O Centro de Previsão do Clima (CPC) da agência norte-americana que vigia as condições da atmosfera e oceanos (NOAA, National Oceanic and Atmospheric Administration) reforçou, esta quinta-feira, as previsões anteriores: “há uma probabilidade superior a 90% que o El Niño continue durante o inverno 2015-2016 no hemisfério norte e uma probabilidade de cerca de 85% de que dure até ao início da primavera de 2016”.
O fenómeno climático El Niño, apesar de ser global, afeta sobretudo o Pacífico sul – as correntes atmosféricas mudam, diminuindo as chuvas no sudeste asiático e que aumentam na costa oeste da América do Sul. A diminuição da pluviosidade na Indonésia e Austrália, por exemplo, podem levar a situações de seca extrema, enquanto as chuvas noutros locais podem provocar verdadeiras catástrofes – em 1997-1998, o El Niño atingiu gravemente o Peru com chuvas 16 vezes superiores ao normal.
O El Niño de 1997-1998 foi o mais forte do século XX, atingindo 2,3 na escala do Índice Oceânico do El Niño (Oceanic Niño Index). Este índice é criado com base nas temperaturas do oceano Pacífico ao nível dos trópicos, porque é o aumento da temperatura à superfície que vai aumentar a temperatura da atmosfera em contacto com o oceano e, consequentemente, alterar o fluxo das correntes atmosféricas.
A partir do momento que se atinja 0,5 nesta escala estamos perante um ano de El Niño e a partir de 1,5 é considerado um El Niño forte. O fenómeno deste ano já atingiu 1,0, mas prevê-se que continue a subir. A maior parte das previsões, segundo a CNN, apontam para que este El Niño ultrapasse 2,0 na escala (algumas previsões apontam mesmo para mais de 3,0). Se isto se verificar, este será o El Niño mais forte desde que se começaram a fazer registo nos anos 1950. Mas apesar das comparações com o que se passou em 1997-1998, os especialistas lembram que não existem dois eventos El Niño iguais e as previsões do que pode acontecer não significam certezas.
Segundo o Centro de Previsão do Clima, “espera-se que os impactos da temperatura e precipitação associados ao El Niño [nos Estados Unidos] continue nos mínimos durante o resto do verão no hemisfério norte e aumente no final do outono e inverno”, pode ler-se no site. “O El Niño vai provavelmente contribuir para uma temporada de furacões na costa Atlântica abaixo do normal e uma temporada de tornados acima do normal tanto na bacia central com na bacia oriental do Pacífico.”
A grande esperança, no caso dos Estados Unidos, é que à semelhança do que aconteceu em 1997-1998 aumente a pluviosidade na Califórnia que vive um período de seca há quatro anos. Mas os especialistas avisam que, mesmo que chova e neve muito na região, não é suficiente para compensar um período de seca tão longo, refere o Mashable. Seria preciso que chovesse o equivalente a três vezes a precipitação média anual, disse Kevin Werner, diretor dos serviços de clima na região oeste da NOAA. O El Niño de 1982-1983, um dos mais fortes dos últimos anos, só conseguiu aumentar a precipitação anual num fator de 1,9 vezes.
Em discussão continua a possibilidade de os fenómenos El Niño serem agravados pelas alterações climáticas. Apesar de não haver evidência científica sólida neste sentido, os impactos do El Niño (chuvas intensas e secas extremas) podem fazer-se sentir de forma mais severa nas regiões que já estão a sofrer as consequências das alterações climáticas. Certo é que este ano o El Niño começou mais cedo (em março) do que noutros anos e 2015 prepara-se para bater o recorde de ano mais quente alcançado em 2014.