Ao longo de 82 minutos de discurso — o terceiro mais longo de sempre na História do Estado da União —, Donald Trump tocou em vários temas, anunciou algumas medidas e mandou ainda algumas alfinetadas.

Nas próximas linhas, leia e entenda as principais frases do segundo discurso do Estado da União de Donald Trump.

“Podemos tornar as nossas comunidades mais seguras, as nossas famílias mais fortes, a nossa cultura mais forte, a nossa fé mais profunda e a nossa classe média maior e mais próspera do que nunca. Mas para isso temos de rejeitar a política da vingança, da resistência e da retribuição, e abraçar o potencial ilimitado da cooperação, dos compromissos e do bem comum.”

Logo na primeira parte do discurso, Donald Trump procurou dar o tom a quase hora e meia que se seguiu: moderação e conciliação, em nome do bem comum. Esta é possivelmente a passagem em que essa ideia ficou mais clara, com Donald Trump a opôr claramente a “resistência” — termo que a oposição democrata e liberal adotou desde cedo contra a sua administração — a uma desejada “cooperação”. O resto do discurso, porém, como veremos, não foi propriamente escrito com essa orientação.

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“Sexta-feira foi anunciado que criámos 304 mil empregos só no mês anterior, praticamente o dobro daquilo que esperávamos. Está a acontecer um milagre económico nos EUA e a única coisa que o pode parar são guerras absurdas, política ou investigações partidistas ridículas.”

Que Donald Trump ia referir os indicadores económicos dos EUA era já garantido — é ali que o Presidente norte-americano tem objetivamente mais razões para se gabar. O que não era garantido era que viesse a falar da investigação do alegado conluio da sua campanha com o Kremlin — e muito menos que o fizesse ainda com o embalo do balanço económico. A tirada foi, no mínimo inesperada — tanto porque o tom até então era conciliatório e também pelo seu timing. Nancy Pelosi, que assistiu ao discurso nas costas de Donald Trump, arregalou de imediato os olhos.

No passado, muitos de vocês, que estão aqui nesta sala, já votaram a favor de um muro, mas um muro como deve ser nunca foi construído. Eu vou construi-lo.”

Este discurso do Estado da União era, supostamente, para ter sido uma oportunidade para Donald Trump se aproximar dos seus interlocutores democratas e deles conseguir alguma concessão política no que diz respeito à imigração. Porém, sobre o muro em específico, Donald Trump afirmou-se indisponível para se desviar do seu caminho — e, não por acaso, falou do muro em 15 ocasiões distintas.

“Se eu não tivesse sido eleito Presidente dos EUA, neste momento, na minha opinião, estaríamos numa enorme guerra com a Coreia do Norte. Ainda há muito trabalho pela frente, mas a minha relação com Kim Jong-un é boa. O Presidente Kim e eu vamos encontrar-nos de novo a 27 e 28 de fevereiro no Vietname.”

Só se andasse distraído é que Donald Trump não ia falar da Coreia do Norte. Depois de a agenda mediática de 2018 ter sido marcada pelo acontecimento que foi a cimeira história de entre o Presidente dos EUA e Kim Jong-un, em Singapura, Donald Trump entrou para a História como o primeiro inquilino da Casa Branca a encontrar-se com um líder do regime mais fechado do mundo. Desde então, os dois países têm estado em contacto permanente — e os dois líderes preparam-se agora para repetir o gesto do ano passado, desta vez no Vietname.

Nos últimos anos, temos tido progressos assinaláveis na luta contra o VIH e a sida. Os desenvolvimentos científicos trouxeram um sonho outrora distante para o nosso alcance. O meu orçamento vai pedir aos democratas e aos republicanos para assumirem os compromissos necessários para eliminarem a epidemia do VIH nos EUA nos próximos dez anos. Juntos, vamos derrotar a sida na América. E mais além.”

Entre as poucas menções que fez ao vasto tema da ciência, Donald Trump chegou a falar do espaço — e prometeu: “Este ano, voltaremos ao espaço em foguetões americanos” — mas também tocou num tema bastante mais próximo, que é a epidemia do VIH e da sida. Sem que este tenha sido um tema de particular preocupação desta administração até hoje, Donald Trump fixa agora a eliminação desta epidemia nos EUA — e não só — na próxima década.

Aqui nos EUA, temos estado sob alarme perante os pedidos de que se adopte o socialismo no nosso país. América foi fundada sob os valores da liberdade e independência, e não da coerção, do domínio e do controlo do governo. Nascemos livres e vamos continuar livres. Esta noite, renovamos a determinação de que a América nunca vai ser um país socialista.”

Na maior parte da Europa “socialista” é verbo de encher, mas nos EUA ainda é uma espécie de palavrão. Ainda assim, são cada vez mais os políticos no Congresso que assumem o rótulo de “socialista democrata”, entre eles a representante Alexandria Ocasio-Cortez, que é também a mais jovem de sempre naquela câmara. Por isso, não foi por acaso que Donald Trump estava a olhar para a bancada democrata quando falou do “alarme” que sente com a possível chegada do socialismo nos EUA.