Nem tudo o que é bom para os automobilistas é bom para a Galp. A queda acelerada da cotação do petróleo está a fazer recuar o preço dos combustíveis para níveis de 2010. O consumo em Portugal está a reagir, fonte do mercado adianta ao Observador que houve um crescimento importante em novembro, mas é preciso esperar pelo natal e ano novo, períodos de muitas viagens para perceber se o fenómeno é consolidado.
A baixa do preço do petróleo não é, no entanto, uma boa notícia para todos. Por um lado, petróleo barato tem sido associado a períodos de recessão económica e queda da procura, não obstante, desta vez os analistas internacionais apontaram também para uma perda de quota de mercado dos combustíveis para outras formas de energia.
O petróleo barato é também uma má notícia para as petrolíferas. Não tanto, por receberem menos nos combustíveis que vendem ao cliente final, uma vez que esse segmento do negócio corresponde à refinação e distribuição, mas sobretudo por receberem menos pelo petróleo vendem enquanto produtores e cujo preço de referência é o Brent ou a cotação dos Estados Unidos, o West Texas Intermediate (WTI).
Esta sexta-feira, o Brent usado em Portugal estava a negociar nos 62 dólares por barril, o valor mais baixo desde julho de 2009 e uma queda de 44% este ano. O WTI negociado em Nova Iorque estava abaixo dos 60 dólares, o preço mais baixo desde maio de 2009.
Em reação a estas desvalorizações, que se acentuaram com a queda das previsões de consumo divulgada esta sexta-feira pela Agência Internacional de Energia, as ações da Galp tiveram a pior semana desde junho de 2012, ou seja em 29 meses. Os títulos da petrolífera caíra, 9% esta semana, que foi também negra para a bolsa de Lisboa e acumulam uma queda de 28%.
Embora influenciada pelo ambiente pouco positivo do mercado português, a performance bolsista da petrolífera está a ser mais penalizada pela queda do petróleo porque a Galp está envolvida em investimentos avultados no aumento da produção de petróleo, sobretudo em águas profundas do Brasil. E o descalabro do preço do crude afeta a rentabilidade dos investimentos em exploração, sobretudo quando em projetos de como os de águas profundas onde a extração é mais cara.
No plano estratégico apresentado no início deste ano, a Galp previa investir em média 1,5 a 1,7 mil milhões de euros por ano até 2018, dos quais até 90% teriam como destino a exploração e produção de petróleo. Neste plano, a empresa previa que a cotação média do petróleo este ano rondasse os 100 dólares por barril.
Já há petrolíferas a anunciar cortes no investimento em nova produção, em particular nos projetos mais dispendiosos como os que apostam na exploração dos recursos não convencionais que resultam da extração a partir de lamas ou o shale oil (retirado a partir da fratura de rocha), mais comuns nos Estados Unidos e Canadá.
Ainda não há notícias de desaceleração no offshore brasileiro, mas os escândalos de corrupção que atingiram a Petrobrás, principal parceira da Galp nestas explorações, poderão também a afetar a capacidade da petrolífera brasileira para continuar a investir em grande.
Mas o petróleo é apenas uma parte, e no caso da gasolina nem sequer a maior, do preço final pago pelos consumidores. A maior componente são os impostos. Para o Estado, a descida do preço dos combustíveis tem dois efeitos contraditórios: por um lado recebe menos IVA porque esta taxa incide sobre o valor antes de impostos que quanto mais alto, mais receita dá. Por outro lado, a grande receita fiscal dos combustíveis, o imposto sobre produtos petrolíferos é fixo e não é afetado pela variação dos preços. A histórica recente tem mostrado que preços mais baixos convidam a uma maior procura, o que resulta em maior receita para o Estado.