Martin Schulz, candidato socialista, diz que não há União Europeia sem Portugal, enquanto Jean-Claude Juncker, candidato do Partido Popular Europeu (PPE) e ex-primeiro-ministro do Luxemburgo afirma ter “uma ligação especial” ao país. Nesta eleição, todos os votos dos 28 Estados-membros contam para suceder a Durão Barroso e Portugal também é campo de batalha na disputa pelo cargo de presidente da Comissão – mesmo sendo um país do Sul, sujeito a ajuda externa e com altos níveis de abstenção. Afinal, entre Schulz e Juncker, quem gosta mais de Portugal?

Schulz e Juncker disputam há mais de dois anos o coração dos portugueses. Com visitas frequentes ao país, impulsionadas pelos cargos que ocuparam durante os últimos anos – Martin Schulz na qualidade de presidente do Parlamento Europeu e Jean-Claude Juncker como primeiro-ministro do Luxemburgo e presidente do Eurogrupo -, os dois candidatos das maiores famílias políticas europeias procuraram conquistar simpatias. A cereja no topo do bolo surgiu agora, com a visita dos dois candidatos apoiando as campanhas de Francisco Assis e de Paulo Rangel, cabeças de lista nacionais do PS e da coligação PSD/CDS-PP.

Apesar de terem pensamentos divergentes sobre o futuro da Europa, demonstram ter um objectivo comum: serem os melhores amigos de Portugal no seio da União Europeia.

O pastel de nata de Juncker e a selfie de Schulz

Quando aterrou em Portugal, Jean-Claude Juncker tinha um desejo: comer pastéis de nata. O desejo foi concedido por Passos Coelho, na sede do PSD em Lisboa. O ex-primeiro-ministro do Luxemburgo esteve este sábado e domingo em Portugal, cumprindo a missão de visitar os 28 Estados-membros antes das eleições. Mas esta não foi uma paragem qualquer para Juncker. “Portugal é um dos meus dois países europeus preferidos, mas não vos vou dizer qual é o outro” confessou.

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Mas isto não é novidade. “Se há alguém nesta sala que é amigo de Portugal e da Irlanda, que fazem parte dos meus países preferidos na Europa, por razões óbvias, sentimentais e pessoais, sou eu”, disse Juncker em 2012, numa reunião do Eurogrupo, referindo-se ao alargamento da flexibilização das metas garantidas à Grécia aos restantes países em ajustamento. E como poderia não gostar? Durante 18 anos governou um país em que 20% da população é portuguesa ou luso-descendente, um factor que o aproxima de forma “especial” ao país, como não hesita referir. “Quando estou neste País estou em harmonia comigo mesmo”, disse este fim de semana.

Quem também não se sente nada mal em Portugal é Martin Schulz. “Não sou um estrangeiro em Portugal, sou um europeu da Alemanha e sinto-me orgulhoso de ser chamado de amigo”, assegurou o candidato socialista a 6 de Maio quando passou um dia em Lisboa em campanha, unindo António José Seguro e António Costa na mesma arruada pelo Chiado. Um espírito conciliador que até conseguiu uma selfie das verdadeiras com a família socialista portuguesa.

Selfie Seguro

Schulz que gosta de fugir às visitas tradicionais sempre que vem a Portugal – quando esteve no país em Janeiro de 2013 pediu para se encontrar com jovens no gabinete do Parlamento Europeu em Portugal e quis conhecer um pouco da ação social do país, confraternizando e comendo sardinhas com pessoas sem-abrigo na associação CAIS -, esteve na Cáritas e conheceu crianças, idosos e mulheres que voltaram a estudar.

Do que Schulz também não foge quando está em Portugal é dos livros e dos escritores portugueses. Livreiro durante vários anos, Schulz encontrou-se com António Lobo Antunes em Lisboa no ano passado – com quem diz ter aprendido o verdadeiro significado da palavra saudade e com quem manteve uma conversa emotiva -, e desta vez ao descer o Chiado não hesitou em demorar-se na Bertrand, a livraria mais antiga do mundo. A última paragem desta descida foi já no Campo das Cebolas, na Fundação José Saramago. Inspirado pela visita, confessou mesmo: “Isto é o que quero fazer depois da minha vida política. Escrever”.

Amor, amor, política à parte

O amor pelos países do Sul, em particular por Portugal, esteve sempre nos seus discursos mais políticos e manteve-se nas mais recentes visitas de campanha. “Quero acabar com esta divisão idiota entre países do Norte e do Sul”, manifestou Jean-Claude Jucnker na Trofa enquanto bebia champanhe e tentava parabenizar o país pela saída da troika em português. O sotaque francês até o pode ter safado, mas comparar os socialistas ao navegador Cristovão Colombo como se este fosse português não caiu bem. Seja como for, ficou a crítica: “Eles lembram-me um dos vossos compatriotas mais prestigiados: Cristóvão Colombo. Quando partia nunca sabia para onde ia, quando chegava nunca sabia onde estava, e era o contribuinte que pagava a viagem. É desta forma que procedem os socialistas dos nossos dias”.

Sem imprecisões históricas e à sua maneira, Schulz também elogiou a saída crise com alguma ironia. “É um passo em frente que os países saiam dos programas de ajustamento. Os bancos, agora, decidiram comprar dívida soberana. Se isto significa que a crise acabou, o meu conselho é: vão ver a Caritas”, aconselhou. Crítico da actuação da troika, especialmente do FMI, Schulz nunca deixou de referir enquanto presidente do Parlamento Europeu – ajudando assim o discurso dos socialistas nacionais – que as condições de ajustamento a que o país esteve sujeito diziam também respeito à orientação do Governo de Passos Coelho. “O Governo português poucas vezes se escondeu atrás da troika, foi um dos poucos que admitiu abertamente que as medidas tomadas são as suas”, insistiu.

Juncker admitiu no passado que Portugal “cometeu erros como todos os outros os países” sem ser, no entanto, o culpado da crise europeia. Em fim de programa de ajustamento, o candidato do PPE elogiou este fim-de-semana a coligação e os sacrifícios dos portugueses, mas mostrou conhecer a realidade portuguesa: “Não considero que a crise terminou definitivamente. É certo que existem portugueses sem trabalho, assim como existem jovens sem trabalho”.

Schulz também não pinta cenários cor de rosa. “Portugal foi um dos países mais atingidos pela crise financeira. As políticas apenas de austeridade deixaram os portugueses num estado de dor e incerteza, enquanto os serviços públicos pioraram, o desemprego aumentou drasticamente e o crescimento estagnou” sublinha, lembrando o capital social que tem vindo a recolher nos últimos dois anos: “Um voto no Partido Socialista é um voto em mim”.