12 de janeiro de 2009. O Braga perde no Estádio da Luz, com o Benfica, e Jorge Jesus, na sala de imprensa, entre criticas à arbitragem, quando foi questionado sobre como pode um clube (que não um dos três grandes) intrometer-se na luta pelo título, respondeu, irónico: “Como resolvo isto? Só resolvo na Playstation!”. No final da temporada, Luís Filipe Vieira foi buscá-lo a Braga e Jesus, que no currículo só tinha um título da II Divisão (1991/1992) pelo Amora e uma Taça Intertoto (2008/2009) pelo Sporting de Braga, largou os comandos da consola e começou a ganhar à séria.
De águia ao peito, Jorge Jesus ganhou duas mão-cheias de títulos. Só campeonatos foram três e podiam ter sido mais, não fosse Kelvin tê-lo “ajoelhado” em pleno Estádio do Dragão. E fora de horas. O primeiro de todos ganhou-o em 2009/2010 e Jesus pôs o Benfica a dar espetáculo, com nota artística bem alta, como, volta e meia, afirmava. O bicampeonato, que não acontecia desde 1983/1984, na altura com Sven-Göran Eriksson, veio esta temporada. A tal, sabe-se agora, que foi a última de JJ na Luz. Mas o treinador não se ficou por aqui — venceu uma Taça de Portugal, em 2013/2014, e uma Supertaça Cândido de Oliveira na temporada seguinte. Já Taças da Liga foram aos magotes, cinco no total, desde 2009/2010 até à presente época.
Jorge Fernando Pinheiro de Jesus, 60 anos, sai do Benfica ao fim de seis épocas e regressa a um clube que conhece bem. E com qual, aliás, tem uma ligação passada e profunda. Jorge Jesus nunca omitiu o seu sportinguismo, e só os supracitados títulos ganhos na Luz amenizaram (quase completamente) o mal-estar que é ter um treinador do rival no banco.
O pai, Virgolino, foi atacante do clube entre 1943 e 1945, mas só foi utilizado de tempos a tempos. Teve uma passagem breve por Alvalade e pelo futebol. Afinal, era o tempo dos Cinco Violinos e do Sporting dominador em Portugal. Jorge, o filho, foi formado no Estrela da Amadora, da sua cidade natal, e ingressaria nos juniores dos leões em 1971/1972. Ao fim de duas temporadas na formação, é emprestado. Primeiro ao Peniche, e depois ao Olhanense, regressando a casa na época de 1975/1976.
Jogou, mas jogou pouco, e não convenceu Jimmy Hagan a mantê-lo no plantel. Seguiu para o Belenenses e, depois, fez carreira como avançado, de bons pés, mas discreto, ao longo de mais 13 épocas, até pendurar as botas no Almancilense, treinado pelo “Eterno Capitão”, Mário Wilson.
Regressa a Alvalade, mas regressa pela porta grande. Já não não é o garoto que Hagan ignorou, é bicampeão, titulado, treinador de renome, respeitado. Na Luz sempre teve artistas, jogadores com pés bem amigos da bola. Antes de Gaitáns e Salvios teve Aimares e Di Marías. Resta saber se em Alvalade também os terá, ou se será Jesus a ter de criá-los, como fez com Fábio Coentrão ou Nejmanja Matic, por exemplo.
O objetivo só poderá ser o de trazer o Sporting de volta ao título que mais quer — o campeonato, que foge aos leões desde 2001/2002. O primeiro desafio a doer será contra o “seu” Benfica dos últimos seis anos. É já a 9 de agosto, na Supertaça Cândido de Oliveira.