A um dia da realização da cimeira extraordinária dos líderes da zona euro, o governo grego esteve reunido em conselho de ministros para preparar um derradeiro plano para desbloquear as negociações e evitar o cenário de default (incumprimento). Angela Merkel, François Hollande, Jean-Claude Juncker e Christine Lagarde falaram ao telefone várias vezes com Alexis Tsipras, que lhes apresentou as linhas gerais das novas propostas. Num comunicado divulgado posteriormente, o gabinete do primeiro-ministro grego confirmou os contactos de alto nível e disse que a oferta era a “solução definitiva”.

“O primeiro-ministro apresentou aos três líderes a proposta da Grécia para um acordo mutuamente benéfico, que irá trazer uma solução definitiva e não um adiamento do problema“, escreveu o gabinete de Alexis Tsirpas em comunicado.

Às mãos dos técnicos da troika, no entanto, ainda não chegou nenhum documento oficial, segundo fontes diplomáticas da UE citadas pela Bloomberg. Em todo o caso, as mesmas fontes, que não quiseram ser identificadas, adiantam que foi marcada para as 17 horas uma reunião entre técnicos dos credores para discutir o eventual novo pacote de medidas grego. Mas com uma ressalva: se antes das 17h ainda não tiverem recebido o plano, a reunião não será “produtiva”, dizem.

Ao que tudo indica, em cima da mesa está uma proposta para eliminar as reformas antecipadas a partir de 1 de janeiro de 2016 e uma nova taxa sobre empresas e particulares. Mas o pacote que vai ser apresentado aos credores vale 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, de acordo fontes governamentais citadas pela Bloomberg. Isto significa que se mantém a diferença de 0,5% que, segundo o ministro das Finanças Yanis Varoufakis, separa a Grécia das instituições internacionais que exigem cortes que equivalem a 2,5% do PIB.

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Atenas pretende cobrir este saldo negativo de quase mil milhões de euros com “medidas administrativas”, tal como foi referido no documento apresentado por Varaoufakis na reunião do eurogrupo e que não chegou a ser discutido.

Na área fiscal, Atenas aposta numa taxa sobre empresas com um lucro anual superior a 500 mil euros e uma “taxa de solidariedade” sobre rendimentos individuais acima dos 30 mil euros por ano.

Uma das áreas onde se mantém a divergência é nas taxas do IVA que os credores querem reduzir a dois níveis, contra os atuais três (que Portugal também tem), mas Varoufakis não quer ir por aí. Pode admitir, contudo, passar alguns alimentos e hotéis para a taxa de IVA mais elevada, como aconteceu com Portugal. Atenas poderá estar disponível para ir mais longe nas medidas de ajustamento orçamental, designadamente ao nível das taxas de IVA e das pensões mais altas, se a contrapartida for um alívio na dívida grega. Tudo indica que a nova proposta irá representar a ultrapassagem das “linhas vermelhas” desenhadas por Tsipras e Varoufakis.

O primeiro-ministro grego esteve esta manhã numa reunião extraordinária do governo para alinhar a estratégia para a reunião decisiva de amanhã, e para avaliar até onde poderá ceder nas promessas eleitorais para evitar o incumprimento (default). Para além de falhar o reembolso da dívida, em cheque está o pagamento ao FMI de 25 de junho de 1,5 mil milhões de euros, que Atenas só terá condições para cumprir se receber o que falta do empréstimo internacional. E mesmo em caso de luz verde amanhã, o tempo escasseia e seria preciso saltar várias barreiras processuais e formais para cumprir o calendário.

Mais do que um eventual default, ainda que temporário, no imediato a grande preocupação é a resistência do setor bancário, face à crescente hemorragia de depósitos que terá atingido cinco mil milhões de euros na semana passada, levando o BCE a elevar o financiamento de emergência.

Eurogrupo antecipado

A reunião dos ministros das Finanças, que antecede o encontro dos chefes de Estado e dos governos da zona euro (marcado para as 19h, menos uma em Lisboa), foi entretanto antecipada, anunciou o presidente do Eurogrupo no Twitter. Estava prevista para as 15h e vai afinal começar às 12h30 (11h30 em Lisboa).

Jeroen Dijsselbloem não explicou quais as razões da antecipação, mas o gesto deixa antever pelo menos que há muito trabalho pela frente e que o dia deverá ser longo.

Pressão total

Além de Jean-Claude Juncker, também a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, falaram com Alexis Tsipras este domingo, instando o líder do governo helénico a conseguir um acordo com os credores na segunda-feira. Segundo reportam os correspondentes do Financial Times em Atenas, Paris e Frankfurt, Merkel e Hollande deixaram a Tsipras a mensagem de que a reunião de segunda-feira “não é para negociar”, já que negociar com 19 países parece tarefa impossível nesta fase de urgência, mas sim para chegar a acordo com as instituições internacionais credoras – FMI, BCE e Comissão Europeia.

Se houver pelo menos algum terreno comum entre gregos e credores, tanto Merkel como Hollande terão dito a Tsipras que então aí, sim, os líderes da zona euro poderão começar a discutir a dívida grega e um terceiro programa. Hollande terá mesmo mostrado abertura para discutir o alívio da dívida e a reestruturação, que é o principal requisito apontado pela dupla Tsipras e Varoufakis.

François Hollande esteve este domingo em Milão, onde falou aos jornalistas depois de uma reunião com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, onde disse que devia ser feito tudo para manter a Grécia na zona euro. “Se a Grécia sair do euro não será bom nem para os gregos nem para os europeus”, disse, destacando que a Europa “precisa de estabilidade”.

Matteo Renzi, socialista, mostrou-se ainda mais otimista e disse acreditar mesmo na mensagem transmitida por Tsipras em comunicado: de que estavam reunidas todas as condições para que a Grécia e os credores internacionais cheguem a um acordo benéfico para ambas as partes. “Seria um erro não aproveitar esta janela de oportunidade”, disse numa conferência de imprensa conjunta com o presidente francês.

Alexis Tsipras deverá voar para Bruxelas ainda esta noite.