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Cristiano Ronaldo is Officially Unveiled as Al Nassr Player
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A separação em Manchester, o acordo em Madrid e os passeios em Riade: as primeiras semanas da segunda vida de Ronaldo

Recebeu companheiros de Seleção, teve reunião com Martínez, deu nas vistas nos treinos e foi conhecendo a nova cidade enquanto está ainda num hotel: o que fez Ronaldo antes da estreia pelo Al Nassr.

Um dia teria de acontecer. O que ninguém esperava, sobretudo o próprio, era que o dia acontecesse quando aconteceu e com quem aconteceu. Não foi por falta de tentativas que Jorge Mendes não conseguiu encontrar colocação para Cristiano Ronaldo este verão. O Chelsea, até por ter um novo proprietário norte-americano que percebeu de forma rápida quem eram os players que deveriam entrar na lista de marcações rápidas do seu telefone (Todd Boehly), foi o cenário mais próximo de acontecer mas acabou por prevalecer então a ideia do treinador, Thomas Tuchel – muito bom mas não, obrigado. Foi assim com os londrinos, com o Bayern, com o Real, até com o próprio Atl. Madrid. O avançado estava mesmo por tudo, o agente ia mesmo com tudo. No final, entre rumores com Nápoles, B. Dortmund ou Sporting, sobrou uma mão cheia de nada.

Ronaldo no Al-Nassr e a crónica de uma contratação anunciada: a primeira notícia, o desmentido e o maior salário de sempre

Numa das primeiras e raras ocasiões desde que se assumiu como um todo poderoso no futebol mundial há duas décadas, Mendes encontrou uma missão impossível com o ativo que andou anos e anos e fio a desafiar os impossíveis. Ronaldo não aceitou. A ideia explicada pelo agente uns meses depois, já perspetivando o que iria acontecer nesta janela do mercado de transferências, de que deveria olhar para esta fase da carreira de forma diferente foi refutada. Ronaldo queria mais. E foi à procura de mais, sem o parceiro de sempre. O mesmo parceiro que, em condições e contextos diferentes, nunca daria um parecer positivo a uma entrevista como aquela que o jogador quis dar a Piers Morgan na antecâmara da partida para o Mundial do Qatar.

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– Tu queres continuar a jogar ao mais alto nível, queres continuar a jogar a Liga dos Campeões de futebol. Tu queres ir batendo recordes. É esse o meu pressentimento: se fosse apenas uma questão de dinheiro, ias para a Arábia Saudita e ganhavas como um rei. Mas não é isso que te motiva, queres manter-te no topo…

– Exato porque ainda acredito que posso marcar muitos, muitos golos e ajudar a equipa.

Este excerto da entrevista recordado agora pelo The Athletic visava na altura aquele que era ainda o grande objetivo de Ronaldo no final do ano: realizar um grande Mundial, bater o recorde de golos de Eusébio na competição (nove apenas na edição de 1966) e encontrar um clube competitivo nas principais ligas que ainda lhe permitisse jogar a Liga dos Campeões. Correu quase tudo ao contrário. E aquilo que era tido como uma realidade remota e longínqua tornou-se para a nova entourage de CR7 o único destino possível depois da rescisão de contrato com o Manchester United na antecâmara do jogo inaugural com o Gana. Quando disse na zona mista após o encontro com a Suíça que as notícias do Al Nassr não eram verdadeiras, Ronaldo podia não estar a omitir nada mas já falava mais com a esperança de que algo mudasse do que por convicção.

O exemplo paradigmático de como este foi um desfecho possível mas não desejado puxa de novo a fita até Jorge Mendes, a figura que foi sempre bem mais do que um simples agente ao longo de todo o trajeto do jogador nos momentos mais altos e mais baixos. A primeira vez que o Al Nassr levantou a possibilidade de contratar o número 7 foi ainda na altura da Juventus, quando a frustração de três falhanços consecutivos da Liga dos Campeões aceleraram a vontade de deixar Turim. Mais recentemente, no verão, a oferta inicial pelo então jogador do Manchester United até chegou do rival Al Hilal (com valores que não diferiam muito dos que vai agora receber) e só depois voltou o Al Nassr. Mendes ouviu todas mas nunca mostrou particular interesse por saber que o objetivo do avançado era permanecer num clube europeu de topo – o tal que nunca apareceu. E fonte conhecedora do processo diz que não sabe de quem eram as “sete/oito propostas” que terá recebido antes de optar por rumar à Arábia Saudita. “Se assim fosse, tinha ficado por cá. Simples”.

