Chegou à Pennsylvania Avenue, em Washington, e tomou uma decisão. Ou já vinha com ela tomada: saltar a vedação que circunda a Casa Branca. Não se sabe o que Omar González tinha planeado quando, a 20 de setembro, conseguiu entrar no jardim da residência oficial do presidente dos EUA, fugir aos guardas, livrar-se de uma agente do FBI e entrar na ala Este do edifício. Terá ficado a metros de explorar os quartos da família Obama. Se tudo fosse uma corrida, González ganharia com destaque — nunca um intruso que se aventurou pela Casa Branca tinha chegado tão longe.
O feito espantou tudo e todos: deputados, senadores e até a diretora dos serviços secretos norte-americanos, Julia Pierson, que considerou “inaceitável” como se deixou um homem, que carregava uma faca, chegar tão longe: quando, apenas cerca de 10 minutos antes, Barack Obama e a família tinham abandonado a Casa Branca. E, ao que parece, a intrusão até explorou mais do que inicialmente foi revelado na queixa entregue ao Tribunal Federal de Washington.
No dia do incidente soube-se que, por volta das 19h30 locais, um homem tinha saltado a vedação e sido intercetado pela segurança à entrada do edifício. Agora, porém, e citando relatos de pelo menos três pessoas “familiarizadas com o incidente”, o Washington Post escreveu que Omar González terá conseguido chegar à East Room, a maior divisão da Casa Branca, e só foi parado quando já estaria muito perto da porta que dá acesso à Green Room — onde, por norma, o presidente recebe os convidados em visita oficial aos EUA.
Em suma, este foi o primeiro intruso, pelo menos dos que se tem conhecimento, que conseguiu chegar a entrar na Casa Branca. Agora a pergunta: como foi isto possível? A resposta até pode ser simples — deveu-se a uma falha de segurança. O problema, avançou o diário norte-americano, é que González foi capaz de entrar no edifício porque os guardas terão desligado um sistema de segurança que, em parte, serve para avisar o agente que está na porta principal da existência de um intruso, de modo a que este a tranque imediatamente. E o tal sistema não estaria a funcionar pois, alegadamente, foi desligado devido ao barulho que emitia.
O sistema, denominado “crash boxes”, trata-se de um conjunto de caixas, espalhadas por vários pontos da Casa Branca e do jardim, cada uma com um botão vermelho que os guardas devem premir quando há uma ameaça à segurança do edifício. Assim que é acionado, o sinal avisa o guarda responsável por vigiar a porta de entrada, para que este a tranque. Naquele dia, contudo, o sistema estaria desligado pois o staff de empregados da Casa Branca — cujos quartos se encontram perto da entrada do edifício — se teriam queixado e considerado “incomodativo” o ruído que o sistema emitia.
Como tal, a agente dos serviços secretos responsável por guardar a porta não estava à espera que Omar González irrompesse. Resultado: ultrapassou-a facilmente. E mais. Quando um intruso é detetado, o plano de segurança da Casa Branca tem previstas várias “camadas” de proteção para impedirem que alguém alcance a casa. Uma delas, noticiou ainda o Washington Post, prevê que um cão seja solto e que ataque o intruso. Algo que também não aconteceu.
Today Show: Secret Service Story: http://t.co/9vINMwCmHc
— Jason Chaffetz (@jasoninthehouse) September 29, 2014
O FBI já deu início a um inquérito que pretende averiguar o que realmente se passou a 20 de setembro. “A ser verdade, o facto de as ‘crash boxes’ terem sido silenciadas para evitar que fossem incomodativas não se deveu a falta de meios ou ao número insuficiente de barreiras [de segurança]”, defendeu Jason Chaffetz, membro do congresso dos EUA e chefe do sub-comité responsável por garantir a segurança da Casa Branca. “Tenho sérias dúvidas quanto à liderança e ao protocolo dos serviços secretos”, revelou o dirigente.
O próximo passo, informou Chaffetz, passa por ouvir Julia Pierson e interrogá-la sobre como foi possível que Omar González, um homem de 42 anos que saiu de Copperas Cove, no estado do Texas, para invadir a Casa Branca, tenha conseguido entrar no edifício que acolhe o presidente dos EUA. E por que demorou alegadamente nove dias para se saber que, afinal, o intruso tinha ido bem mais longe do que inicialmente foi revelado.