Rui Tavares teve o segundo frente a frente consecutivo. Depois de se estrear com Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, teve como opositora Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, que já debateu com Luís Montenegro, da AD. Discutiram a NATO, o Rendimento Básico Incondicional — que Tavares defende, mas Mortágua considera financeiramente incomportável —, divergiram na venda de casas a não residentes e ainda falaram da avó e da mãe. Logo no arranque, o porta-voz do Livre ironizou sobre a questão dos debates com a AD: disse que estava “chateado” com Mariana Mortágua, porque “depois do debate que fez com o Montenegro, ele não quer debater” consigo.
Esta sexta há dose tripla de debates: começam às 18h00, na SIC Notícias, com Rui Rocha, da IL, frente a Inês Sousa Real, do PAN; seguem-se, às 21h00, na RTP1, Pedro Nuno Santos, do PS, e Rui Tavares, do Livre; e, para terminar, às 22h00, na CNN, André Ventura, do Chega, e Paulo Raimundo, do PCP. Pode ver o calendário completo de todos os debates neste gráfico.
Quem ganhou cada um dos debates? Ao longo destes dias, um painel de avaliadores do Observador vai dar nota de 1 a 10 a cada um dos candidatos por cada um dos frente a frente. E explicar porquê. A soma vai surgindo a cada dia, no gráfico inicial.
Mariana Mortágua (Bloco) – Rui Tavares (Livre)
Ana Sanlez —Dois amigos de esquerda entram num bar… Só faltaram as cervejas e os tremoços neste debate entre Mariana Mortágua e Rui Tavares. Bloco e Livre disputam o mesmo eleitorado, apesar de Rui Tavares afirmar o contrário. Foi preciso arrancar a ferros divergências entre os dois candidatos. O tema da habitação foi aquele em que ambos defenderam melhor as suas ideias, e o esforço por discordar foi tanto que lá se percebeu que, a custo, é possível encontrar algo que os separa. Ambos foram muito vagos sobre possíveis soluções para manter jovens no país. Mariana perdeu pontos no início quando questionada sobre a história da avó, ao dizer que “não faz sentido discutir questões particulares”, quando foi a própria a trazer um caso particular para os debates.
Miguel Pinheiro —Depois de ter trazido a avó para o debate com Luís Montenegro, e depois de terem surgido dúvidas sobre se essa mesma avó cumpria ou não os requisitos para ter problemas com a chamada “lei Cristas”, depois de tudo isto, Mariana Mortágua descobriu agora que “não faz muito sentido discutir as questões particulares”. Foi o maior tiro no pé desde que se inventaram os tiros. Já Rui Tavares invocou a sua própria mãe a propósito de este ser o dia em que se pagam as rendas. Esquecendo as famílias dos debatentes, estiveram ambos esforçadamente à procura de temas em que pudessem discordar. Verdadeiramente, não os encontraram.
Miguel Santos Carrapatoso —Rui Tavares tem um talento enorme. Dois, aliás. Em primeiro lugar, a capacidade de dizer muitas palavras por segundo com a profunda convicção de que está a salvar o mundo. Depois, o dom de dizer coisas de que é difícil discordar. Sonho para o SNS? Entrar de “cabeça erguida” num hospital. Desígnio estrutural para o país? “Erradicar a pobreza”. O Rendimento Básico Incondicional que defende custaria qualquer coisa como 28 mil milhões de euros? Não faz mal, experimenta-se um bocadinho porque o “conhecimento em si tem valor”. Há problemas no acesso à Habitação? Cria-se uma sobretaxa para um fundo de emergência que deverá fazer qualquer coisa pelo assunto. Precariedade no mercado laboral? Testa-se a semana de quatro dias. Bloco e Livre disputam eleitorado? Não, porque, na verdade, “toda a esquerda precisa de ganhar”. Rui Tavares está apostado em ser o voto confortável para quem não quer votar nos socialistas. Não chateia muito, não incomoda nada e não hostiliza ninguém. Numas eleições que serão, em parte, sobre quem merece o voto dos descontentes com o PS, a estratégia pode ser útil. Se acrescenta alguma coisa ao debate? Nem por isso. Mariana Mortágua tem ideias e alguma coisa a dizer – concorde-se ou não com o que diz. Hoje, infelizmente, decidiu quase sempre mimetizar o candidato a mister simpatia que tinha à sua frente. Com a agravante de ter sido apanhada na curva logo ao início: afinal, depois de ter usado o caso da avó que vivia sobressaltada com um eventual despejo no frente a frente com Luís Montenegro, o ponta de lança da direita cruel que maltrata os velhinhos, descobriu agora que “não faz muito sentido discutir as questões particulares”. Talvez, mas só talvez, porque a “questão particular” que usou contra o adversário tenha sido algo exagerada no calor do momento. Ups.
Ricardo Conceição — Dois amigos entraram numa televisão e procuraram no fundo do seu ser o que os separa, mas não foi fácil. Mariana Mortágua foi confrontada pela moderadora com a história da avó e das rendas. Foi incapaz de dar uma explicação cabal sobre o “sobressalto” da avó ao receber a carta do senhorio e “não faz muito sentido discutir as situações particulares”, acrescentou. E logo de seguida ficámos a saber que hoje, 8 de fevereiro, a mãe de Rui Tavares vai ter de pagar a renda ao senhorio. Em meia hora, os líderes do Bloco de Esquerda e do Livre exploraram pequenas diferenças que, no fundo, os unem, num debate entediante entre dois elementos da mesma barricada. Foi de tal forma delicodoce que até houve direito a cafuné quando Tavares atirou a Mariana que estava “chateado” com a bloquista, porque depois do debate de Mortágua com Montenegro, “ele (Montenegro) não quer debater” com o líder do Livre.
Rui Pedro Antunes —O maior vencedor do debate foi quem não esteve nele: Pedro Nuno Santos. O líder do PS tem ali dois parceiros mortinhos por uma geringonça. De tal forma que evitaram atacar-se, numa espécie de pacto não-agressão. A líder do Bloco de Esquerda teve um ataque auto-infligido, uma vez que não quis explicar de forma clara a questão “particular” da avó — isto quando foi ela própria, no debate com Montenegro, que utilizou a situação da familiar como arma de arremesso. Rui Tavares continua com dificuldades em demonstrar os benefícios da experiência-piloto do Rendimento Básico Incondicional e viu Mariana Mortágua a utilizar o seu “multimilionário do Dubai” para destruir a proposta do Livre da sobretaxa do IMT. O discurso de que não quer tirar votos ao Bloco de Esquerda é poético, mas não tem correspondência na realpolitik. Tempos houve em que até “roubou” o terceiro deputado europeu (ele próprio) ao BE.
Pode ver aqui as notas dos debates de segunda-feira, terça-feira e quarta-feira.