Jorge Mendes foi responsável pela carreira de Ronaldo ao longo de duas décadas, numa relação quebrada no final de 2022

JOSE SENA GOULAO/LUSA

Depois, tudo o que se passou no Campeonato do Mundo acabou por ter influência no processo. O contexto que encontrou no Qatar dificilmente poderia ser melhor para atingir o patamar que pretendia: milhares e milhares de adeptos de países distintos como Índia ou Bangladesh que eram até primeiro de Ronaldo e só depois da Seleção; estádios que “caíam” quando o avançado aparecia nos ecrãs gigantes; uma equipa das mais completas que encontrou desde 2004. Correu tudo ao contrário: à exceção da grande penalidade que ganhou e converteu com o Gana, foi um dos elementos mais discretos, teve o episódio com Fernando Santos após a substituição no encontro com a Coreia do Sul, passou a suplente de Gonçalo Ramos, tornou-se mais tema por assuntos extra Mundial. Nunca ninguém teve uma palavra contra Ronaldo mas a maioria percebia que o seu estatuto mudara na Seleção sem que o próprio aceitasse ou percebesse isso mesmo.

Se antes era defendido por todos, o resumo do mês que teve entre a chegada à concentração de Portugal e a derrota com Marrocos nos quartos não lhe dava grande margem para defesa. Ronaldo queria voltar a sentir-se importante. Queria voltar a sentir-se o futebolista que foi ao longo de duas décadas, algo que deixou de acontecer no Manchester United e que também mudou na Seleção. Queria voltar a ter a tração que os dois últimos meses, e sobretudo esse período, lhe foram tirando. Assim começou na verdade a aventura na Arábia Saudita. E assim andou nas últimas duas semanas que mediaram a estreia pela nova equipa, numa primeira instância num encontro particular das principais estrelas de Al Nassr e Al Hilal contra o PSG esta quinta-feira e nos próximos dias num jogo a contar para a Liga frente ao conjunto do Al-Ettifaq (dia 22).

“Muitos falam mas não sabem nada de futebol. Isto não é o fim da minha carreira.” As primeiras palavras de Ronaldo como jogador do Al-Nassr

Regufe foi a Riade mas o Al Nassr (e parceiros) foi a Madrid – e fechou aí o acordo

A visita de Ricardo Regufe a Riade foi tido como um ponto fundamental da negociação entre as partes mas esse raide onde o (cada vez mais) representante de Ronaldo foi “apanhado” em conversações com alguns dos mais altos dirigentes do clube acabou por ser mais uma confirmação daquilo que era proposto do que o fecho de todos os pormenores que decorreria apenas em Madrid, depois do Natal, e com a delegação saudita a ficar durante três/quatro dias fechada numa sala de conferências de um hotel da capital espanhola, já a falar com o próprio jogador também. O contrato ficou fechado no dia 28 de dezembro, o anúncio aconteceu dois dias depois, Ronaldo viajou a 2 de janeiro com a companheira para Riade. Al-Khuraiji, um dos mais importantes elementos da Saudi Media Company, também participou na decisão em Espanha.

Ao longo de dez dias, um nome ganhou o protagonismo que nunca tivera durante duas décadas mesmo com uma relação próxima com o jogador: Ricardo Regufe. Antigo jogador também avançado que abdicou cedo de tentar uma carreira, a figura que desde 2018 se começou a descrever como personal manager de Ronaldo começou o internacional ainda nos seus primeiros tempos de Sporting/Manchester United quando passou a ser o ponto de ligação entre a Nike e a Seleção, tendo ganho um peso crescente na relação com o jogador e na sua ligação também à Gestifute de Jorge Mendes. A partir do Mundial de 2018, Regufe deixou a Nike e ficou apenas a gerir os negócios do número 7. De acordo com a imprensa espanhola, terá recebido 30 milhões pela intermediação das duas partes. Ao Observador, sendo verdade esse montante total pago pelo Al Nassr, explicam que o valor pode ter sido repartido por mais partes. Uma coisa é certa: 30 milhões é mais do que Mendes recebeu pelas quatro transferências do avançado ao longo de duas décadas.

France  v Portugal  -EURO

Ricardo Regufe, que se descreve desde 2018 como personal manager de Ronaldo, foi o intermediário das negociações com o Al Nassr

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Quem paga um jogador que vai custar cerca de seis euros e meio por segundo

O Al Nassr já veio a terreno desmentir algumas informações que vieram a público sobre a contratação de Cristiano Ronaldo mas nunca abordaram os montantes que desde a primeira hora foram referidos nos mais diversos meios. Bolo total: 500 milhões de euros. Divisão: 100 milhões na forma de prémio de assinatura e mais 200 milhões por temporada, sendo que 70 milhões são pelo papel de jogador e os restantes 30 ficam para questões comerciais. Resumo: 16,7 milhões por mês, que dá 3,8 milhões por semana, que dá 555 mil euros por dia, que dá 386 euros por minuto, que dá cerca de 6,5 euros por segundo. Se nos últimos anos o português não estava no topo dos desportistas mais bem pagos, o mega acordo fechado com o clube saudita recolocou-o nesse patamar com larga diferença. Mas a ligação pode não ficar por aí, sendo que o único ponto que o Al Nassr assegura é que Ronaldo não irá promover a candidatura ao Mundial de 2030.

