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A proposta de autoteste da testFWRD quer pôr cada pessoa a poder testar-se à Covid-19. Para evitar batotas filma o utilizador durante o teste
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A proposta de autoteste da testFWRD quer pôr cada pessoa a poder testar-se à Covid-19. Para evitar batotas filma o utilizador durante o teste

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

A proposta de autoteste da testFWRD quer pôr cada pessoa a poder testar-se à Covid-19. Para evitar batotas filma o utilizador durante o teste

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Acabaram-se as zaragatoas? Experimentámos dois novos testes à Covid-19, que recorrem a um bochecho e a uma app

Testámos um teste PCR à Covid-19 que não precisa de zaragatoa, basta um bochecho, e uma autocolheita que recorre apenas a uma app. O Infarmed diz que estão ambas autorizadas, mas faz ressalvas.

Com a pandemia de Covid-19 habituámo-nos a ver zaragatoas em narinas — é desta forma que é feito o habitual teste PCR ao novo coronavírus –, mas já começam a aparecer novas técnicas (menos invasivas) no mercado. Desde o início de março que a testFRWD disponibiliza através da app da Glovo um teste criado pela empresa austríaca Lead Horizon, que dispensa o nariz e recorre apenas a uma solução por bochecho e a um técnico de saúde. Na Áustria, estes testes são prática comum — são a solução governamental para testar regularmente crianças “em idade escolar” (a partir dos 10 anos) e distribuídos gratuitamente à população em parafármácias. Segundo a empresa, clubes de futebol como Bayern München ou o AC Milan também querem usar esta solução na reabertura dos eventos desportivos ao público.

Como confirmou o Observador, em Portugal, este produto está validado pelo Infarmed, responsável por regular a comercialização de testes a nível nacional. Contudo, não o recomenda para diagnóstico. A Direção-Geral da Saúde (DGS) também ainda não fez nenhuma recomendação específica sobre este tipo de colheita, afirmando apenas que “é uma matéria da competência do INSA e do Infarmed”. Contactado pelo Observador, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) diz que o teste cumpre com as normas atualmente em vigor em Portugal e que, por isso, não está contra a metodologia. Mas, afinal, que teste é este e como se faz?

Para fazer esta análise — ou “colheita”, utilizando o termo técnico que lhe dá o Infarmed –, é preciso bochechar uma solução com soro fisiológico durante 60 segundos, que é depois enviada para análise em laboratório. Esta é a opção atualmente à venda em Portugal, mas não é o único produto da empresa. A testFRWD espera lançar ainda durante o mês de abril uma versão do teste que tira o profissional de saúde da equação. Como? Fazendo o tal bochecho enquanto a app da empresa grava o processo.

Por mais estranha que esta metodologia possa parecer, já é utilizada na Áustria e, segundo o Infarmed, também pode começar a ser vendida em Portugal. No futuro, a Lead Horizon quer usar estes métodos para facilitar a entrada de pessoas em concertos, jogos de futebol e ou outros eventos.

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O Observador testou as duas versões para saber como funcionam. Primeiro, recorremos à opção que já está disponível no mercado e que implica pedir um teste pela aplicação da Glovo. Este é enviado e feito na presença de um técnico de saúde. Depois, experimentámos em primeira mão o autoteste da testFRWD, usando o kit enviado e a app da empresa para telemóvel. Felizmente, e mesmo com alguns percalços, ambos deram negativo. Por utilizarem a técnica PCR (polymerase chain reaction, o método de análise mais fiável para ter um resultado legítimo), o resultado dos dois testes foi comunicado ao diretamente ao Sinave (o sistema nacional que registas casos de Covid-19).

O método atual por saliva permitido obriga a que esteja presente um profissional de saúde

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

De acordo com o Infarmed, estas colheita e autocolheita estão dentro das normas, porque estão validadas a nível europeu — os dois testes têm o certificado “CE”, que é o que basta para o Infarmed dar o seu aval. E se der resultado positivo, é preciso fazer novo teste com zaragatoa? O INSA diz que não, mas faz uma ressalva: “A auto-colheita não assistida por um profissional de saúde [que acontece na versão que dispensa o profissional de saúde e recorre apenas à app] poderá ter impacto no resultado do teste”.

