O adversário interno de Miguel Albuquerque, Manuel António Correia, vê-se com cada vez menos hipóteses de conseguir enfrentar o atual presidente do governo regional da Madeira, sobretudo antes de que a região vá mais uma vez a eleições. Com Albuquerque a garantir que será candidato mais uma vez, Manuel António Correia garante que os órgãos do partido ignoraram o pedido que entregou — com 540 assinaturas — para um congresso eletivo extraordinário, pedindo que respondam com “urgência”.

“Ainda não foi recebida qualquer posição dos órgãos do partido. Reitera-se a necessidade urgente de que tal aconteça o mais brevemente possível”, lê-se num comunicado enviado esta quarta-feira pela candidatura de Manuel António Correia. “Infelizmente, o presidente do partido parece não partilhar o interesse em ouvir o partido, ignorando reiteradamente o pedido expresso de 540 militantes por um rumo diferente”.

Segundo as informações apuradas pelo Observador, o processo começou por seguir, após a entrega das assinaturas (feita a 23 de dezembro), para o Congresso Regional do partido. Após os dias de Natal (na Madeira 26 também é feriado), a mesa do congresso reuniu-se e decidiu por unanimidade enviar o assunto para análise do Conselho de Jurisdição.

E é lá que o processo está agora. Ao Observador, o presidente, Rui Abreu, promete “responder muito em breve” ao pedido de Manuel António Correia. “Vou fazer a análise jurídica e será emitido um parecer entregue ao presidente do congresso regional e ao presidente da mesa do congresso [que é a mesma pessoa, João Cunha e Silva]”. Abreu acrescenta que “não há prazos”, nem para a análise deste pedido nem para “eleições” internas no partido, o que deixa antever que a protocandidatura de Manuel António Correia pode morrer na praia.

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A possibilidade de levar o PSD-Madeira a eleições, de forma a tentar travar o ciclo de Albuquerque no poder, tem sido uma espécie de corrida de obstáculos. Desde logo, porque a oposição interna recolheu as 540 assinaturas (o mínimo são 300) para realizar um congresso extraordinário, mas os estatutos não preveem que este seja automaticamente eletivo — o que tem levado Albuquerque a insistir que o pedido “não é válido” nem tem validade estatutária.

É por isso que deve ser o Congresso Regional do PSD-Madeira, o tribunal do partido, a pronunciar-se sobre o pedido para que o congresso seja eletivo, escolhendo uma nova (ou reelegendo a atual) liderança. E é isto que não está a acontecer, denuncia a oposição interna a Miguel Albuquerque, que já tem criticado vários alegados obstáculos ao processo eleitoral interno (incluindo o facto de a sede do partido ter estado fechada, facto que a direção justificou com as férias de Natal dos funcionários, lembrando que esta paragem acontece todos os anos).

“O PSD-Madeira deve oferecer aos madeirenses e porto-santenses uma solução política que os sirva e que possa impedir o agravamento da já longa crise política na região. Pelo contrário, com a liderança e candidatura do Dr. Miguel Albuquerque, em vez de reconquistar a ansiada estabilidade, será aprofundada ainda mais a crise política”, lê-se no comunicado.

Este grupo de militantes conclui que “não é possível” encontrar consensos com o projeto de Albuquerque. Por isso, e por uma questão de “coerência e convicções”, o grupo liderado por Manuel António Correia confirma que não terá qualquer participação da lista que Miguel Albuquerque pretende encabeçar: “Não será possível a associação a qualquer lista encabeçada pelo atual presidente, cuja postura não defende o superior interesse da região autónoma da Madeira e do PSD, mantendo-nos determinados nos propósitos pelos quais vimos lutando e que melhor servem o partido, os seus militantes e a população em geral”.

Uma sede fechada e um pedido de primárias. Albuquerque e Cafôfo acusados de bloquearem oposições internas

Texto atualizado às 17h16 com informações sobre o estado do processo e declarações de Rui Abreu.