Apesar dos vários avisos dos serviços diplomáticos, Marcelo Rebelo de Sousa não irá condicionar a ida a Moçambique às condições de segurança. “Se a decisão for ir, a segurança não importa”, diz fonte da Presidência da República ao Observador. A mesma fonte diz que a “deslocação vai ser sempre articulada com o Governo” e que a conversa decisiva entre Belém e São Bento acontecerá quando o Presidente regressar dos EUA, onde se encontra a participar nas cerimónias fúnebres de Jimmy Carter.

O Governo português confirmou ao Observador que também recebeu o convite para a tomada de posse de Daniel Chapo, mas recusou-se a fazer qualquer comentário sobre qual a decisão sobre a presença de um representante do país na cerimónia marcada para 15 de janeiro. Marcelo Rebelo de Sousa, sabe o Observador, tem manifestado vontade de ir até Moçambique, algo que tem sido desaconselhado por razões de segurança. No entanto, de Belém há duas garantias: a decisão será sempre concertada com São Bento e terá sempre em conta razões políticas (não de segurança).

Numa altura em que o Conselho Constitucional de Moçambique já proclamou a vitória de Daniel Chapo e da Frelimo nas eleições de outubro, o candidato apoiado pelo Partido Otimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), Venâncio Mondlane, reclama vitória. E ainda esta quinta-feira, no regresso a Moçambique (depois de dois meses ausente por motivos de segurança) fez questão de simular uma tomada e posse, com direito a juramento com a mão sobre uma Bíblia, auto-proclamando-se “presidente eleito pelo povo moçambicano”.

O país está desde o final de outubro tomado por manifestações de apoiantes de Mondlane que esta quinta-feira encheram as ruas para o receber em Maputo. A presença de Portugal na cerimónia de tomada de posse significaria aceitação de um resultado eleitoral que está a ser amplamente contestado nas ruas — e que também está longe de ser unânime no Parlamento português.

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A nota da Presidência emitida esta quarta-feira diz apenas que o “Presidente da República recebeu ontem [terça-feira] uma carta do Presidente cessante de Moçambique, convidando para a cerimónia de tomada de posse do seu sucessor”. A mesma nota acrescentava ainda que Marcelo Rebelo de Sousa tinha recebido, nesse mesmo dia, “uma carta do candidato presidencial Venâncio Mondlane, informando que iria regressar amanhã [hoje] a Maputo.”

Nesta nota Marcelo Rebelo de Sousa, por um lado, decide dar nota do convite (o que pode ser lido como mais uma manifestação no sentido de marcar presença na tomada de posse do que o contrário). Por outro, faz questão de referir que recebeu uma carta de Venâncio Mondlane, o candidato presidencial que reclama ter ganhado as eleições de outubro.

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