No fim, a responsabilidade é dos laboratórios, que têm de garantir que tudo é bem feito, diz a mesma entidade. A Direção-Geral da Saúde (DGS), prevê este tipo de testes na Norma nº 19/2020, mas ainda não fez nenhuma recomendação específica para este tipo de colheita. Vamos aos testes.

O teste do enfermeiro que vem pela Glovo e que já evita uma zaragatoa pelo nariz acima

O testFRWD que está disponível na aplicação da Glovo é distribuído através da empresa portuguesa Innocrowd. Em Portugal, ao contrário do que se faz atualmente na Áustria e na Alemanha, este método por bochecho requer a presença de um profissional de saúde, que acompanha o teste e faz a entrega em laboratório. Ou seja, não é um autoteste, é uma “colheita”. Por cá, é a empresa Trapézio do Sucesso” (que tem o alvará para executar testes ao domicílio com enfermeiros) que entrega o kit em casa dos utilizadores. Custa cerca de 90 euros. Para esta reportagem, passámos esse passo e contactámos diretamente a Innocrowd.

À hora marcada, 10h15, a enfermeira Teresa Santana apareceu na redação, onde tínhamos uma sala preparada para utilizar os dois métodos — o que já está à venda e o da app. Ainda brincámos com a enfermeira e perguntámos porque não vinha com a mochila dos estafetas da Glovo. “Fazem-me muitas vezes essa pergunta”, respondeu, entre risos, entrando na redação do Observador.

O facto de ser um teste comprado através da Glovo não significa que lhe vai aparecer um estafeta à porta com um kit. Depois de comprar o teste, há um contacto telefónico e é um enfermeiro que vai ter com o consumidor, no espaço de até duas horas, desde que esteja em Lisboa, Oeiras ou Cascais (este tipo de teste por bochecho ainda não está disponível em mais cidades).

[Veja no vídeo abaixo um resumo do teste por saliva PCR:] 

Depois, todos os passos que demos — tirando as câmaras e perguntas — foram iguais aos que os 19 enfermeiros da Innocrowd têm feito desde o início de março, entre 10 a 20 vezes por dia. Na sala preparada para fazermos este teste, a enfermeira Teresa Santana fez tudo como se estivesse na sala de estar de alguém. Começou por equipar-se com viseira e material de proteção, pegou num tabuleiro onde preparou o conteúdo do kit para fazer a colheita. Depois, começámos o teste.

Ao todo, o kit contém seis itens numerados: “1) tubo de amostra; 2) solução salina (ou o soro fisiológico); 3) o tubo de transferência); 4) autocolante de selagem; 5) um folheto informativo; 6) uma bolsa de transporte”. Através deste método, a enfermeira controlou todos os passos que fizemos. Começou por desinfetar as mãos e, depois, garantiu que desinfetássemos as nossas. Começa o processo.

A enfermeira deu-nos um frasco com a “solução salina” — que não passa de um simples tubo de plástico selado com soro fisiológico, iguais aos utilizados com bebés. A pedido da profissional de saúde, pusemos esta solução salina na boca e começámos a bochechar como se estivéssemos no dentista. Para facilitar, a profissional de saúde contabilizou os 60 segundos até podermos parar este processo, o tempo necessário para se conseguir uma colheita viável.

De seguida, e com bastante cuidado, cuspimos o resultado do bochecho através de um canudo de cartão, para um tubo de ensaio. “Atenção que a palhinha não pode entrar por completo”, avisou a enfermeira. Com cuidado, o líquido que expelimos preencheu um tubo que foi fechado cuidadosamente pela enfermeira. Com isto, e repetimos — sem zaragotoas pelo nariz acima –, ficou recolhida a amostra necessária para fazer um teste com técnica PCR à Covid-19.

