Manuel Clemente, de 66 anos, foi um dos 15 cardeais com capacidade eleitoral (menos de 80 anos) escolhidos pelo papa Francisco em janeiro, uma decisão considerada honrosa para a Igreja portuguesa. Como sublinhou o bispo auxiliar de Lisboa, Joaquim Mendes, através do novo cardeal a Igreja portuguesa sente-se “mais vinculada ao santo padre e à Igreja universal”.

Manuel Clemente manifestou-se agradado com a possibilidade de poder colaborar mais diretamente com o papa Francisco, com quem afirma identificar-se, mas garante que recebeu a nomeação com surpresa.

A indicação do patriarca de Lisboa para um lugar de cardeal é uma tradição desde que o papa Clemente XII emitiu, em 1737, uma bula nesse sentido, sendo habitualmente nomeado no primeiro consistório após a tomada de posse como líder da diocese. No caso de Manuel Clemente, o primeiro consistório ocorreu quando o patriarca emérito José Policarpo – já falecido – era ainda cardeal, não sendo habitual existirem dois cardeais eleitores na mesma diocese.

Manuel Clemente lembrou, em declarações à Agência Ecclesia, que o papa Francisco “não estava obrigado” a seguir essa orientação, e disse encarar a nomeação não como uma honra, mas como um serviço.

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“Constituiu uma certa surpresa porque de acordo com o que tem sido a atuação do papa Francisco e a liberdade que ele tem em relação a usos e costumes anteriores, admitia já que também isto fosse coisa do passado, devo confessar”, disse o patriarca.

Com a entrada de Manuel Clemente para o Colégio Cardinalício, Portugal estará representado neste órgão da Santa Sé por três cardeais – Manuel Clemente, Monteiro de Castro (76 anos) e Saraiva Martins (83 anos) -, sendo que apenas os dois primeiros têm direito de voto na escolha do líder da Igreja Católica. O Colégio conta atualmente com 208 cardeais – 110 eleitores e 98 não eleitores – sendo que a partir de sábado o número de cardeais eleitores sobe para 228, 125 eleitores e 103 não eleitores. Até final de 2015, quatro cardeais vão completar 80 anos de idade, deixando por isso de votar na escolha do papa.

Na sua história, Portugal – uma das duas igrejas patriarcais do ocidente – contou até hoje com 43 cardeais, tendo Manuel Monteiro de Castro sido o mais recente, em 2012, no pontificado de Bento XVI. O primeiro cardeal português chamava-se Mestre Gil, escolhido pelo Papa Urbano IV (1195- 1264) e era tesoureiro da Sé de Coimbra e cónego de Viseu. O anterior patriarca de Lisboa, José Policarpo, foi designado cardeal em 2001 pelo papa João Paulo II e participou na eleição do papa Bento XVI, em 2005.

Manuel José Macário do Nascimento Clemente nasceu em Torres Vedras, distrito de Lisboa.mFormado em História, ingressou no Seminário Maior dos Olivais em 1973, tendo-se licenciado em Teologia, em 1979, pela Universidade Católica Portuguesa e doutorado em Teologia Histórica em 1992. Ordenado sacerdote em 1979, foi coadjutor das paróquias de Torres Vedras e Runa (1980) e membro da equipa formadora do Seminário Maior dos Olivais (entre 1980 e 1989), o qual viria a ser reitor. Foi nomeado bispo titular de Pinhel, auxiliar do Patriarcado de Lisboa e bispo do Porto.

Atualmente, é presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e membro do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais. Com diversos livros e estudos publicados sobre História e Teologia, foi “Prémio Pessoa 2009”. Em maio de 2013, foi nomeado pelo papa Francisco como 17º Patriarca de Lisboa, sucedendo a José Policarpo.