António Botto, poeta que Fernando Pessoa considerava ser o único esteta em Portugal, tem andado esquecido. As edições mais recentes de algumas das suas obras saíram pela já desaparecida Quasi e estão, neste momento, indisponíveis. Quem quiser ler o que o autor escreveu terá de recorrer a um alfarrabista e a alguma sorte (muitos dos seus livros nunca foram reeditados e tiveram apenas pequenas edições). Mas o cenário está prestes a mudar.

Com o aproximar dos 60 anos da morte do escritor — que morreu a 16 de março no Rio de Janeiro, atropelado por um carro do governo brasileiro –, a Assírio & Alvim está a preparar uma nova edição das obras do poeta de Canções, cuja publicação deverá acontecer ainda este ano, confirmou ao Observador fonte oficial da editora. A organização será de Eduardo Pitta, que já tinha sido responsável pelas edições da Quasi.

Depois de décadas de esquecimento, António Botto, fenómeno único na literatura portuguesa, parece estar lentamente a ganhar espaço no panorama editorial português. Em finais de maio deste ano, saiu pela editora Sistema Solar, o ensaio O Mundo Gay de António Botto, da investigadora Anna Klobucka, que procura mostrar Botto como uma figura sem precedentes na história da literatura portuguesa, europeia e até mundial, ao mesmo tempo que dá a conhecer alguns materiais até agora inéditos.

Como refere a sinopse disponibilizada pela editora: o ensaio, fruto de vários anos de trabalho e pesquisa, “reavalia a figura literária de António Botto como um fenómeno excecional para a época, de um escritor que a partir do início dos anos 1920 corajosamente produz e coloca em circulação aberta (em revistas e livros acessíveis ao público leitor em geral) um discurso poético homoerótico sem precedentes no contexto não apenas português, mas também europeu e global”.

António Tomaz Botto nasceu a 17 de agosto de 1897, em Abrantes. Foi, porém, no bairro típico de Alfama que cresceu e viveu até aos 18 anos de idade, altura em que se mudou para uma rua da Baixa lisboeta. Até à data da sua morte, a 16 de março de 1959, publicou uma longa lista de livros, de diferentes géneros literários, de entre os quais se destaca a obra de poesia, de declarado teor homoerótico, Canções. Após o lançamento da segunda edição em 1922, pela editora Olisipo de Fernando Pessoa, esta tornou-se o centro de uma intensa polémica que envolveu Pessoa, Raul Leal e a de Ação dos Estudantes de Lisboa, que levou a cabo uma ação moralizadora contra a chamada “Literatura de Sodoma”. Como resultado, a venda do livro de Botto (e não só) foi proibida.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR