O fenómeno climático El Niño, que se começou a desenvolver em março de 2015, poderá prolongar-se por mais nove meses, confirmou o Centro de Previsão do Clima (CPC) da agência norte-americana que vigia as condições da atmosfera e oceanos (NOAA, National Oceanic and Atmospheric Administration). Os especialistas receiam que este fenómeno faça de 2015 um ano globalmente mais quente que 2014.

Há 90% de probabilidade que o El Niño se prolongue durante o inverno do hemisfério norte e 80% de probabilidade que dure até à primavera, refere o CPC citado pela Reuters.

Já em 2014 se pareciam estar a criar as condições necessárias para o desenvolvimento dos fenómenos climático El Niño que, apesar de ser um fenómeno global, afeta sobretudo o Pacífico sul. Em pleno Mundial de Futebol, havia previsões de que as temperaturas aumentassem no Brasil, que se agravasse a seca no norte do país e que aumentasse a chuva no sul. Mas nada aconteceu. Pelo menos nada que pudesse ser associado a este fenómeno climático extremo.

Nos anos do El Niño as correntes atmosféricas mudam afetando sobretudo a costa oeste da América do Sul, o sudeste asiático e as ilhas da Oceânia. Os ventos que correm mais frequentemente de este para oeste, empurrando as águas superficiais mais quentes em direção à Indonésia, abrandam e as águas superficiais ao largo do Peru ficam mais quentes. As chuvas diminuem no sudeste asiático, onde podem ocorrer fenómenos de seca extrema, e aumentam na América do Sul. Em 1997-1998, o El Niño atingiu gravemente o Peru, com chuvas 16 vezes superiores ao normal. A Austrália também costuma ser atingida com seca extrema e grandes incêndios.

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Vídeo que explica o fenómeno El Niño – Crédito: Met Office, Reino Unido

Na América do Norte também se podem fazer sentir alguns efeitos: a costa oeste dos Estados Unidos poderá ter um inverno mais húmido e na costa este a tendência será para uma época dos furacões menos intensa, disse ao Observador José Castanheira, investigador em Dinâmica de Clima na Universidade de Aveiro. “Os valores dos prémios de seguro variam entre a costa oeste e a costa este durante os anos de El Niño”, acrescenta o professor do Departamento de Física. Já o Canadá e Alasca poderão ter invernos mais frios.

A probabilidade de chuvas intensas na Califórnia está a ser recebida de forma mais ou menos positiva, referiu o USA Today. Por um lado, pode significar o fim da seca que atinge aquele estado há quatro anos e que já obrigou a restrições no consumo da água. Por outro, pode significar cheias catastróficas.

Embora o El Niño seja um fenómeno climático que se sobrepõe a muitos outros, não é o único a afetar as regiões do globo, lembra José Castanheira. “A Europa é uma região de transição, com influência de fenómenos diversos e onde o El Niño é menos decisivo.” Francisco Ferreira, professor na Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa, concorda que os efeitos do El Niño na Europa e no hemisfério norte são mais difíceis de demonstrar. Facto é que o ano mais quente de que há registo em Portugal foi 1997, lembra Francisco Ferreira, o ano em que se verificou o El Niño mais intenso de que há registo.

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O equivalente britânico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera – Met Office – compilou dados de vários anos do El Niño e criou mapas de tendência de fenómenos. Na Península Ibérica parece assim haver mais probabilidade para outonos e invernos mais húmidos e menos frios durante o período do El Niño. O Met Office alerta, no entanto, que os mapas indicam maiores probabilidades, mas não podem ser assumidos como previsões do fenómeno atual.

Receia-se que o atual El Niño possa ser mais longo e mais intenso do que qualquer outro alguma vez registado. Francisco Ferreira, que também é coordenador da área de alterações climáticas na associação ambientalista Quercus, disse ao Observador que a análise dos vários fenómenos El Niño têm demonstrado que as alterações climáticas não aumentam a frequência do fenómeno, como inicialmente se suspeitava, mas que aumentam a intensidade, o que justifica os atuais receios.