Ponto de partida: são amigos pessoais do ex-primeiro-ministro e admitem que o canto de onde estão a ver o desenrolar de todo o caso parte dessa relação. Defendem-no, acreditam na presunção de inocência e lançam farpas à comunicação social, mas sobretudo ao método de atuar da justiça. Há quem defenda que o primeiro crime que deve ser investigado é a violação do segredo de justiça e quem diga que o que está a acontecer é uma atitude “vampiresca”.

Se muitos se têm remetido ao silêncio, sobretudo os que ainda têm cargos público, como alguns dos atuais deputados ou eurodeputados, outros têm declarado o apoio público – e a crítica pública – quer em jornais, quer nas redes sociais.

Sérgio Figueiredo, ainda administrador da Fundação EDP e futuro diretor de informação da TVI, titula a crónica que assina no Diário de Notícias com uma declaração de interesse pessoal: “Gosto de Sócrates” (só disponível para assinantes). Na crónica, Figueiredo espera “intensamente” que as suspeitas que recaem sobre o ex-primeiro-ministro não se confirme, mas deixa um porém: “Se as suspeitas forem confirmadas, se for julgado e condenado, Portugal será um país resgatado, fica melhor o ar que todos respiram e a crise de regime é, afinal, a morte de um regime que ninguém queria”. Ainda do ponto de vista pessoal, Figueiredo deixa uma promessa: “Sócrates perde tudo, a reputação, o dinheiro, a licenciatura e, provavelmente, os amigos. Dói só de pensar. Não é por isso que deixarei de procurá-lo. Onde quer que esteja”.

No núcleo de amigos, mas virando para políticos que partilharam com Sócrates responsabilidades políticas, Augusto Santos Silva deixou o silêncio e comenta nas redes sociais. O ex-ministro dos governos de José Sócrates, no seu tom irónico habitual, tem partilhado várias crónicas sobretudo sobre a maneira como os meios de comunicação social e a justiça têm agido e, ao segundo dia da detenção para interrogatório resumia o que deveria começar a investigação do Ministério Público: “Crimes públicos que foram já efetivamente cometidos, aos olhos de nós todos, entre anteontem e hoje: a violação do segredo de justiça”.

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Outro dos ex-ministros do governo de Sócrates a falar esta segunda-feira foi Rui Pereira. Na coluna que tem no Correio da Manhã, o ex-ministro da Administração Interna lembra que é necessário “fundamentar em indícios graves da prática de crimes a que seja aplicável prisão preventiva”. E acrescenta que “a detenção para mera apresentação perante autoridade judiciária só se justificaria se não pudesse ser obtida espontaneamente. Porém, não são os indícios que garantem, por si só, uma condenação futura, nem uma absolvição prova um erro anterior”.

Quem também comentou o caso do ponto de vista da atuação da justiça foi André Figueiredo, deputado socialista e um dos homens próximos de José Sócrates. André Figueiredo, começou por dizer que não iria comentar nada do que é “veiculado ‘vampirescamente'”, para logo de seguida fazer a defesa do amigo, lembrando que este tem sido “permanentemente perseguido, atacado e vilipendiado”. A declaração de Figueiredo até contrasta com o que tem sido a posição dos socialistas, que, a começar por António Costa, não enveredaram pela teoria da cabala. A palavra não aparece, mas Figueiredo deixou essa ideia ao dizer que não se trata de um detido qualquer, mas de José Sócrates, “o tal a quem o descanso de alguns só chegará após a sua “eliminação”.

Fazendo uma mistura entre o plano político e plano pessoal, Renato Sampaio, deputado, diz que esta situação pode “eventualmente ter efeitos negativos para o PS”, mas que a “acredita” na inocência de Sócrates. “Diante da situação não nos resta outra alternativa que não seja acreditar na sua inocência e na sua boa fé. Eu acredito”, escreveu no Facebook.

Mas o socialista também defende o “silêncio”. “Diante da situação não nos resta outra alternativa que não seja remetermo-nos ao silêncio, esperar e acreditar que se faça justiça e a verdade impere”. E é isso mesmo que tem acontecido com a maioria dos socialistas. A primeira reação foi de choque e prudência nas palavras e agora, de contenção, à espera do desenrolar dos acontecimentos. E foi isso mesmo que pediu o já eleito líder do partido, António Costa. Pediu uma separação entre sentimentos de amizade e a ação política do partido.