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[Veja na fotogaleria acima como decorreu este teste]

A seguir, a enfermeira Teresa colocou o número de um código de barras no tubo, deu-nos o respetivo código — “para evitar trocas de testes”. Além disso, preencheu uma folha com os principais dados pessoais de contacto e alguma informação clínica relativamente à Covid-19 e ao nosso estado de saúde. Isto é necessário para, posteriormente, informar os laboratórios.

E já está. Ficou feito o primeiro teste. A profissional de saúde dirigiu-se depois a um dos laboratórios da Labocentro, o laboratório utilizado pela Innocrowd, para analisar a amostra e nem 12 horas depois, recebíamos o resultado em dois emails, um enviado pelo Labocentro e outro pela Lead Horizon: negativo, felizmente.

O resultado do teste obtido, conforme enviado pelo Labocentro

Por ser um teste PCR o resultado é sempre comunicado diretamente ao SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e o sistema informático no qual os médicos devem registar todos os casos).

O teste em que basta abrir uma app e filmar o nosso bochecho em formato selfie

O autoteste ainda não tem data de lançamento

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Este é o teste que a Innocrowd e a testFRWD querem começar a vender em Portugal e que já é feito na Áustria. E que retira a enfermeira Teresa da experiência, substituindo-a por uma app. No nosso caso, a profissional de saúde continuou presente para supervisionar todo o processo, embora de forma não ativa. Porquê? Porque no dia em que experimentámos o autoteste, o Infarmed ainda não se tinha pronunciado sobre esta metodologia. Desta forma, garantimos que a amostra podia ser analisada em laboratório.

Simplificando o que lerá nos próximos parágrafos, esta solução implica fazer todos os passos descritos acima, mas sem a presença da enfermeira Teresa.

Sozinhos e como se fosse um unboxing de um gadget, começámos por abrir a caixa e, pegando no manual que está no topo, iniciámos a leituras das instruções. “O regresso ao normal”, surge em letras garrafais ao abrirmos o livrete. No topo, há um QR Code — um código reconhecido pelas câmaras dos telemóveis para abrir uma hiperligação direta a sites. Com a câmara do smartphone ligada, apontámo-la para a página e, com um toque, abrimos a webapp deste sistema —  uma webapp é um programa que funciona como uma aplicação para telemóveis mas que utiliza apenas o navegador de internet. Caso haja problemas com este passo, também é possível ver o endereço a aceder que está no panfleto.

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[Veja na fotogaleria acima como decorreu este teste]

Depois, com esta webapp aberta, tudo aquilo que foi feito pela enfermeira antes passa a ter de ser feito por nós, começando pelo registo dos dados — neste ponto, só tivemos dificuldade em colocar a morada, que não foi reconhecida inicialmente e obrigou-nos a repetir os passos.

Com atenção, fomos seguindo os passos até que, com a devida autorização concedida, ligámos a câmara traseira do telemóvel e fotografámos um documento de identificação — que pode ser um Cartão de Cidadão ou um Passaporte (utilizámos o Cartão de Cidadão). Além disso, como um scanner, apontámos a câmara para o código de barras no mesmo livrete para garantir que o teste não é trocado. Caso haja dificuldades com este passo é possível inserir número a número os dígitos referentes ao código de barras identificador. Com estas autenticações feitas, pudemos começar o processo de recolha.

Para este passo, a caixa de cartão do kit tem um orifício no qual podemos colocar o smartphone para nos filmarmos sem mãos. Com o telemóvel aí colocado, abrimos o frasquinho de soro fisiológico e esprememos o conteúdo para dentro da boca. Depois, carregámos no botão iniciar e o programa, enquanto nos filmava — para garantir que fazemos mesmo o teste –, mostrou um cronómetro que contou 75 segundos (mais 15 segundos de segurança em relação ao método com o profissional de saúde). Mais uma vez, bochechámos.

Após termos bochechado durante 75 segundos com a câmara sempre ligada, para a webapp nos filmar, expelimos o conteúdo por um canudo de cartão para o tubo de ensaio. Ou seja, exatamente como no primeiro teste. Como não tínhamos ajuda, este passo foi mais difícil e quase enchemos o frasco em demasia. Mesmo assim, foi possível fechar o frasco. Depois, com o lado do tubo da amostra com o código de barras virado para a câmara para confirmar que não fazíamos batota, fechámos o tubo com uma tampa encarnada e selámo-lo com um dos dois autocolantes que vêm no kit.

