Durante mais de 30 anos, sintonizar a rádio russa na 91.2 FM, em Moscovo, e na 91.5 FM, em São Petersburgo, significava ter a companhia da Eco de Moscovo. Mas, agora, nesta frequência já não se ouvem as vozes da maior rádio independente russa. Foram substituídas pelas da estatal Sputnik, um meio de comunicação social proibido na União Europeia, que a acusa de desinformação e propaganda ao serviço de Moscovo.
“No tempo da repressão estalinista havia pessoas postas na prisão e que depois eram mortas. Os apartamentos delas ficavam vazios, e davam esses apartamentos a pessoas próximas do governo. Parece que fizeram o mesmo com a nossa frequência de rádio.” O desabafo ao Observador é de Valery Nechay, que até ao início de março era editor-chefe da Eco de Moscovo em São Petersburgo. Era — já não é. A rádio fundada em 1990 por dissidentes soviéticos encerrou portas, depois da aprovação de uma polémica lei que torna o trabalho jornalístico independente quase impossível.
Rússia declara guerra à informação: apelar a sanções ou “desacreditar” o exército passa a ser crime
E a Eco não foi a única vítima. O histórico jornal Novaya Gazeta, cujo diretor Dmitry Muratov venceu um Nobel da Paz em 2021, suspendeu operações até ao fim da guerra na Ucrânia, depois de um segundo aviso do Roskomnadzor, o regulador, de que o diário estava a violar a lei dos “agentes estrangeiros”. A ordem de encerramento veio 32 dias depois da publicação da primeira capa sobre a guerra. “Rússia bombardeia Ucrânia”, lia-se na edição de 25 de fevereiro, onde um subtítulo na primeira página esclarecia que “o Novaya Gazeta considera a guerra uma loucura” e “não reconhece o povo ucraniano como inimigo”. “Fomos o único jornal a escrever isto”, conta ao Observador Kirill Martynov, diretor-adjunto do Novaya Gazeta.
Today's Novaya Gazeta front page. The title reads "Russia bombs Ukraine" and sub, in both Russian and Ukrainian, "Novaya Gazeta considers the war madness, it does not see the Ukrainian people as enemy and the Ukrainian language as enemy language". pic.twitter.com/HzwlEjB5wO
— Mariya Petkova (@mkpetkova) February 25, 2022
O jornal conseguiu, ainda assim, sobreviver quase mais um mês que a maioria dos outros media independentes, que encerraram ou suspenderam operações no início do março. Hoje, nenhum meio de comunicação livre russo, de ampla circulação, se mantém em pleno funcionamento.
“Há três semanas, as autoridades russas começaram esta experiência incrível: agarraram num país relativamente aberto e disseram que os jornalistas não podem dizer absolutamente nada sobre a guerra. Claro que nunca houve muita liberdade na Rússia, mas nunca pensei que em 2022 fossemos forçados a não dizer ‘guerra’.” Martynov refere-se à nova legislação que proíbe aquilo que é considerado “informação falsa” pelas autoridades russas, incluindo notícias que “desacreditem” o exército e mesmo o uso do termo “guerra” para referir o conflito na Ucrânia — a Rússia autoriza apenas a expressão “operação militar especial”. Violar a lei pode resultar em multas e penas de prisão até 15 anos.
Intimidações, ameaças e protestos
O encerramento — permanente ou temporário — destes meios de comunicação independentes russos foi o culminar de um processo repleto de momentos de tensão e intimidação.
Como muitos jornalistas russos, Valery Nechay, da Eco de Moscovo, sabia bem o que era trabalhar sob a pressão de um regime autoritário. Antes de a guerra começar já choviam mensagens online que fariam muitos profissionais no Ocidente avançar com queixas à polícia. Mensagens como “Não te podes atrasar para o teu encontro com Deus”, “Não tenhas medo de ir ter com Deus”. “Colegas meus receberam, eu também recebi estas mensagens. Era só intimidação. Não vou dizer que era normal, mas era O.K.”, conta ao Observador.
A estação, detida pelo gigante energético Gazprom, gozava de uma relação amigável com as autoridades e Nechay garante que era um espaço de equilíbrios, com governo e oposição frequentemente em estúdio para debates e entrevistas. “O governo não olhava para a rádio como um ninho de vespas, mas como um espaço para exporem as suas políticas”, explica.
Ouvida por um milhão de pessoas em Moscovo e 400.000 em São Petersburgo, a Eco tinha um público alvo que o editor-chefe descreve como sofisticado e liberal, mas não radical. O tipo de pessoas que procuram ir além da propaganda, mas que não aderem a protestos de rua.
