Mariano Rajoy não aceitou formar Governo em Espanha. O Rei Felipe VI indigitou o líder do Partido Popular (a força política mais votada nas eleições legislativas de 20 de dezembro), mas Rajoy, que dificilmente seria aprovado no parlamento espanhol, abdicou de o fazer. É a primeira vez na democracia espanhola que o candidato proposto pelo monarca recusa a indigitação.

O líder do PP já justificou a decisão, numa conferência de imprensa dada no Palácio de Moncloa.

O Rei ofereceu-me [a possibilidade de me] apresentar à investidura. Agradeci-lhe o gesto (…) mas disse-lhe que neste momento não estou em condições de me apresentar. Não lhe disse que não à minha investidura. Transmiti-lhe que não tenho apoios. Demos tempo e margem de diálogo pelo interesse de Espanha e dos espanhóis.”, disse Rajoy.

O ainda primeiro-ministro em funções disse ainda que mantém a sua candidatura, mas não vai já a votos: “Mantenho a minha candidatura, mas agora não tenho votos suficientes”, disse. E criticou a ação de Pedro Sánchez, líder dos socialistas, que não quis um acordo a três entre PP, PSOE e Ciudadanos:

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Eu propus um acordo entre PP, PSOE e Ciudadanos. (…) Sánchez não quis falar comigo. Recusou. (…) Gosta de falar com a Esquerda Republicana da Catalunha, com a Convergência e União [partido catalão] e com os outros [partidos], mas não com o principal partido de Espanha, que tem sete milhões de votos.

Para recordar as dificuldades que um governo alternativo ao PP teria, Mariano Rajoy lembrou que “é difícil governar quando o PP tem maioria no Senado” e sublinhou que um governo à esquerda não seria “moderado nem centrado”.

Felipe VI reuniu-se esta manhã com Pedro Sánchez (PSOE) e Pablo Iglesias (Podemos) e dialogou esta tarde com Mariano Rajoy (PP). Concluída a ronda de contactos, o Rei chamou o presidente do Congresso (ou Assembleia) dos deputados, o socialista Patxi López, para lhe dar a conhecer que Mariano Rajoy era a sua escolha (uma formalidade), mas que este recusou.

Tal como em Portugal, os resultados eleitorais das legislativas em Espanha trouxeram incerteza política. O PP ficou longe da maioria e o PSOE o pior resultado de sempre. Só um acordo a dois, com a abstenção do Ciudadanos (4º mais votado) possibilitaria formar governo. Mas a recusa dos socialistas espanhóis em permitir a entrada em funções de um executivo do PP foi de imediato um obstáculo.

A indigitação de Mariano Rajoy, vencedor das eleições com maioria relativa, foi uma formalidade em Espanha (até agora, na história da democracia espanhola, o líder político do partido mais votado foi sempre indigitado pelo Rei de Espanha), tal como o foi a indigitação de Passos Coelho em Portugal, pelo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, já que se sabia também à partida que o programa do Governo de coligação PSD/CDS seria chumbado no Parlamento pela esquerda.  Diferença: sabendo que o seu Governo não seria aprovado, Rajoy rejeitou a indigitarão. Por cá, Passos aceitou-a, formando o Governo de mais curta duração em Portugal (27 dias), que cairia para dar lugar ao Governo do PS com o apoio do PCP e do Bloco.

A recusa de Rajoy surge na sequência de uma ronda de contactos entre o Rei de Espanha e os líderes das três forças políticas mais votadas em Espanha: PP (Mariano Rajoy), PSOE (Pedro Sánchez) e Podemos (Pablo Iglesias). O encontro entre o Iglesias e o Rei ocorreu de manhã e, nas declarações que o líder do Podemos proferiu após a reunião, este mostrou uma aproximação ao PSOE.