[Veja no vídeo abaixo um resumo do autoteste que fizemos:] 

A parte de colarmos o autocolante no tubo não correu bem, tivemos algumas dificuldades. Confrontada com esta questão, a testFRWD assume que é um passo que vai mudar. Atualmente, a empresa fornece um selo redondo que não sela devidamente o tubo. Mesmo assim, e após alguma insistência, lá conseguimos que ficasse quase selado. O vídeo é automaticamente enviado para a testFRWD, para que possa garantir que não há nenhuma adulteração do teste.

E assim chegámos ao final da autocolheita com técnica PCR. Bastou pegar no tubo com a tampa encarnada, colocá-lo dentro de um tubo de transporte que também está incluído — está tudo numerado na caixa. Tubo de transporte bem fechado, selámos a caixa com o segundo autocolante de segurança fornecido. Neste caso, devido ao formato da caixa de cartão, não houve dificuldades.

Apesar de não ser tão tranquilizador como ter um enfermeiro a acompanhar o processo, esta opção pode ser uma solução para uma autotestagem mais económica. Porém, há pontos que podem ser melhorados (e não falamos só do formato dos selos). Neste caso, a enfermeira levou depois a colheita para laboratório, mas ainda não há certezas quanto à metodologia a adoptar caso a autocolheita comece a ser vendida por cá.

Estes testes são mesmo válidos? Infarmed diz que sim, mas não recomenda a sua utilização para diagnóstico

Desde que a testFRWD chegou a Portugal, com a ajuda da Glovo e da Innocrowd, já surgiram concorrentes: recentemente, a Uber, em parceria com a Unilabs, começou a vender este tipo de serviço. Porém, a versão da Uber não só exige a presença de um enfermeiro, como a colheita é feita com uma zaragatoa nasofaríngea, como explicou a Unilabs ao Observador. À semelhança da testFRWD, a Unilabs afirma que os testes ao domicilio “são sempre certificados pelas autoridades competentes, bem como por certificação externa de qualidade, estando a Unilabs em constante colaboração com a DGS e com o INSA no apoio à monitorização da pandemia e do controle de variantes”.

Questionada sobre a solução austríaca, fonte oficial do Infarmed explica ao Observador que “o ‘teste’ Covid-19 da ‘testFRWD’ é um kit para colheita de amostra, saliva, destinada a ser posteriormente analisada num laboratório”, o que significa que “estamos perante um dispositivo destinado a uma autocolheita e não perante um autoteste“. Por ostentar a marcação CE, dá “cumprimento assim à legislação europeia, possibilitando a sua livre circulação no mercado europeu”. Ou seja, o Infarmed não é obrigado a emitir uma autorização para que esteja disponível no mercado português, apenas tem de confirmar se tudo está correto quando existe uma marcação CE.

"Assim estamos perante um dispositivo destinado a uma autocolheita e não perante um autoteste"

O regulador adianta que “os distribuidores [Innocrowd e testFWRD] já registaram este kit de colheita de amostra junto do Infarmed tal como previsto na legislação nacional, o qual não constitui uma autorização nem prevê uma validação por parte do Infarmed”. E faz a ressalva: “não são recomendadas para diagnóstico”.

É preciso, então, haver uma confirmação adicional do diagnóstico, recorrendo ao teste PCR com zaragatoa, no caso de o resultado dar positivo (como acontece com os antigénio)? Segundo o INSA, que dá parecer ao Governo e à DGS quanto a este tipo de assuntos, não. “Os testes realizados em amostras de saliva por TAAN não necessitam de confirmação adicional”.