Nos seus 32 anos de existência, só uma vez, antes da atual, é que a rádio foi tirada do ar. Foi em 1991, durante uma tentativa de golpe contra Mikhail Gorbachev: teve quatro cortes em três dias, mas acabou por voltar, ao mesmo tempo que o golpe falhava. Os problemas repetiram-se em 2014, com a anexação da Crimeia. Na altura, a cobertura da guerra fez chegar um aviso do Roskomnadzor de que tinham emitido “informação que justifica crimes de guerra”. Mais uma vez, a rádio sobreviveu, sempre num jogo de equilíbrios.
O cenário mudou por completo depois de 24 de fevereiro, quando arrancou a invasão da Ucrânia. A partir daí, os níveis de intimidação subiram a pique, ao ponto de Nechay decidir abandonar a Rússia.
Primeiro, o jornalista começou a ser abordado por estranhos que lhe faziam perguntas e o filmavam. Depois começaram a surgir fotografias suas na Internet, incluindo uma em que jantava com um diplomata norueguês num evento oficial. “Disseram que eu ia receber dinheiro do Ocidente. E ainda publicaram comentários de deputados que diziam que o Ministério Público devia reagir, abrir uma investigação a essas ligações”, conta.
Ao mesmo tempo, a mãe de Valery começou a receber chamadas de homens desconhecidos. “Mandavam cumprimentos para mim. Diziam ‘Diga olá ao Valery’. Quando sabem que não é possível intimidar alguém, tentam encontrar o ponto fraco, podem ser filhos ou pais idosos”, diz o jornalista.
As experiências de intimidação chegaram a vários repórteres da Eco de Moscovo. Alguns foram surpreendidos pela letra ‘Z’, símbolo de apoio à invasão da Ucrânia, escrita na porta das suas casas. O editor-chefe de Moscovo, Alexei Venediktov, detentor de uma farta cabeleira de caracóis prateados, foi surpreendido por uma cabeça de porco, adornada com uma cabeleira loira, deixada na entrada de sua casa. Na porta foi colado um autocolante com o brasão da Ucrânia e as palavras “Porco Judeu”.
“Z” de vitória. A origem do maior símbolo de apoio à guerra na Ucrânia
Somebody posing as a delivery man left a pig head in a curly wig outside the home of former Echo of Moscow editor-in-chief Alexey Venediktov. And slapped a Ukrainian coat of arms to the door containing an anti-Semitic message. pic.twitter.com/n4yb2KxsNh
— Kevin Rothrock (@KevinRothrock) March 24, 2022
“A maioria das pessoas apoia [Vladimir] Putin, mas não se importa com a nossa existência. Mas há grupos marginalizados, antissemitas, de extrema-direita. Chamavam à rádio ‘Eco de Jerusalém’ ou ‘Eco de Telavive’. O grau de antissemitismo na Rússia é muito elevado. Quando falam dos nazis na Ucrânia, aconselho que olhem para o número de nazis na Rússia. Foi por isso que colocaram aquele cartaz e aquela cabeça de porco”, comenta Valery.
O ambiente manteve-se assim durante cerca de um mês, até que veio a gota de água para o editor-chefe de São Petersburgo. Foi no dia 27 de fevereiro, depois de ter passado um fim de semana fora com amigos. “Cheguei a casa e estavam lá três homens, não sei como foram lá parar. Foram muito educados, mas disseram-me que devia pensar nos meus familiares próximos, como a minha mãe, o meu irmão, os meus amigos, os filhos deles. [Disseram] que se queria que eles estivessem bem, devia encontrar uma forma de deixar a Rússia”, recorda.
Assim foi. O bilhete para a Arménia, destino intermédio, já estava comprado antes deste incidente, mas foi um empurrão para acelerar a saída do país. Em conversa com o Observador a partir da sua nova morada, que prefere não divulgar, Valery faz questão de explicar que não foi apenas uma questão de medo que o levou a deixar a Rússia. Foi também uma questão moral: “Quando a guerra começou, percebi que não queria estar [num país] com um governo que é contra a Ucrânia. O meu pai era ucraniano. Não vou dizer que sinto o sangue ucraniano nas minhas veias, mas não era correto [ficar]. Era totalmente errado.”
Kirill Martynov, o adjunto do Novaya Gazeta, não tem histórias tão dramáticas para contar — acredita que pivots, apresentadores e moderadores de rádio e televisão gozam de uma notoriedade que os torna alvos mais fáceis, em comparação com os jornalistas de imprensa.
Mas nem por isso o jornal passou ao lado das pressões. “Tivemos ameaças, e houve protestos de patriotas à nossa porta, em que nos chamaram de traidores e pediram que fossemos despedidos”, relata. E não foram só consequências coletivas: Martynov dava aulas de Filosofia em duas universidades, de onde foi despedido: “Vais às aulas, dizes algo como ‘A guerra não é uma coisa boa’, e recebes uma carta de um pai de um aluno a dizer que és um traidor e não devias ser autorizado a estar no sistema educativo russo. Foi uma comédia para mim. As pessoas a morrer na Ucrânia e eu não posso dizer que isso é mau. O que é que eu tenho a ensinar se não posso dizer sequer isso?”
