O líder da Iniciativa Liberal (IL) acusou, esta quarta-feira, o Governo de ter escolhido o “caminho da autocracia” pela posição que assumiu relativamente às eleições presidenciais de Moçambique, pedindo ao Presidente da República que exerça influência para “recuperar o bom senso”.

Num artigo de opinião publicado no jornal Público, Rui Rocha critica a posição assumida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, que, no dia 23 de dezembro, após o Conselho Constitucional de Moçambique ter proclamado os resultados das eleições presidenciais, divulgou um comunicado em que se manifestava “disponível para trabalhar com o novo Presidente e com governo moçambicanos”.

“O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, atirou-se para um reconhecimento imediato e irrefletido dos resultados eleitorais minutos (!) depois de serem anunciados, arrastando a diplomacia portuguesa para uma validação extemporânea da manipulação e limitando a sua possibilidade de aparecer como protagonista privilegiado de um desejável processo de mediação”, critica Rui Rocha.

Para o líder da IL, Portugal, “pela mão imprevidente e inábil do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, colocou-se apressadamente ao lado da injustiça e da opressão”.

“Não é necessário aprofundar muito a reflexão para perceber que o ministro Paulo Rangel, incapaz de ver para lá de uma lógica exclusiva de curtíssimo prazo e submisso ao poder atual em Maputo, pode ter comprometido seriamente a relação futura de Portugal com Moçambique”, refere.

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Rui Rocha critica ainda o facto de, após Venâncio Mondlane ter anunciado que ia regressar a Moçambique, a primeira intervenção de Paulo Rangel não tenha sido para “pedir ‘equilíbrio’ ao regime, instando-o, no mínimo, a que se comprometa com a garantia de não cometer qualquer atrocidade contra o líder da oposição”.

“Foi, em vez disso, para colocar sobre Venâncio Mondlane, que teve de fugir e passar à clandestinidade, que viu o seu advogado assassinado e milhares de apoiantes seus a serem perseguidos, presos e eliminados, que tem a sua vida em perigo nesse regresso, o ónus da reconciliação”, acusa.

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O líder da IL defende que “a diplomacia é um figo que proporciona mais sabor se quem a dirige souber resistir à pressa de colher o fruto enquanto não está maduro”.

“Mas, perante a incapacidade de leitura da realidade revelada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros à luz de valores elementares e também dos próprios interesses de Portugal, resta esperar que o Presidente da República, a quem apelo diretamente, possa exercer nas próximas horas o seu magistério de influência na busca da recuperação do bom senso”, afirma.

Para Rui Rocha, “não há tempo para mais, pois de momento é absolutamente urgente que se interceda junto do regime para que este se comprometa a respeitar a vida, a integridade física e os direitos cívicos de Venâncio Mondlane no seu regresso corajoso a Moçambique”.

Segundo os resultados divulgados em 23 de dezembro pelo Conselho Constitucional de Moçambique, o candidato da Frelimo — partido no poder desde a independência do país —, Daniel Chapo, venceu com 65,17% dos votos a eleição para Presidente da República.

Perante esses resultados, o Presidente da República português fez publicar nesse mesmo dia uma nota referindo que “tomou conhecimento dos candidatos e da força política declarados formalmente vencedores por aquele Conselho”, mas na qual não menciona Daniel Chapo nem faz a habitual saudação ao proclamado Presidente eleito.

Por sua vez, o primeiro-ministro escreveu na rede social X: “Concluído o processo eleitoral pelo Conselho Constitucional e designado Daniel Chapo como Presidente eleito de Moçambique, sublinhamos o propósito de que a transição que agora se inicia possa decorrer de forma pacífica e inclusiva, num espírito de diálogo democrático, capaz de responder aos desafios sociais, económicos e políticos do país”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros foi mais além, declarando em comunicado que “o Governo português está disponível para trabalhar com o novo Presidente e com o governo moçambicanos em prol do reforço dos laços estratégicos entre os dois países, na continuidade dos laços históricos de amizade entre os dois povos” e quer manter-se “como parceiro-chave, contribuindo para o progresso sustentável e a paz em Moçambique”.