O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, exaltou a defesa intransigente da democracia dois anos após a invasão às sedes dos Três Poderes em Brasília por apoiantes extremistas do ex-Presidente Jair Bolsonaro.

“Hoje é dia de dizermos em alto e bom som: Ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos, e que a democracia está viva, ao contrário do que planeavam os golpistas do 8 de janeiro de 2023“, disse Lula da Silva numa cerimónia em Brasília que reuniu membros do governo, políticos e representantes dos poderes legislativo e judiciário.

“Estamos aqui — mulheres e homens de diferentes origens, crenças, partidos e ideologias — unidos por uma causa em comum. Estamos aqui para dizer: Ditadura nunca mais. Democracia sempre”, acrescentou o Presidente brasileiro.

Em 8 de janeiro de 2023, milhares de ‘bolsonaristas’ invadiram e vandalizaram o Palácio do Planalto, o Parlamento e o Supremo Tribunal Federal (STF) numa tentativa de provocar o caos e incitar uma intervenção militar para derrubar Lula da Silva, que tomara posse como Presidente para um terceiro mandado depois de vencer Bolsonaro nas presidenciais realizadas em outubro de 2022.

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Num discurso de pouco mais de 20 minutos, o chefe de Estado brasileiro lembrou passagens de sua vida, frisando momentos em que esteve perto da morte, disse ser um “amante da democracia” e afirmou considerar que a “democracia para poucos não é democracia plena”, considerando-a “sempre uma obra em construção”.

“Se hoje podemos pensar diferente e expressar livremente nossos pensamentos, ideias e desejos, é porque a democracia venceu. Caso contrário, a única liberdade de expressão permitida seria a do ditador e de seus cúmplices — e usada para mentir, espalhar o ódio e incitar a violência contra quem pensa diferente”, pontuou Lula da Silva.

Sobre as investigações dos responsáveis pelos ataques de 08 de janeiro, o Presidente brasileiro destacou que o governo será implacável contra quaisquer tentativas de golpe.

“Os responsáveis pelo 08 de janeiro estão sendo investigados e punidos. Ninguém foi ou será preso injustamente. Todos pagarão pelos crimes que cometeram, inclusive os que planearam o assassinato do Presidente, vice-Presidente da República e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Terão amplo direito de defesa e terão direito à presunção de inocência”, acrescentou.

Lula da Silva não mencionou o ex-Presidente Jair Bolsonaro, alvo de uma investigação sobre seu papel como instigador dos tumultos. Além disso, o Ministério Público brasileiro deve decidir em breve se processará o ex-Presidente ou não pelo seu envolvimento num alegado plano de golpe de Estado para permanecer no poder após as eleições de 2022 investigado pela Polícia Federal, que pediu o seu indiciamento por tentativa de Golpe de Estado, bem como de outras 39 pessoas.

Na sequência do discurso, Lula da Silva desceu a rampa do Palácio do Planalto acompanhado de autoridades para participar de um ato simbólico nomeado de “Abraço da Democracia”, na Praça dos Três Poderes, que contou com a presença de políticos, de movimentos sociais e apoiantes de partidos de esquerda.

Numa outra cerimónia simbólica realizada no início da manhã, também no Palácio do Planalto, o Presidente brasileiro e alguns ministros realizaram a devolução ao património público de 21 obras de arte que precisaram de ser restauradas após serem danificadas durante os atos de vandalismo.

Entre essas obras estão a pintura, “As Mulatas”, de Emiliano Di Cavalcanti, um dos mestres do modernismo brasileiro, que havia sido danificada com uma faca durante a invasão, um raro relógio do século XVII, trazido para o Brasil pelo rei português D. João VI, em 1808, e uma ânfora portuguesa em cerâmica esmaltada.