Chamar guerra à guerra
Antes de fecharem portas, houve um período de resistência, e tanto o Novaya Gazeta como o Eco de Moscovo tentaram lidar com a impossibilidade de chamarem guerra à guerra.
Valery Nechay comenta que o caso, sendo sério — vários media optaram por fazer a substituição do termo nas suas publicações—, é ao mesmo tempo caricato. “O romance de Leo Tolstoy devia passar a chamar-se ‘Operação Especial e Paz’”, graceja o jornalista.
Para lidar com esta questão, a Eco de Moscovo decidiu adotar a seguinte fórmula: “A guerra na Ucrânia, a que o governo russo chama de operação especial”. “Estávamos a tentar jogar o jogo deles”, explica o editor-chefe. Mas não funcionou. Ao fim de poucos dias de guerra a rádio recebeu uma carta do procurador-geral que apontava para violações à lei. “Encontraram uma entrevista a um jornalista ucraniano que chamava guerra à guerra, e o jornalista da Eco não disse nada, o que eles entenderam como um sinal de concordância”, recorda.
Esta carta foi também enviada ao Roskomnadzor, que gere as frequências de rádio. O regulador entendeu que a estação difundia “deliberadamente informação falsa sobre as ações do pessoal militar russo”, bem como “informação que apela a atividade extremista”. A Eco de Moscovo fica muda, e dois dias depois o Conselho de Administração, controlado pela Gazprom, anunciou o encerramento da rádio.
Já o histórico Novaya Gazeta adotou a estratégia de evitar informação de carácter mais militar, mas não só acabou por falhar como, pelo caminho, teve de censurar os seus jornalistas.
O diretor-adjunto diz que o sucesso, ainda que temporário, foi resultado de uma estratégia concertada, mas muito pouco consensual. “Tivemos uma discussão muito acesa, nunca vi uma discussão destas em toda a minha carreira”, conta ao Observador. A equipa foi chamada a decidir se, à semelhança de outros media, suspendia operações, ou se continuava a funcionar, tentando não violar as novas regras do jogo. As opiniões empataram e o Novaya decidiu levar a questão aos leitores e doadores. Aqui, a resposta foi inequívoca: 93% disseram que o jornal devia continuar.
Martynov votou contra, mas acabou por mudar de ideias. “[Inicialmente] achei que era insuportável não podermos chamar guerra à guerra, e não descrevermos as batalhas. Mas depois acabei por aceitar que tinha sido a decisão certa”, conta. No tempo em que se manteve aberto, o Novaya focou-se em cobrir o impacto da guerra: as sanções, a crise humanitária, e até mesmo a destruição das cidades ucranianas, mas sem fazer referência aos combates. “Sabíamos que provavelmente tinha sido o exército russo a atacar aquelas cidades, mas não tínhamos informação e não procurávamos informação porque seria considerada falsa”, justifica.
Outra grande dificuldade foi lidar com o material produzido pela correspondente que o jornal tinha na Ucrânia, a repórter Elena Kostyuchenko. “Ela fez coisas incríveis nestes meses. Atravessou a frente de batalha duas vezes — foi de Mykolayiv, que está sob controlo ucraniano, para Kherson, que estava ocupada pelo exército russo. Temos muito orgulho nela”, diz o diretor-adjunto.
Mas o trabalho de Kostyuchenko, que Martynov descreve como sendo de “excelência”, ficou muitas vezes fora das páginas do Novaya. “Se ela olhar pela janela e vir um míssil russo a atingir um alvo numa cidade, o Roskomnadzor, o nosso censor, ia considerar quer essa notícia era mentira. Porquê mentira? Porque não encaixa com a informação oficial do Ministério da Defesa da Federação Russa”, explica o jornalista. “Tivemos de a censurar, porque se não o fizéssemos arriscávamos acusação criminal”, lamenta.
Martynov diz que, ainda assim, o saldo foi positivo, com dois milhões de leitores diários na página do jornal, e mais ainda nas redes sociais. “Tenho orgulho de termos sido o último media independente a operar”, diz ao Observador.
Mas não durou sempre. Um dia depois de uma entrevista conjunta com vários media independentes ao Presidente Volodymyr Zelensky, em que participou também o diretor do Novaya, Dmitry Muratov, o aviso chegou: o Roskomnadzor acusou o jornal de não identificar um “agente estrangeiro” numa publicação não especificada. Sem grandes bases para a acusação, o Novaya entendeu que se tratou de uma retaliação pela cobertura que estavam a dar à guerra e pela participação de Muratov na entrevista com o Presidente ucraniano.