E acrescenta: “A saliva foi considerada uma amostra alternativa para a deteção laboratorial do SARS- CoV-2 pela metodologia de PCR (a metodologia de referência e de maior sensibilidade para a deteção do RNA viral). Esta informação foi atualizada na norma nº 19/2020 da DGS publicada a 26/03/2021”. Referindo-se especificamente à segunda metodologia testada pelo Observador, que recorre apenas à app, o INSA sublinha que “a auto-colheita não assistida por um profissional de saúde poderá ter impacto no resultado do teste, quando a quantidade da amostra e a qualidade do material colhido não estiverem presentes na quantidade e qualidade mínima exigida”.

"O 'teste' Covid-19 da 'testFRWD' é um kit para colheita de amostra, saliva, destinada a ser posteriormente analisada num laboratório". 

Mesmo assim, o INSA não se opõe a este tipo de colheita: “Os laboratórios têm, de alguma forma, capacidade para controlar a quantidade de material colhido através da deteção de um gene humano pela metodologia de PCR”. Além disso, refere: “Torna-se mais difícil o controlo da qualidade, devendo este fator ser incluído na interpretação dos resultados laboratoriais, nomeadamente na repetição da colheita e do teste sempre que os resultados laboratoriais não forem conclusivos, de acordo com os controlos utilizados e com a história clínica do utente”.

Em contraponto, Laura Brum, virologista e diretora médica da Synlab Portugal, diz ao Observador que não utiliza este tipo de colheitas para fazer testes PCR no seu laboratório. “Compreendo a facilidade e comodidade desta método de colheita, principalmente nos contextos de viagem e desporto”, assume. Mas alerta: “Existem estudos que demonstram que podem ser uma alternativa ao exsudado oro e/ou nasofaríngeo colhido por zaragatoa, mas outros evidenciaram diminuição da sensibilidade, o que significa a falha na deteção de casos positivos.”

A especialista diz também que “em Portugal só estão aprovadas as seguintes amostras para teste PCR: exsudado oro e/ou nasofaríngeo colhido por zaragatoa, amostras respiratórias e recentemente saliva”. De acordo com a interpretação que faz, esta “lavagem bucal e gargarejo não estão incluídas nas normas da DGS”, apesar de confirmar que estão a ser utilizadas noutros países, diz a especialista. Mesmo assim, Brum confirma que para estes kits serem vendidos necessitam apenas da “aprovação do Infarmed”, que têm.

Ou seja, estes testes podem ser vendidos e os laboratórios podem analisá-los, mas são vendidos a partir de uma interpretação abrangente das normas da DGS. Afinal, estes testes de saliva com técnica PCR estão à venda em Portugal desde março seguindo uma interpretação das mais recentes recomendações da Direção-Geral da Saúde.

Os problemas do método de autotestagem: “Há sempre uma maneira de hackear o sistema”

No final do último teste, ficámos com uma caixa que pode ter material biológico contaminado. Este pacote é como a caixa do gato de Schrödinger: até se analisar o conteúdo do tubo, a caixa tanto pode estar contaminada com o novo coronavírus como pode não estar. Por causa disso, Soraya Gadit, fundadora e responsável da Innocrowd, assume que a empresa ainda está a tentar resolver a questão “logística” de como a caixa é enviada para o laboratório. Isto poderá passar por recolha através de uma transportadora ou até depósito em pontos específicos. Contudo, podendo ser material com o vírus da Covid-19, o primeiro método, que põe um profissional de saúde encarregue de deixar o material num laboratório, é o mais seguro.

Gadit diz até que bochecharmos soro fisiológico para um tubo poderá ser um ato como "lavar os dentes", isto se quisermos testar massivamente toda a população e tentar "regressar ao normal"

Além disto, como explicou ao Observador Veit-Ander Aichbichler, cofundador e presidente executivo da testFRWD, “todo o sistema está constantemente a melhorar”. De acordo com Aichbichler, a interface da webapp pode ter melhorias para torná-la mais intuitiva, algo que notámos no nosso teste — o sistema é pouco permissível a lapsos.

