O ex-diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) Silva Carvalho salientou que “nunca transmitiu” informação das secretas ao presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos.

Interrogado por Francisco Proença de Carvalho, advogado de Nuno Vasconcelllos, o ex-diretor do SIED quis assim desmontar a acusação do Ministério Público de que o ex-espião foi contratado, em janeiro de 2011, para os quadros da Ongoing, em troca da informações relevantes que pudesse trazer, através das secretas, para aquele grupo empresarial.

Entre outros crimes, Silva Carvalho responde por corrupção passiva para ato ilícito, enquanto Nuno Vasconcellos surge pronunciado por corrupção ativa.

Silva Carvalho admitiu que foi para a Ongoing ganhar “o dobro” do salário que auferia no SIED, mas recusou a ideia de que, em troca, tivesse fornecido informações obtidas pelas secretas, designadamente sobre empresários russos interessados na aquisição do porto de Astakos, na Grécia.

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O ex-diretor do SIED explicou ao tribunal a natureza das funções que exercia na Ongoing e dos investimentos estratégicos daquela empresa no Brasil, Angola, Moçambique e na PT, negando que o porto de Astakos estivesse nas pretensões do grupo empresarial liderado por Nuno Vasconcellos.

Revelou que saiu da Ongoing em 2012, após seis meses de sucessivas notícias sobre a sua pessoa veiculadas por órgãos sociais do grupo Impresa, com quem a Ongoing mantinha um litígio e uma disputa de mercados.

Silva Carvalho reconheceu que a “pressão” mediática contribuiu decisivamente para que deixasse a Ongoing, até para proteger a imagem da empresa, já que ele — ex-diretor do SIED — era o alvo preferencial da atenção dos media.

No interrogatório feito pelos advogados de defesa, Silva Carvalho admitiu ter dado a ordem ao funcionário do SIED João Luís — arguido neste processo — para que obtivesse a faturação detalhada do telemóvel do jornalista Nuno Simas, por forma a descobrir quem era a fonte das notícias que este publicou sobre as secretas.

O ex-diretor do SIED reiterou que se tratou de uma “instrução” e que o teor da ordem dada nada tinha de incomum nos serviços de informações, admitindo que as secretas iam bem mais longe nas suas atribuições, embora sem especificar.

Questionado sobre se João Luís podia ter recusado a ordem por si transmitida, Silva Carvalho foi categórico: “Sim, mas não demorava muito tempo nas funções que tinha”. Só numa situação-limite, em que, por exemplo, esteja em causa a vida humana, uma ordem pode ser recusada por um funcionário das secretas, explicou.

O julgamento prossegue durante a tarde com a continuação da inquirição a Silva Carvalho, devendo depois ser ouvido João Luis.

Silva Carvalho e João Luís estão acusados por acesso ilegítimo agravado, em concurso com um crime de acesso indevido a dados pessoais e por abuso de poder.