Angela Merkel e François Hollande vão fazer uma visita esta quinta-feira a Kiev (onde está John Kerry também), deslocando-se a Moscovo amanhã. Levam na bagagem uma proposta para tentar resolver a crise na Ucrânia. A iniciativa foi anunciada pelo Presidente francês pela manhã:

“Decidimos tomar uma nova iniciativa. Vamos fazer uma nova proposta para resolver o conflito que será baseada na integridade territorial da Ucrânia”, disse Hollande numa conferência de imprensa.

Hollande disse não ser favorável à integração da Ucrânia na NATO e disse não ter intenção de entregar armas a Kiev, mas fez um aviso sério a Putin, como anota o correspondente do Telegraph em Paris:

Desta visita o Presidente russo, Vladimir Putin, espera poder chegar a acordo com o Presidente francês e com a chanceler alemã e que estes tenham em consideração as propostas russas, referiu a Bloomberg. Putin espera que o grupo de trabalho sobre o acordo Minsk tome ações mais concretas, que o governo de Kiev estabeleça contacto direto com os separatistas, que se acabe com o armamento pesado, entre outras medidas que visem resolver o problema na Ucrânia.

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Há mais dados novos na mesa: a força de reação rápida da NATO vai ser reforçada.

O secretário-geral da NATO disse nas últimas horas que “a violência na Ucrânia tem piorado e a crise está a aprofundar-se”, acusou a Rússia de continuar “a ignorar as normas internacionais e apoiar os separatistas com armamento avançado, treino e efetivos”. Jens Stoltenberg, que está esta quinta-feira em Bruxelas, na Bélgica, para se reunir com os ministros da Defesa dos estados-membros, espera que se chegue a um acordo sobre a criação de uma resposta de emergência com cinco mil efetivos que pode, juntamente com outras medidas, ser usada como força de defesa coletiva na Ucrânia, referiu o El País.

Aproveitando a Conferência sobre Segurança que decorre esta semana em Munique, na Alemanha, Jens Stoltenberg espera reunir-se com o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, com o vice-presidente estadunidense, Joe Biden, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov. O secretário-geral da NATO defende que deve ser feito tudo o que estiver ao alcance da Aliança para reforçar a proteção coletiva.

Poroshenko envia alerta

A iniciativa franco-germânica aparece no dia em que o Presidente ucraniano disse estar pronto a dar um novo passo de confrontação com os separatistas, caso a situação no terreno não tenha melhorias.

“Se o conflito continuar a aumentar, estou pronto a declarar o estado de guerra em todo o país e o Parlamento vai apoiar essa decisão”, disse Petro Poroshenko, em entrevista ao El País. Acrescentou no entanto que não o fará para já, “porque isso significaria uma limitação da democracia e das liberdades e ameaçaria o desenvolvimento da economia”. De qualquer forma, o Poroshenko diz que o sucesso das negociações em curso, o processo diplomático de Minsk, depende do Presidente russo, Vladimir Putin.

O acordo de Minsk, que incluiu representantes da Ucrânia, da Rússia, da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e das autoproclamadas Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk, implicaria um cessar fogo imediato e uma fiscalização da OSCE para garantir que não existiriam ataques. É um acordo reconhecido pelas várias partes, mas ainda não está em vigor.

Para Petro Poroshenko, que se afirma como “um Presidente para a paz, não para a guerra”, não é possível negociar se a Ucrânia tem de estar constantemente preocupada em defender-se dos ataques armados. Ainda que defenda o cessar-fogo, o Presidente considera que o país “tem grande necessidade de armas, mas de armas defensivas, meios de comunicação protegidos para dirigir as tropas, aviões sem piloto, meios de luta eletrónica, radares para estabelecer a origem dos ataques”.

O presidente ucraniano diz que os estados do Ocidente têm dificuldade em perceber que o conflito na Ucrânia não é comparável a outros conflitos em regiões da ex-União Soviética. Enquanto nesses conflitos era usado armamento ligeiro, em Donetsk e Lugansk “participa a máquina militar mais potente de todo o continente”. “Não se trata de um guerra civil, porque se se retirassem as tropas estrangeiras a ordem era reposta no território ucraniano em duas semanas, por via democrática, não por via militar”, acrescenta.

Na entrevista, Petro Poroshenko explica ainda outras condições do processo diplomático. “Os acordos de Misnk preveem a libertação de todas as detenções ilegais, o encerramento das fronteiras, a retirada das tropas estrangeiras, de mercenários e da artilharia pesada, tanques, armamento, sistemas de lançamento múltiplo de rockets e depois um processo de regulação política com eleições locais conforme a legislação ucraniana para identificar os interlocutores para discutir a eventual reintegração do território.”

* Correção na informação sobre o acordo entre os estados-membros da NATO

Atualizado às 15h30