Terça-feira, 3 de janeiro, Riade: o primeiro dia do resto da vida de Cristiano Ronaldo. Ao terceiro dia do ano, menos de uma semana depois de ser oficialmente confirmado como reforço do Al-Nassr, o jogador português foi apresentado pelo clube da Arábia Saudita. Ou seja, foi apresentado pela primeira vez fora da Europa. Pela primeira vez fora de um dos maiores clubes do mundo. Pela primeira vez num Campeonato completamente periférico.

Ronaldo chegou à capital saudita ainda na segunda-feira, tendo viajado acompanhado pela família para depois ser recebido no aeroporto por uma comitiva do Al-Nassr que incluía várias crianças com camisolas do clube que lhe entregaram flores. Para além de Georgina e dos filhos, o capitão da Seleção Nacional fez-se acompanhar por um número considerável de auxiliares e até uma empresa de segurança privada, segundo adiantou a imprensa local.

Já com os pés em Riade, onde existem centenas de outdoors espalhados pela cidade a publicitar a contratação do avançado português, Cristiano Ronaldo limitou-se a deixar uma curta mensagem antes da apresentação desta terça-feira. “Muito obrigado pelas boas-vindas. Vemo-nos amanhã”, atirou ainda no aeroporto. Já durante a manhã, após ter pernoitado no hotel de luxo em que vai ficar instalado nos primeiros tempos na Arábia Saudita, realizou os habituais testes médicos antes de cumprir o primeiro ato oficial enquanto jogador do Al-Nassr.

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No Mrsool Park, onde os 25 mil lugares foram ficando progressivamente preenchidos, cada bilhete para a apresentação custava 15 riais sauditas — algo como 3,47 euros. A cerimónia foi um autêntico jogo de luzes, com pirotecnia pelo meio e um cantor a animar as bancadas antes de o verdadeiro protagonista do dia entrar no estádio. Nos ecrãs, tal como nos tais outdoors em Riade, um único lema: “Hala, Ronaldo”.

O jogador português chegou de carro, acompanhado por Ricardo Regufe, e foi recebido por Musalli Al-Muammar, o presidente do Al-Nassr. Quando todos esperavam que aparecesse no relvado, surgiu inicialmente numa sala de imprensa — e foi apresentado por uma mulher, um dado que naturalmente não foi inocente. “Sinto-me muito bem, estou orgulhoso por ter tomado esta decisão importante na minha vida. O meu trabalho não está feito. Já ganhei tudo, joguei nos clubes mais importantes da Europa. É mais um desafio, agora na Ásia. O Al-Nassr deu-me esta oportunidade e estou feliz por poder ajudar a desenvolver o futebol e as próximas gerações. É um desafio e sinto-me preparado” começou por dizer Cristiano Ronaldo, nas primeiras palavras enquanto jogador do Al-Nassr.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre a ida de Ronaldo para o Al-Nassr.

O que ganha Ronaldo com ida para o Al-Nassr?

“A minha família apoiou-me quando tomei esta decisão, especialmente os meus filhos. Estão muito felizes. A receção foi fantástica, os sauditas trataram-me bem. Estou feliz. É uma grande oportunidade para mudar a mentalidade das novas gerações. Posso dizer que tinha muitas oportunidades na Europa, muitos clubes, propostas do Brasil, da Austrália, dos Estados Unidos, até de Portugal. Vários clubes tentaram mas dei a palavra ao clube. Não só para desenvolver o clube como também o país. Sei o que quero e o que não quero. É uma boa oportunidade para ajudar a melhorar tantas coisas. Até do ponto de vista das mulheres. Muitas pessoas não sabem mas o Al-Nassr tem uma equipa feminina”, acrescentou o jogador português, que com os quase 500 milhões de euros que vai receber ao longo de dois anos e meio vai encaixar o maior salário da história do futebol.

Ao lado do presidente do clube saudita e também de Rudi Garcia, o treinador, Ronaldo defende a competitividade do futebol da Arábia Saudita e recusou a ideia de este ser um fim anunciado da própria carreira. “Não me preocupo com o que as pessoas dizem. O futebol evoluiu, hoje em dia, e é muito competitivo. Este não é o final da minha carreira. Muitos falam e opinam mas não sabem nada de futebol. Nos últimos 10 anos, as equipas estão mais preparadas e prontas para ganhar. No Mundial, a única seleção que ganhou à seleção campeã do mundo [a Argentina] foi a Arábia Saudita. Quero bater recordes aqui. Este é um contrato único e eu sou um jogador único, por isso, para mim é normal. Vim aqui para ganhar, para jogar, para desfrutar e fazer parte do sucesso do país e da sua cultura. Quero aproveitar, sorrir e jogar futebol”, referiu o capitão da Seleção Nacional.

Por fim, e antes de Musalli Al-Muammar e Rudi Garcia também deixarem algumas palavras, Cristiano Ronaldo deixou a intenção de se estrear já no próximo jogo do Al-Nassr, na quinta-feira, contra o Al Ta’ee. “Quero jogar depois de amanhã, se o treinador me escolher”, atirou. De seguida, utilizou o balneário do clube pela primeira vez para largar o fato, a camisa e a gravata, trocar algumas palavras com os colegas de equipa e estrear a camisola azul e amarela.

Já no relvado, foi recebido com muita pirotecnia e a euforia generalizada das bancadas, entre gritos e palmas, voltando a referir que está na Arábia Saudita para “ajudar a desenvolver o futebol”. “Vou fazer tudo pelo meu clube”, terminou, antes de tirar uma fotografia com raparigas e rapazes das camadas jovens do Al-Nassr, pontapear bolas autografadas para as bancadas e receber Georgina e quatro dos cinco filhos no relvado.