Adolf Hitler, educação e a guerra na Ucrânia. Durante mais de uma hora, o magnata Elon Musk conversou com a líder e candidata à chanceler pela Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel. O diálogo decorreu na plataforma Spaces, integrada na rede social X, após Elon Musk ter declarado apoio ao partido nas eleições federais marcadas para o próximo dia 23 de fevereiro.
Questionada sobre o que defende a AfD, Alice Weidel lembrou que foi fundado há onze anos e foi criado durante “circunstâncias negativas” na União Europeia. A líder política entrou logo ao ataque contra a antiga chanceler Angela Merkel, acusando-a de “arruinar o país”: “Sem questionar ninguém, abriu as fronteiras para imigrantes ilegais em 2016. Destruiu a espinha dorsal que era a nossa política energética ao reforçar as energias renováveis em vez do nuclear”.
Os ataques de Alice Weidel também visaram a coligação semáforo — formada pelo Partido Social-Democrata (SPD), os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP, que entrou em rota de colisão com os outros parceiros). Ainda sobre energia, a líder da AfD falou sobre a guerra na Ucrânia para lembrar que o chanceler Olaf Scholz decidiu acabar com a dependência do gás russo, ao mesmo tempo que desligou a última central nuclear.
Elogiando o diálogo por não ser “interrompida” — como acontece com os jornalistas dos “meios de comunicação social” — Alice Weidel criticou ainda a burocratização dos serviços administrativos alemães, os altos impostos e a educação. “O Estado não quer saber da educação. É woke, adota uma agenda de esquerda socialista na educação. As pessoas não aprendem nada na escola. Apenas aprendem sobre estudos de género.”
“Não tinha noção”, afirmou em resposta Elon Musk, que manteve sempre um tom elogioso com Alice Weidel — e raramente a contrariou. Sendo uma das suas bandeiras uma política de migrações bastante mais regulada, a líder da AfD atacou os governantes alemães, em particular Angela Merkel, por deixarem entrar mais de “sete milhões de pessoas” — e de se esquecerem das preocupações dos alemães.
Declarando novamente apoio à AfD, Elon Musk criticou os meios de comunicação sociais por rotularem o partido como “radical” e de “extrema-direita”. “Só a AfD pode salvar a Alemanha. Se não ganhar as eleições, as coisas vão piorar na Alemanha”, disse o magnata.
Alice Weidel também desmentiu a imprensa mainstream alemã. Pegando na economia, a líder da AfD definiu o partido como “conservador e libertário” e considerou a CDU — o partido de centro-direita na cena política alemã — como sendo de “esquerda”.
O magnata e a política abordaram o tópico da liberdade de expressão — que ambos garantem ser defensores. Neste contexto, Alice Weidel recordou que, quando Adolf Hitler chegou ao poder, o antigo Führer “criticou a liberdade de imprensa e controlou a imprensa”: “Sem isso, nunca teria tido sucesso”. Pegando no tópico, Elon Musk questionou a líder da AfD sobre a caracterização que alguns fazem do partido, de ser neonazi.
A política da AfD aproveitou para se demarcar dessa caracterização, alegando que Adolf Hitler era “socialista e comunista”. “Os nacional-socialistas eram socialistas. Fizeram nacionalizações. Hitler era um comunista. O maior terrível sucesso dessa era terrível foi materializar a ideia de que Hitler era de extrema-direita e conservador. É o oposto, ele era um comunista e socialista.”
Sobre antissemitismo, Alice Weidel associou as políticas contra os judeus com a esquerda, recordando os protestos pela Palestina convocados por aquele lado do espetro político. “Hitler forçou a inveja da população contra essas pessoas. Era uma medida socialista. Nós somos exatamente o oposto”, declarou.
Weidel com “esperança” em Musk e Trump para terminar a guerra
Alice Weidel decidiu abordar depois a guerra na Ucrânia, tendo “esperança” em Donald Trump e Elon Musk para terminar o conflito naquele país. Conhecida por ser pró-russa, a líder da AfD acusou os dirigentes europeus de “escalarem o conflito contra a Rússia”, ao mesmo tempo que estão “completamente dependentes dos Estados Unidos”.
Questionando diretamente Elon Musk sobre de que forma é que vai terminar o conflito (Alice Weidel fez essa pergunta mais do que uma vez), o magnata não quis revelar a sua opinião. “O Presidente Trump vai resolver muito rapidamente. Milhares de pessoas morreram para nada. A Ucrânia está a ficar mais fraca perante a Rússia, é um país mais pequeno e que está a sofrer perdas.”
[Já saiu o quarto episódio de “A Caça ao Estripador de Lisboa”, o novo Podcast Plus do Observador que conta a conturbada investigação ao assassino em série que há 30 anos aterrorizou o país e desafiou a PJ. Uma história de pistas falsas, escutas surpreendentes e armadilhas perigosas. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio, aqui o segundo e aqui o terceiro episódio]
Na Alemanha, referiu Alice Weidel, “muitas pessoas estão ansiosas” com o “conflito que tem potencial de escalar”, por causa da chantagem nuclear de Vladimir Putin. “Os governos europeus não têm estratégia, não têm linhas vermelhas. Não há uma política de segurança externa para a Rússia, para a Ucrânia. Não têm estratégia, não têm poder militar”, apontou a líder da AfD.
Questionada por Elon Musk sobre como considera que deve terminar a guerra no Médio Oriente, Alice Weidel não soube dar uma resposta. “É muito complicado. Não sei como resolver o conflito neste momento”, admitiu. O magnata quis apenas saber se “apoia o Estado de Israel”. “Claro, temos de proteger a existência de Israel”, respondeu a líder da AfD, ressalvando, no entanto, que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, “cometeu muitos erros no passado”.
A conversa, que durou cerca de uma hora e que contou com cerca de 200 mil pessoas a assistir, esteve a ser atentamente monitorizada pela Comissão Europeia, dado que a União Europeia (UE) teme que as declarações de Alice Weidel e Elon Musk esbarrem contra as leis europeias, nomeadamente as que dizem respeito à influência eleitoral e ao discurso de ódio. Como explica o Politico, a UE montou uma equipa de 150 pessoas que estarão bastante atentos à conversa.
No X, Alice Weidel insurgiu-se contra a monitorização da UE. “O Big Brother está a ver-vos”, atirou a política da AfD, criticando a “burocracia da União Europeia” que “exerce censura nas redes sociais” e que “instala o espírito inimigo da liberdade”.
Big Brother is watching you: 150 EU officials are supposed to monitor my conversation with @elonmusk. An EU that uses its bureaucracy to exercise censorship on social media is instilling the spirit of unfreedom. The #dsa threatens democracy! https://t.co/bKjTU1ZlGk
— Alice Weidel (@Alice_Weidel) January 9, 2025