A Turquia anunciou esta segunda-feira que vai permitir a passagem de combatentes curdos iraquianos, conhecidos por peshmerga, para ajudar as forças curdas sírias que lutam contra o Estado Islâmico pela cidade de Kobane, na fronteira da Turquia com a Síria.

Esta decisão marca uma mudança na atitude de Ancara, que estacionou tanques junto à fronteira, mas se tinha recusado até agora a prestar qualquer tipo de apoio às forças curdas no território, por recear a ligação destas ao PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), que luta há décadas pelos direitos da minoria curda na Turquia. A posição turca suscitou críticas por parte dos curdos, que acusaram o presidente Erdogan de abandonar Kobane às mãos dos radicais do Estado Islâmico.

O anúncio foi feito pelo ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu, durante uma conferência de imprensa na capital turca. “O Governo vai ajudar os peshmerga a atravessar a fronteira para Kobane”, disse, citado pelo New York Times. Em Jacarta, na Indonésia, John Kerry disse que Washington pediu a Ancara que ajudasse as forças curdas e outros grupos a chegar à cidade.

Aos jornalistas, Kerry admitiu perceber as hesitações turcas. “Compreendemos perfeitamente os fundamentos da oposição de Ancara – e a nossa oposição – a qualquer tipo de grupo terrorista e, em particular, os desafios que a Turquia enfrenta no que diz respeito ao PKK”, disse o secretário de Estado norte-americano, acrescentando: “Não podemos ignorar o que importa aqui. Seria irresponsável da nossa parte, bem como muito difícil do ponto de vista moral, virar as costas a uma comunidade que está a lutar contra o Estado Islâmico”.

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No domingo, os Estados Unidos lançaram munições, armamento e medicamentos para ajudar os combatentes curdos no terreno, num claro reflexo da pressão existente a nível internacional para impedir o Estado Islâmico de conquistar a cidade que está sob os ataques dos jihadistas há mais de um mês. No terreno, os curdos sírios têm tido dificuldades em travar o avanço dos jihadistas do Estado Islâmico, mais bem equipados. Os ataques aéreos liderados pelos EUA permitiram às forças no terreno fazer recuar os radicais islâmicos. Mas estes contra-atacaram nos últimos dias. Os curdos queixaram-se sempre da falta de munições e de armamento, tendo declarado que os ataques aéreos não seriam suficientes.

As Unidas de Proteção do Povo (YPG), o braço armado do principal partido curdo, a União Democrática da Síria (PYD), confirmou à Reuters ter recebido uma “grande quantidade” de munições e armamento no domingo, que teriam um “impacto positivo” na luta pela cidade, não sendo, no entanto “suficiente para decidir a batalha”, segundo Redur Xelil, um porta-voz do YPG.

“Não acreditamos que a batalha de Kobane acabe tão cedo. As forças do Estado Islâmico estão muito fortes e determinadas em ocupar a cidade”, continuou Xelil. Na noite de sábado, o presidente Barack Obama avisou Erdogan da missão aérea para reforçar os curdos sírios. O presidente turco opôs-se publicamente ao armamento pelos EUA de militares curdos em Kobane, que Erdogan considera terroristas, escreve a CNN. O porta-voz do Governo Regional do Curdistão disse que a região curda do Iraque estava pronta para enviar forças para Kobane. “Estamos preparados para enviar forças por terra ou por ar”, disse Jabar Yawar, citado pela Reuters.