Agora, a página do jornal — que, ao contrário de outros media, ainda se encontra disponível —parece uma cápsula do tempo: continua ter inúmeros artigos relacionados com a guerra, mas nenhum vai além de 28 de março.
“O período mais negro da imprensa russa”
“Não enfrentámos nada deste género durante a história contemporânea da Rússia.” As palavras de Kirill Martynov, para quem este é o “momento mais negro” da imprensa russa, não devem ser tomadas com leveza. Martynov faz parte da direção de um jornal com uma história sangrenta: nos quase 30 anos de existência, tornou-se sinónimo de investigação política e sofreu as consequências disso, com pelo menos seis jornalistas assassinados desde o ano 2000, incluindo Yuri Shchekochikhin, Anna Politkovskaya e Anastasia Baburova.
O jornal que, através do seu diretor, recebeu no ano passado um Nobel da Paz, nasceu com o dinheiro de outro Prémio da academia sueca. Mikhail Gorbachev usou parte da verba que ganhou com o galardão para estabelecer o Novaya em 1993. Desde então, o jornal destacou-se pelas investigações a fraude bancária, desvio de dinheiro por elites políticas, purgas contra homossexuais e homicídios na Chechénia, e até por um trabalho sobre o oligarca Yevgeny Prigozhin, próximo de Putin e associado ao Grupo Wagner, uma organização paramilitar — esta investigação fez com a redação do Novaya fosse presenteada com uma cabeça de carneiro e flores funerárias.
“Claro que não posso comparar o que se passa agora com a morte de Anna Politkovskaya, porque todos os nossos jornalistas aqui estão vivos. Mas há jornalistas a morrer na Ucrânia, e não vejo muita diferença em alguém ser morto por assassinos profissionais ou por artilharia russa”, afirma Martynov. O diretor-adjunto diz que, apesar das tragédias de décadas passadas, mantinha-se um sentido de missão que, com o fecho do jornal, deixa de servir de consolo: “Digo que este é o período mais negro porque quando Politkovskaya morreu continuámos a publicar. Agora arriscamos a vida e não há sequer jornal”.
Jornalistas em fuga, mas sempre jornalistas
A Eco de Moscovo e o Novaya Gazeta não foram os únicos a deixar de dar notícias. O mesmo aconteceu com a TV Dozhd (TV Rain), uma das poucas televisões independentes da Rússia, que ao fim de 12 anos teve ordens de encerramento. Na última emissão, em jeito de despedida, a redação juntou-se no estúdio, em torno da mesa do pivot e, em lágrimas, deixou uma mensagem de esperança aos seus espetadores: “No pasarán!”
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A funcionar continua o portal Meduza, que não está sediado na Rússia mas foi bloqueado no país. Ainda assim, por receio de que a segurança dos jornalistas estivesse em risco, o Meduza acabou por retirá-los do país.
Muitos dos jornalistas que se viram sem emprego decidiram abandonar a Rússia, e alguns mantêm a atividade através de redes socais. Aconteceu com a Eco de Moscovo, onde trabalhavam mais de 150 repórteres. “Para poderem continuar a fazer o seu trabalho, decidiram deixar a Rússia. Muitos homens têm também medo de ser chamados para o exército, se Putin começar a convocar toda a gente”, explica Valery Nechay.
Agora, a partir do estrangeiro, o antigo editor-chefe tem uma nova missão: manter a Eco viva através de um canal de YouTube, onde continua a passar notícias e programas. Mas agora, por motivos legais, já não se chama Eco de Moscovo. É antes o Ищем выход, “À procura da saída”, o nome de um dos programas mais populares da estação. Por enquanto são apenas duas horas de emissão diária, que atraem 113 mil seguidores. A redação de Moscovo fez o mesmo e consegue mais de 400 mil ouvintes por dia.
As contas são pagas pelo dinheiro doado por ouvintes, que Valery garante serem generosos. Mas claro, não há milagres, e as verbas só asseguram o salário de 12 jornalistas, alguns fora da Rússia. O canal de YouTube é uma solução de recurso. Até quando? Valery não sabe. “A Eco já não existe. Acreditamos que vamos voltar a trabalhar, mas os jornalistas têm famílias, filhos… enfim”, suspira.
No Novaya, o ambiente é ligeiramente mais otimista, porque o jornal não fechou — está, oficialmente, apenas suspenso. Nenhum dos cerca de 80 jornalistas foi despedido, ainda que alguns tenham abandonado a Rússia.
O diretor-adjunto, Martynov, mantém os olhos na meta fixada pelas autoridades russas, que anunciaram que o conflito terminaria a 9 de maio: “[Vladimir] Putin vai ter de acabar esta guerra de alguma maneira. Se deixarmos o jornal aberto — suspenso, mas aberto —, alguns jornalistas acham que vamos conseguir voltar a publicar. Temos alguma esperança, ainda”.