Quem conduz um automóvel eléctrico sabe que recarregar a bateria nem sempre é uma operação fácil e decididamente não é rápida. Além de encontrar um carregador disponível, idealmente adaptado à potência de carga do veículo, há ainda que realizar uma série de passos para iniciar a carga e depois pagar, na esmagadora maioria das vezes sem sequer conhecer o valor a despender. Para facilitar a vida dos utilizadores desta classe de veículos e simplificar todo o processo, a Powerdot aliou-se à miio e, juntos, conceberam o Autocharge, uma solução inovadora e 100% portuguesa que, curiosamente, já funciona lá fora, mas ainda não em Portugal.
Autocharge: Powerdot e miio facilitam carregamento. Para já em Espanha e França
A CEO da miio, Daniela Simões, traçou ao Observador a estratégia a longo prazo, recordando que a Powerdot é parceira da miio há muito e, juntas, já desenvolveram diversas parcerias inovadoras. Mas explica que “nem todos os postos vão permitir o funcionamento do Autocharge” e que “a rede da Powerdot será a primeira a ter os pontos de carga com a marca Autocharge”, embora espere que, no futuro, “outros Operadores de Pontos de Carregamento (OPC ) adiram a esta solução, pois apresenta uma série de vantagens para o utilizador”.
A Powerdot possui postos de carga em diversos países europeus, para além de Portugal, mas foi decidido começar a oferecer o Autocharge em França e em Espanha, onde o sistema já está operacional. E porque não em Portugal, onde foi concebido? O CEO da Powerdot, Luís Santiago Pinto, responde que o nosso país, controlado pela Mobi.E, “tem um sistema com uma regulação diferente dos restantes mercados, que tem inúmeras vantagens em relação ao que existe noutros países, mas que também tem algumas desvantagens”. Entre as vantagens figuram “a acessibilidade e a coerência da regulação”, aponta. Porém, de seguida recorda as desvantagens, afirmando que “as soluções mais inovadoras são mais complexas ou mais lentas de implementar, uma vez que existe mais uma entidade extra dentro do processo”.
“Em França e Espanha, não existe uma Mobi.E como entidade reguladora e, por isso, conseguimos desenvolver estas tecnologias e inovações de forma mais rápida”, lembra o responsável da Powerdot, acrescentando que Portugal não ficou esquecido nos planos de expansão do Autocharge. As negociações estão em marcha e que espera-se que o Autocharge esteja operacional no nosso país até ao final de 2023.
Pelo seu lado, Daniela Simões defende que o sistema português tem pontos positivos e negativos. “Efectivamente, temos uma camada no meio, que é a Mobi.E, que forçou o roaming obrigatório, o que lá fora ainda não acontece. Há movimentos na Europa para o tornar mandatório, estando-se até a recorrer a empresas privadas para o conseguir, mas por cá o nosso sistema garante que todos os players têm um nível tecnológico que lhes permite abraçar as tecnologias mais sofisticadas”, explica. “Daí que a Mobi.E atrase a solução, mas depois é tudo mais rápido. A burocracia cá é mais pesada e nós poderíamos ser mais ágeis na implementação, mas a verdade é que em França 60% da rede não permite carregamento digital e, por cá, há 100% dos postos a assegurar esta funcionalidade”, conclui Daniela.
Além de atrasar, ou pelo menos tornar mais difícil a adopção de novas soluções, a Mobi.E é apontada por ser parte do problema e não da solução. Isto já levou a críticas de empresas internacionais que exploram redes de carregadores como a Ionity, que possui uma rede de carga que funciona em toda a Europa com a sua aplicação, mas não em Portugal, ou a Plug&Charge da VW, que tem críticas do mesmo tipo, ou até da rede da Tesla, de longe a maior do país (sobretudo em pontos de carga com mais de 150 kW), mas que tem duas estações com cerca de 10 pontos de carga cada encerradas há meses, porque a Mobi.E exige agora (mas nunca até aqui) que se torne CEME (Comercializador de Energia para a Mobilidade Eléctrica), quando a empresa opera em toda a Europa sem esta obrigação (e fê-lo em Portugal até aqui).