Pode lavar a cara as vezes que quiser ou usar o esfoliante mais potente, mas não se conseguirá livrar deles. Se já entrou na idade adulta tem certamente ácaros a viver na pele, mas não se preocupe, andam connosco há centenas de anos sem causarem nenhum dano. Não nascem connosco e levam muitos anos a tomar conta da nossa pele, mas uma vez que aprendem que os nossos poros e pele são um bom sítio para produzirem descendência, nunca mais nos largam.
Foram descobertos pela primeira vez em 1841 e, desde então, os cientistas têm-se dedicado a tentar perceber se estes ácaros microscópicos vivem na pele de todas as pessoas. Até agora os ácaros eram recolhidos raspando uma espátula na pele, com uma tira de fita-cola ou arrancando alguns pelos ou cabelos, tanto em pessoas vivas como mortas, mas nem sempre era possível descobri-los. Vivem enterrados nos poros e, por vezes, só em zonas bem definidas da pele.
Agora a equipa de Megan Thoemmes, investigadora na Universidade Estatal da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, decidiu estudar o ADN destes animais. Os resultados foram publicados na quarta-feira na revista científica Plos One. Existem mais de 48 mil espécies de ácaros, mas apenas se conhecem duas a viver na nossa face. O Demodex brevis, mais pequeno e arredondado, vive nas glândulas sebáceas dos folículos pilosos, ou seja, nas bolsas de gordura na base dos nossos pelos, enquanto o Demodex folliculorum vive nos poros dos pelos, mas mais perto da superfície, aproveitando para dar uns passeios noturnos pela nossa pele e manter encontros secretos na nossa cara. É caso para dizer, mesmo debaixo do nosso nariz.
Encontrar o ADN destes ácaros na nossa pele é fácil. Como estes animais não têm ânus, nunca defecam, mas quando morrem todo o material interno, incluindo o ADN, fica disponível, espalhado na nossa pele. Foi graças a esta característica que os investigadores confirmaram que todos os adultos, independentemente da etnia, têm ácaros na pele. Os ácaros podem ser passados pela mãe ao bebé durante a amamentação. Sim, foram encontrados ácaros na pele do mamilo. Como durante a adolescência nem todas as pessoas têm os ácaros, é possível que haja outras fontes de contágio ao longo da vida. Certo é que todos os temos quando chegamos à idade adulta.
Estudar o ADN destas duas espécies de Demodex permitiu ver as diferenças genéticas entre as várias partes do mundo. Demodex folliculorum apresenta pouca diversidade genética. Como vive mais próximo da superfície da pele, pode facilmente passar para a pele de outras pessoas e cruzar-se com outros. Pelo contrário, Demodex brevis vive bem enterrado nos poros, podendo ter criado linhagens diferentes à medida que os nossos ancestrais humanos se espalhavam pelo mundo. “É provável que estes artrópodes vivam no corpo de todas as pessoas. E uma coisa importante. Podem contar histórias interessantes sobre a dispersão dos humanos pelo mundo”, diz Megan Thoemmes.
Rob Dunn, também envolvido na investigação, é biólogo na Universidade Estatal da Carolina do Norte. Na sua página pessoal apresenta várias histórias científicas sobre pequenos seres, como as bactérias que vivem nos nossos umbigos.