“O que funcionou na Áustria não funciona na Alemanha, temos de ter atenção às diferenças culturais”, explicou o empreendedor quanto às dificuldades que tiveram quando lançaram o segundo método na Alemanha, antevendo já que terá em Portugal. Este ponto é importante porque, sendo uma auto-colheita com vários pontos a seguir através de um ecrã, é relativamente fácil fazer um erro que pode custar um teste — seja deitar um tubo ao chão, enchê-lo demasiado, ou desligar a webapp sem querer. Isto pode obrigar a ter de começar tudo novamente. Com um enfermeiro a acompanhar o processo, isso não acontece.

[Abaixo pode ver o vídeo promocional da Lead Horizon sobre o autoteste que já é usado na Áustria e na Alemanha]

Além disto, Aichbichler diz que “há sempre uma maneira de hackear o sistema”. Como qualquer método que utilize tecnologia recentes, neste caso uma webapp ou a gravação por vídeo, as mentes mais criativas podem arranjar maneiras de adulterar o resultado. Devido à necessidade de gravação de vídeo, aos códigos de barras e aos documentos exigidos, é preciso, de facto, bastante criatividade para conseguir dar a volta ao sistema implementado. Contudo, quando o enfermeiro é substituído por uma app pode haver menos segurança.

Mesmo assim, tanto Aichbichler como Gadit afirmam que, mesmo sem um enfermeiro, este último método é, atualmente, “dos mais seguros”. Para isso, justificam que evitará que uma pessoa vá a hospitais ou que os códigos de barras e caixas únicas evitam troca de tubos de testes. Para fundamentar esta afirmação, Aichbichler refere que este modelo de testes está a ser amplamente utilizado na Áustria para mitigar a propagação da pandemia. Gadit diz até que bochecharmos soro fisiológico para um tubo poderá ser um ato como “lavar os dentes”, isto se quisermos testar massivamente toda a população e tentar “regressar ao normal”, como prometem a Lead Horizon, a testFRWD e a Innocrowd.

Como a empresa afirma, estes testes da LeadHorizon estão ser disponibilizados na Áustria. Neste país, já foram realizados mais de 2 milhões destes testes e o governo austríaco está a usar a solução para testar regularmente crianças a partir dos 10 anos. Antes dessa idade, a empresa não recomenda a utilização destes teste devido às crianças poderem engolir a solução salina.

Daniel, um português que vive em Viena, explicou ao Observador que, atualmente, “basta ir a uma drogaria” — ou seja, nem precisa de ser numa farmácia –, e, gratuitamente, pode recolher-se um testes destes. Depois, tudo é igual ao que explicámos.  Na capital, Viena, há planos para distribuir gratuitamente até 1,5 milhões de kits de autoteste por semana, a fim de iniciar a reabertura de restaurantes, eventos culturais e desportivos.

[Abaixo pode ver as imagens de um destes testes que já está a ser dado gratuitamente aos cidadão na Áustria]

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Para já, há um limite de venda que depende a nível mensal dos testes requisitados — cerca de 200 mil, explicou a testFWRD –, mas é desta forma que o país tem tentado combater a pandemia. Além disso, os austríacos têm também testes antigénio gratuitos disponíveis, mas esses não permitem ter o certificado para se viajar que este teste PCR possibilita ter. Além da indústria de eventos, o conceito da testFRWD está a ser desenvolvido e adaptado para uso das companhias aéreas, hospitais e instituições educacionais, referiu também a empresa.

Ao contrário dos 90 euros cobrados para fazer o primeiro método, a segunda opção ainda não tem um valor para Portugal. Os responsáveis dizem que a maioria do montante, mais de 50%, vai para os laboratórios — “lucro 2,5 euros com cada teste”, revela Aichbichler. Com estas novas soluções, a empresa quer também criar mais competição entre os laboratórios. A título de exemplo Aichbichler diz que, na Áustria, consegue vender cada teste a cerca de sete euros devido à concorrência que esta solução criou.

Até o segundo método começar a estar à venda, o primeiro pode já ser encomendado pela Glovo. Para já, conta Gadit “cerca de 80% dos clientes são estrangeiros”. No futuro, e com possíveis parcerias com seguradoras, podemos começar a ver mais nacionais interessados.

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