Chegou à Pennsylvania Avenue, em Washington, e tomou uma decisão. Ou já vinha com ela tomada: saltar a vedação que circunda a Casa Branca. Não se sabe o que Omar González tinha planeado quando, a 20 de setembro, conseguiu entrar no jardim da residência oficial do presidente dos EUA, fugir aos guardas, livrar-se de uma agente do FBI e entrar na ala Este do edifício. Terá ficado a metros de explorar os quartos da família Obama. Se tudo fosse uma corrida, González ganharia com destaque — nunca um intruso que se aventurou pela Casa Branca tinha chegado tão longe.

O feito espantou tudo e todos: deputados, senadores e até a diretora dos serviços secretos norte-americanos, Julia Pierson, que considerou “inaceitável” como se deixou um homem, que carregava uma faca, chegar tão longe: quando, apenas cerca de 10 minutos antes, Barack Obama e a família tinham abandonado a Casa Branca. E, ao que parece, a intrusão até explorou mais do que inicialmente foi revelado na queixa entregue ao Tribunal Federal de Washington.

No dia do incidente soube-se que, por volta das 19h30 locais, um homem tinha saltado a vedação e sido intercetado pela segurança à entrada do edifício. Agora, porém, e citando relatos de pelo menos três pessoas “familiarizadas com o incidente”, o Washington Post escreveu que Omar González terá conseguido chegar à East Room, a maior divisão da Casa Branca, e só foi parado quando já estaria muito perto da porta que dá acesso à Green Room — onde, por norma, o presidente recebe os convidados em visita oficial aos EUA.

WASHINGTON - FEBRUARY 9: U.S. President Barack Obama, joined by Education Secretary Arne Duncan (L), speaks about the No Child Left Behind law in the East Room of the White House on February 9, 2012 in Washington, DC. Obama announced that ten states that have agreed to implement reforms around standards and accountability will receive flexibility from the mandates of the federal education law. (Photo by Brendan Hoffman/Getty Images)

Omar González, o intruso, chegou à East Room da Casa Branca, divisão onde, por norma, Barack Obama, presidente dos EUA, realiza conferências de imprensa.

Em suma, este foi o primeiro intruso, pelo menos dos que se tem conhecimento, que conseguiu chegar a entrar na Casa Branca. Agora a pergunta: como foi isto possível? A resposta até pode ser simples — deveu-se a uma falha de segurança. O problema, avançou o diário norte-americano, é que González foi capaz de entrar no edifício porque os guardas terão desligado um sistema de segurança que, em parte, serve para avisar o agente que está na porta principal da existência de um intruso, de modo a que este a tranque imediatamente. E o tal sistema não estaria a funcionar pois, alegadamente, foi desligado devido ao barulho que emitia.

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O sistema, denominado “crash boxes”, trata-se de um conjunto de caixas, espalhadas por vários pontos da Casa Branca e do jardim, cada uma com um botão vermelho que os guardas devem premir quando há uma ameaça à segurança do edifício. Assim que é acionado, o sinal avisa o guarda responsável por vigiar a porta de entrada, para que este a tranque. Naquele dia, contudo, o sistema estaria desligado pois o staff de empregados da Casa Branca — cujos quartos se encontram perto da entrada do edifício — se teriam queixado e considerado “incomodativo” o ruído que o sistema emitia.

Como tal, a agente dos serviços secretos responsável por guardar a porta não estava à espera que Omar González irrompesse. Resultado: ultrapassou-a facilmente. E mais. Quando um intruso é detetado, o plano de segurança da Casa Branca tem previstas várias “camadas” de proteção para impedirem que alguém alcance a casa. Uma delas, noticiou ainda o Washington Post, prevê que um cão seja solto e que ataque o intruso. Algo que também não aconteceu.

O FBI já deu início a um inquérito que pretende averiguar o que realmente se passou a 20 de setembro. “A ser verdade, o facto de as ‘crash boxes’ terem sido silenciadas para evitar que fossem incomodativas não se deveu a falta de meios ou ao número insuficiente de barreiras [de segurança]”, defendeu Jason Chaffetz, membro do congresso dos EUA e chefe do sub-comité responsável por garantir a segurança da Casa Branca. “Tenho sérias dúvidas quanto à liderança e ao protocolo dos serviços secretos”, revelou o dirigente.

O próximo passo, informou Chaffetz, passa por ouvir Julia Pierson e interrogá-la sobre como foi possível que Omar González, um homem de 42 anos que saiu de Copperas Cove, no estado do Texas, para invadir a Casa Branca, tenha conseguido entrar no edifício que acolhe o presidente dos EUA. E por que demorou alegadamente nove dias para se saber que, afinal, o intruso tinha ido bem mais longe do que inicialmente foi revelado.