Portugal consta da lista de 26 Estados-membros afetados pelo comércio ou distribuição de ovos contaminados com o pesticida tóxico fipronil, segundo a mais recente lista da Comissão Europeia, a que a Lusa teve acesso, esta terça-feira. Porém, à TSF, o Ministério da Agricultura garantiu, de imediato, que estes ovos não estão à venda em Portugal.
Entretanto a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) veio esclarecer o que aconteceu para Portugal integrar a lista da Comissão Europeia e, ainda assim, não haver ovos destes à venda, nem, por sua vez, perigo para a população.
Os serviços dos RASFF (Rapid Alert System for Food and Feed) comunicaram às autoridades portugueses o envio de uma remessa de ovos para um consumidor final em Portugal. Os ovos pertenciam a um lote proveniente da Bélgica sobre o qual recai a suspeita de contaminação por Fipronil”, lê-se no comunicado enviado esta terça-feira às redações.
Como os ditos ovos estavam na posse do consumidor final, explica a DGAV, “o controle da recolha do produto ficou a cargo da ASAE”. E, por se tratar de “uma situação pontual, que está detetada, as autoridades portuguesas estão a tomar todas as diligências e a prestar informação às autoridades europeias a fim de retirar Portugal da lista de países afetados pela contaminação”.
A DGAV adianta ainda que mal souberam da existência destes produtos contaminados na União Europeia, “as autoridades portuguesas desencadearam uma operação de fiscalização das explorações nacionais e de recolha de amostras para análise. Todos os resultados foram negativos”.
Os ovos consumidos em Portugal são essencialmente provenientes da produção nacional e são de casca castanha. A contaminação por Fipronil foi detetada em ovos de casca branca, produzidos e comercializados por outros Estados-Membros da União Europeia.”
Na União Europeia só na Croácia e a Lituânia não foram ainda detetados ovos contaminados, uma crise que atinge também a Noruega, o Liechtenstein, a Suíça e a Rússia.
Hungria deteta produtos com ovos contaminados com pesticida e torna-se o 17.º país da UE afetado
Crise “rebentou” em julho com alerta na Bélgica
A “crise” dos ovos contaminados rebentou em julho deste ano, quando a Bélgica alertou as autoridades comunitárias que tinha detetado ovos afetados com um pesticida tóxico.
Oito dias depois, a Holanda lançou um alerta alimentar por suspeita de contaminação, mas só a 3 de agosto é que as autoridades holandesas advertiram de que, em alguns lotes de ovos, a quantidade do pesticida era superior aos limites e poderia representar um perigo para a saúde dos consumidores. Na altura em que os casos de contaminação foram conhecidos, a Direção-Geral da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural (DGAV), informou que os ovos em causa não estão à venda em Portugal.
Desde então têm-se multiplicado as acusações mútuas, sobretudo entre Bélgica e Holanda. A Bélgica acusou a Holanda de ter conhecimento desta contaminação desde novembro de 2016 e ter falhado na notificação aos outros países, uma informação negada pelas autoridades holandesas. Por sua vez, a própria Bélgica teve de admitir, segundo a France 24, que sabia desta contaminação desde junho mas que manteve tudo em segredo durante quase dois meses porque estavam a decorrer investigações criminais.
Mas no início de agosto os dois países decidiram unir-se e criaram uma força de trabalho conjunta, tendo visitado de surpresa oito quintas de aves de capoeira na Holanda, tendo resultado em duas detenções.
Milhões de ovos foram retirados das prateleiras dos supermercados em toda a Europa desde que o escândalo foi relatado em julho deste ano.
Consumo em excesso pode ser “moderadamente tóxico”
Em grandes quantidades, o pesticida fipronil — usado normalmente em animais domésticos como cães e gatos para eliminar parasitas externos — é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como “moderadamente tóxico” para o homem, podendo causar efeitos perigosos nos rins, fígado e tiroide.
Segundo as autoridades de saúde holandesas, o consumo deste pesticida pode causar “náuseas, vómitos, dor abdominal, tonturas e convulsões epiléticas”. E a direção geral de alimentação alemã veio já esclarecer, segundo a BBC, que um consumo excessivo de fipronil no curto prazo “não significa automaticamente que o consumo dos alimentos em questão envolva um risco para a saúde”.
O uso deste pesticida é expressamente proibido em animais destinados ao consumo humano, como as galinhas.