vão a julgamento, também, Claude Guéant, ex-secretário-geral do Eliseu e ministro da Administração Interna, ou Éric Woerth, ex-ministro do Orçamento.
Este não é o único processo judicial a envolver Nicolas Sarkozy. No mês passado, o Supremo que confirmou a condenação do antigo chefe de Estado a três anos de prisão — ficando sujeito a pena efetiva, com pulseira eletrónica durante um ano –, pelos crimes de corrupção e tráfico de influências.
Também foi condenado por gastar mais do que o valor máximo na campanha para a reeleição de 2012 (que perdeu contra François Hollande).
Nicolas Sarkozy condenado por financiamento ilegal de campanha de 2012