São privilégios da proximidade. Entre Lisboa e Madrid – diz-nos o Google Maps – estão cerca de 625 quilómetros e, para quem torce pelo Real ou Atlético, isso traduz-se numa coisa: oportunidade. Os dois rivais da capital espanhola chegaram à decisão da Liga dos Campeões e, por arrasto, abriram a comporta a uma invasão espanhola. Mais de 70 mil adeptos são esperados em Lisboa – mas só 34 mil espanhóis terão um bilhete na mão para entrarem no estádio, às 19h45 de sábado.

Cada clube recebeu 17 mil ingressos da UEFA e distribuiu-os como bem entendeu. O Atlético privilegiou a antiguidade dos sócios e o Real optou por sortear os bilhetes. Contas feitas, pelo menos 36 mil espanhóis vão estar em Lisboa sem hipótese de entrar no Estádio da Luz. Ou não serão mais?

A PSP não avançou um número em concreto mas, além dos 60 mil que disse terem bilhete para a final, espera que “outros tantos” possam vir a Lisboa. Com bilhete ou não, pelo menos 70 mil, valor avançado por toda a imprensa espanhola, vão cruzar a fronteira.

Na estrada ou pelo ar

Só varia o sítio onde vão sentados e o transporte que os deixará em Lisboa. A Direção-Geral de Trânsito espanhola estima que mais de 15 mil veículos se farão à estrada a partir desta sexta-feira e, em troca, a entidade vai apertar no controlo de velocidade, álcool e drogas, reforçando as estradas vizinhas com 300 operacionais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Do lado de cá entra a GNR. Fonte da Guarda revelou ao Observador que 240 autocarros cheios de adeptos farão a viagem até Lisboa – 110 partem de Madrid, 60 do Atlético de Madrid e os restantes 50 do Real. O El Mundo fez outras contas e esta sexta-feira escreve que serão antes 360 os autocarros a dar boleia a colchoneros e merengues. Em cada veículo destes cabem perto de 70 pessoas, diz o diário, portanto, cerca de 33.600 espanhóis terão escolhido o autocarro como companheiro de viagem.

De Espanha virão também cinco comboios especiais e um regular. Militares da GNR vão saltar dentro dos comboios que entram em Portugal por Vilar Formoso e haverá agentes da Guardia Civil espanhola em Caia, Valença, Bragança e Vila Real de Santo António.

As pessoas que sobram optaram por trocar as sete horas na estrada por hora e meia no ar. Resultado: o tráfego aéreo entre Lisboa e Madrid vai triplicar desta sexta-feira a domingo. São 135 os voos agendados entre as duas capitais – 100 regulares e 35 charters -, número que representa um acréscimo de 15.181 lugares face ao habitual para esta altura do ano, segundo a AENA, entidade que gere os aeroportos espanhóis).

Um comunicado da NAV Portugal citado pelo Público, aliás, revelou que só no sábado vão aterrar e descolar 740 aviões do aeroporto da Portela. Na sexta-feira e no domingo, a entidade que gere o tráfego aéreo no país adiantou que haverá 650 movimentos diários. E foi de avião que tanto o Real como o Atlético viajaram para Lisboa.

Ronaldo sentado no lado encarnado

O Estádio da Luz costuma servir de casa para o Benfica mas a UEFA ‘apoderou-se’ dele por dois dias. E lá dentro, por “razões administrativas”, apurou o Observador, a entidade decidiu que no balneário dos encarnados ficará o Real de Cristiano Ronaldo, Pepe e Fábio Coentrão. Ao Atlético de Madrid foi concedido o balneário da equipa visitante.

Nas bancadas, o vermelho e branco colchonero estará no lado norte do estádio, enquanto o branco merengue pintará o topo sul.

A invasão não é só espanhola e a UEFA também faz a sua. Em Lisboa estão 175 motoristas e 260 funcionários oficiais da entidade, além de 500 voluntários. No estádio estarão mais de 120 câmaras de televisão para levarem o jogo até 380 milhões de pessoas – a audiência estimada pela entidade que gere o futebol o europeu.

Os 550 jornalistas e 160 fotógrafos são números de final europeia, mas o maior valor é da SportTV. O canal de televisão, que possui os direitos oficiais de transmissão em Portugal, terá 33 câmaras espalhadas no Estádio da Luz – no meio das outras 120, pertencentes aos restantes canais com direitos de transmissão.

Dormidas à última hora

É muita e muita coisa à mistura. As atenções já estão focadas em Lisboa mas a economia da capital apenas ficará com 11% dos lucros gerados pela final da Liga dos Campeões. Um estudo do IPAM – Marketing School estimou que, dos 409,8 milhões de euros, apenas 45 milhões ficarão na economia lisboeta – e 54% deste valor vem da hotelaria.

Até aos últimos dias os cerca de 200 hotéis de Lisboa não podiam mais. Reservas feitas, quartos cheios e um obrigado à Liga dos Campeões. A procura por uma dormida na capital portuguesa disparou os preços e pernoitar uma noite em Lisboa no fim de semana da Champions chegaram a custar entre 400 e os 5 mil euros.

Esta sexta-feira, porém, voltou a haver espaço. A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) revelou ao Record que à volta de 25 hotéis, afinal, têm “quatro ou cinco quartos” livres “cada um”, devido a cancelamentos de última hora. Ou tinham, pois o tempo de ler este texto é suficiente para pegar no telefone e fazer uma reserva. É o que dá estar na cidade anfitriã da final da Liga dos Campeões.