Mesmo depois de terminar a carreira enquanto jogador, Ronaldo foi desafiado a ficar como uma espécie de conselheiro do Al Nassr e da própria Arábia Saudita em matérias ligadas ao futebol, o que entronca também na proveniência dos fundos para pagar o milionário negócio. A Visit Saudi, empresa nacional do turismo, foi já um dos principais destaques na apresentação oficial do jogador – com essa curiosidade de ser a mesma empresa que há dois anos o português tinha recusado promover a troco de seis milhões de euros por ano, de acordo com o The Telegraph. Também a Saudi Media Company e o patrocinador do Mrsool Park onde atua o Al Nassr se juntaram para que fosse possível chegar à proposta irrecusável feita a CR7.

Cristiano Ronaldo is Officially Unveiled as Al Nassr Player

Ronaldo fechou acordo com o Al Nassr em Madrid com delegação saudita a ficar três/quatro dias sem sair de uma unidade hoteleira na capital espanhola

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A “estreia” com Pepa, a reunião com Martínez e os encontros com portugueses

Desde que se encontra em Riade, e enquanto não teve oportunidade para estrear-se com a camisola do Al Nassr, Ronaldo tem recebido ou tem visitados muitos velhos e atuais conhecidos sobretudo pela realização das Supertaças de Espanha e de Itália na cidade. Ainda assim, o primeiro contacto com portugueses acabou por ser com um “adversário”: mesmo impedido de jogar, o avançado esteve nos balneários na partida com o Al Tai e confraternizou com Pepa e toda a sua equipa técnica. “Sinto-me abençoado por ter conhecido Cristiano Ronaldo! A sua classe mundial em campo é incomparável, mas é a sua personalidade gentil, divertida e amigável que realmente me impressionou. Ele é uma verdadeira lenda do futebol”, escreveu.

Em paralelo, o jogador foi partilhando imagens com William Carvalho, médio do Betis que jogava frente ao Barcelona, e Rafael Leão, avançado do AC Milan que defronta esta quarta-feira o Inter, ao mesmo tempo que fez ainda uma visita aos antigos companheiros do Real Madrid com direito a fotografia com o ex-treinador Carlo Ancelotti e os brasileiros Vinícius Jr. e Rodrygo. Só não houve mesmo imagens da reunião de maior importância que teve ao longo deste período com o novo selecionador nacional, Roberto Martínez. O que saiu desse encontro, ainda ninguém sabe. No entanto, a primeira convocatória de Portugal para os dois jogos iniciais de qualificação para o Europeu de 2024 poderá desvendar em parte o que se terá passado.

Roberto Martínez deslocou-se a Riade durante a Supertaça de Espanha e encontrou-se com Ronaldo (além de William, Thierry Correia e André Almeida)

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O impacto da chegada nas redes sociais e as acusações de sportswashing

Até à chegada de Ronaldo, e já contando com o interesse que todas as notícias iam referindo desde que foi pública a rescisão de contrato com o Manchester United, o Al Nassr tinha menos de 900.000 seguidores na sua conta oficial do Instagram; uns dias depois da apresentação oficial do português, subiu para dez vezes mais; agora, já está quase a atingir a fasquia dos 12 milhões. Este é um dos impactos mais diretos do negócio feito pelo conjunto saudita, neste caso aplicável a qualquer clube ou país que conseguisse contratar o avançado que fará no próximo mês 38 anos. No entanto, a própria vida do número 7 nas duas primeiras semanas no país acabaram por aumentar também as críticas que existiam sobre o alegado sportswashing.

Através das suas contas oficiais nas redes sociais ou da companheira, Georgina Rodríguez, o português tem partilhado não só os primeiros dias como jogador do Al Nassr (reforçadas muitas vezes pelo próprio clube com imagens e vídeos que mostram bem o impacto que teve junto dos novos companheiros) mas também alguns momentos fora do âmbito desportivo, nomeadamente uma tarde passada num parque de diversões de Riade com a família entre outros pontos da cidade que tem vindo a conhecer numa fase em que vive no hotel Four Seasons antes da mudança para um condomínio de luxo em Al Muhammadiyah. Aquilo que seria algo “normal” acaba por ser mais um ponto “criticável” para quem considera que essa promoção do melhor que o país pode oferecer a quem vem de fora entronca numa tentativa de “limpeza de imagem” da Arábia Saudita através do desporto e de um ícone do futebol, como explicou a CNN.

Ronaldo tem aproveitado os primeiros dias em Riade para conhecer a cidade com a família

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