A esquerda está agora pronta a “expulsar” o Executivo PSD/CDS, mas atenção ao cumprimento das metas do défice e da dívida pública estabelecidas pela União Europeia. É assim que o acordo entre PS, PCP e BE está a ser visto pela imprensa internacional, que nos últimos dias deu mais atenção a Portugal.
Acordos que “complicam as coisas” ao Governo de Passos Coelho, afirma o El Mundo. “Uma aliança sem precedentes”, classifica o Financial Times. O jornal económico afirma que essa aliança “está pronta para deitar abaixo o governo de centro-direita, de duas semanas de idade, e substituí-lo com uma administração anti-austeridade”. Nesta linha, o jornal The New York Times afirma que as preocupações em torno do cumprimento das metas de Bruxelas para o défice e para a dívida “já estão a aumentar”.
Ainda na área económica, a agência noticiosa Bloomberg afirma que o entendimento de esquerda “aumenta a perspetiva de um novo governo comprometido em acelerar a reversão dos cortes na despesa vinculados ao resgate internacional” de que Portugal foi alvo. Segundo a Bloomberg, o acordo tem como propósito o juntar de forças entre o PS e os outros partidos de esquerda e “expulsar” o Executivo de Passos Coelho, que apresenta o programa de Governo para discussão na Assembleia da República.
Depois do anúncio do acordo programático entre o PS e o PCP, o jornal The Telegraph considerou que o Partido Comunista “fechou um acordo histórico” com os socialistas e os bloquistas “numa tentativa de assumir o poder e derrubar” o Governo de formado pelo PSD e CDS. Mas não foi “suficiente que Pedro Passos Coelho manifestasse disponibilidade para negociar” uma redução “mais rápida” das medidas de austeridade, lembra o El Mundo.
Os acordos de esquerda deixam agora o Presidente da República, Cavaco Silva, “com pouca alternativa” a empossar António Costa se o Governo de Passos cair na votação de terça-feira, diz o Financial Times. Também a BBC News faz referência ao entendimento a que PS, BE, PCP e PEV chegaram, um mês após as eleições legislativas que consideram “inconclusivas”, de forma a viabilizar um governo de iniciativa socialista. Uma aliança de esquerda que não reuniu o acordo de todo o Partido Socialista, recorda o El Mundo fazendo referência a Francisco Assis, que classifica como “porta-voz do descontentamento desta mudança à esquerda de Costa”.
Ainda antes do Comité Central ter decidido viabilizar o acordo com o PS, o The New York Times (NYT) considerava que a esquerda “fragmentada” tinha encontrado uma “causa comum” para “atacar tanto os políticos conservadores” em Portugal como as “receitas de austeridade” da Alemanha, “a potência da zona euro”.
O diário norte-americano considera que numa fase inicial da recuperação económica “a incerteza política é a última coisa que Portugal precisa”. E argumenta que quer Cavaco Silva dê posse a António Costa, quer deixe Passos Coelho em governo de gestão, ambos os cenários “parecem destinados a deixar o país numa crise prolongada”.
As eleições, diz o NYT, permitiram que a direita e a esquerda “reivindicassem a vitória, ameaçando Portugal com um limbo político que certamente vai enfraquecer a austeridade” a que o país foi sujeito nos últimos quatro anos. Mas o NYT acrescenta que o “impasse político” também vai “reavivar o debate” sobre se “as dores da austeridade valeram a pena”.
O jornal The Telegraph ressalva que a nomeação de um governo de direita “tem estado envolvido em controvérsia” depois do discurso do Presidente da República, Cavaco Silva, “ter jurado bloquear” os partidos anti-europeístas (PCP e BE) de assumir o poder, de forma a proteger Portugal de “forças hostis à União Europeia”.
Por seu lado, o Financial Times recorda o manifesto de 100 empresários em que avisam que uma política governamental “vista pelas agências de rating e mercados financeiros” como uma viragem na estratégia orçamental portuguesa “iria atingir os custos dos empréstimos e do investimento”, o que ameaçaria não só o crescimento, mas também a estabilidade fiscal e o emprego.
Texto editado por Helena Pereira