Altos responsáveis da Comissão Europeia estão a preparar-se para a possibilidade de a Grécia incumprir com um pagamento de dívida nas próximas semanas. A Reuters escreve esta sexta-feira que, perante o arrastar das negociações, os responsáveis já incluem nos cenários possíveis um cenário em que a Grécia protagonize o primeiro default (falha de pagamento) de um país na História da zona euro. O BCE, o FMI e vários Estados-membros estão “extremamente céticos” de que poderá haver um acordo a tempo, pelo que agora se admite, abertamente, que pode ser necessário um “plano B”.
“Pela primeira vez houve uma discussão sobre um ‘plano B’ para a Grécia”, disse uma das fontes citadas pela Reuters, uma informação corroborada por todas as outras fontes contactadas pela agência. Até agora, vários responsáveis têm negado a existência (e a necessidade) de discussões sobre um “plano B”, isto é, o que fazer se a Grécia incumprir com a dívida por não chegar a acordo com os credores e como o país pode permanecer na zona euro se isso acontecer. Em Bruxelas, essa ideia tem sido tabu, mas pelo menos desde abril que, segundo a imprensa alemã, Berlim discute como se poderá reagir a um default sem que isso leve à saída do euro.
A Grécia pediu ao FMI para não pagar os reembolsos de dívida de 5 de junho, o primeiro de quatro este mês, aglutinando todos os pagamentos de junho para o final do mês. Será um total próximo de 1,6 mil milhões de euros. O fim do mês de junho é, também, o prazo-limite para a conclusão das negociações relativas ao segundo resgate, que foram estendidas por quatro meses em fevereiro.
Neste contexto, os responsáveis em Bruxelas estão a admitir três cenários:
- Acordo. Segundo a Reuters, os responsáveis consideram que é um cenário cada vez menos provável, mas ainda se admite que as posições dos credores e da Grécia se aproximem a tempo de a Grécia receber os 7,2 mil milhões de euros que estão suspensos (além de outros recursos) e usá-los para evitar o default.
- Nova extensão do programa. Admite-se, também, que se faça uma nova extensão do segundo resgate, o que, ainda assim, obrigaria a medidas no sentido de dar algum oxigénio à tesouraria da Grécia. A extensão poderia ser, por exemplo, até final de setembro. Ainda assim, na segunda-feira o porta-voz do Governo grego, Gabriel Sakellaridis, recusou que esteja em cima da mesa a extensão do atual programa de ajuda à Grécia (“não é o que a economia precisa”), assim como a proposta feita à Grécia pela troika. O objetivo das negociações em curso é, ao invés, conseguir resolver o problema de financiamento “de médio prazo”, assim como os “problemas de liquidez” do Estado grego, disse o porta-voz.
- Aceitar que a Grécia não pague. Os responsáveis de Bruxelas concordaram que é pouco provável que se chegue a um acordo sobre as reformas na Grécia que permita uma conclusão do segundo resgate. Para isso, “seriam necessários progressos em poucos dias que não foi possível obter em várias semanas“, disse uma das fontes, acrescentando que existe um “ceticismo extremo” entre os responsáveis do BCE, do FMI e de alguns Estados-membros.
Neste terceiro cenário, os responsáveis concordaram que, muito provavelmente, teriam de ser aplicados controlos de capitais para evitar que os bancos sofressem uma corrida aos depósitos e que Atenas se visse obrigada a começar a imprimir moeda própria. Poderia ser um primeiro passo para um processo que poderia ser muito rápido e levar a Grécia a sair da união monetária. A este respeito, o Observador questionou, recentemente, “Do default à saída do euro quantos dias são?“.