O Papa Francisco denunciou esta quinta-feira “os mecanismos de morte” que exploram os trabalhadores, na sequência de angústias demonstradas pelo escritor e jornalista italiano Maurizio Maggiano sobre exploração no mercado livreiro.

Num texto publicado esta quinta-feira nos jornais italianos Secolo XIX e La Stampa, o Papa Francisco responde ao escritor e jornalista Maurizio Maggiani que dirigiu recentemente uma carta aberta ao chefe da Igreja Católica.

Dirigindo-se ao Papa, Maggiani referia-se “à vergonha” que diz ter sentido ao “descobrir” que os livros que publica, assim como de outros autores, são impressos por migrantes paquistaneses vítimas de exploração. 

Na carta aberta, Maggiani perguntava ao Papa se “vale a pena produzir beleza graças ao trabalho de escravos.”

“Não estás a fazer uma pergunta vaga porque o que está em jogo é a dignidade das pessoas. Dignidade que hoje e com demasiada frequência e facilidade se consegue através do ‘trabalho escravo’, e sob o silêncio cúmplice e ensurdecedor de muitos”, denuncia o Papa na resposta publicada esta quinta-feira.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Inclusivamente, a literatura, ‘pão para as almas’, expressão que eleva o espírito humano, está ferida pela voracidade de uma exploração que atua nas sombras escondendo os rostos e os nomes”, acrescenta o Papa Francisco.

“Publicar escritos bonitos e edificantes criando injustiças não é correto. Para um cristão, qualquer forma de exploração é um pecado”, diz ainda o Papa na carta publicada esta quinta-feira.

Como solução, o Papa escreve que “renunciar à beleza seria também injusto e uma omissão do bem” pelo que indicou “que a esferográfica ou o teclado de um computador oferecem outra possibilidade: denunciar e escrever coisas incómodas para tirar as pessoas da indiferença, estimular as consciências e perturbá-las para que não se deixem anestesiar“.

Deste modo, o chefe da Igreja Católica diz que a “cultura não se deve subjugar pelo mercado”.

“Necessitamos de uma denúncia que não ataque as pessoas mas sim que mostre as manobras obscuras que em nome do ‘deus do dinheiro’ afogam a dignidade do ser humano. É importante denunciar os mecanismos da morte”, propõe o Papa.

Francisco diz ainda que é necessário demonstrar “um forte sinal” e renunciar a posições e comodidades “aos que não têm espaço (para o fazer)” e “provar que é possível uma economia diferente com escala humana”.