A chegada da Covid-19 colocou o país em suspenso. Da restauração à cultura o impacto foi grande e a expectativa de um 2021 melhor levou as autarquias a reagendar concertos cancelados em 2020 ou a avançar com novos programas para as cidades. Mas o facto de a situação pandémica dos últimos dias e semanas em Lisboa se ter agravado não oferece garantias de que as atividades se possam sequer realizar este verão. Certezas, para já, só em relação ao fim de semana que passou, com cancelamentos e adiamentos na Amadora e Almada. Para fugir à testagem em massa nos eventos há também quem reduza a lotação dos eventos.
Isaltino Morais já teve que adiar a programação das Festas de Oeiras de 2020 para 2021. Um investimento de mais de 330 mil euros com artistas que vão deste Tony Carreira a Blaya. Agendadas para se realizarem entre 29 de maio e 14 de junho de 2020, a autarquia informou a 30 de maio que a situação que o país atravessava à data era impeditivo da realização das festas e que o dia do município seria assinalado “de uma forma segura para todos”. Em consequência, todos os artistas que já tinham sido contratados pela autarquia transitaram para a edição deste ano.
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Sobre a edição deste ano pouco se sabe. A autarquia não divulgou oficialmente qualquer data para a realização do evento — que tradicionalmente no calendário já devia estar a decorrer — e questionada pelo Observador no final de maio a autarquia confirmava a realização das Festas de Oeiras “em moldes diferentes das edições anteriores”. Explicava a autarquia que não iria “promover ajuntamentos e que cumpriria “todas as regras de segurança determinadas pelas autoridades de saúde”.
Com o evoluir da situação, e ainda que não tenha sido apontada qualquer data para a realização do evento, a imposição de novas restrições o Observador voltou a contactar a autarquia sobre um eventual novo adiamento das Festas de Oeiras, mas o município liderado pelo independente Isaltino Morais respondeu apenas que “desde o inicio da pandemia que o Município de Oeiras tem estado a seguir à risca os pareceres das autoridades de Saúde pública e das entidades de segurança e Proteção Civil” e que a uma eventual decisão de adiar ou realizar “será de acordo com as instruções destas autoridades”.
Fica por esclarecer o que acontece, caso haja um novo adiamento, aos artistas que foram contratados para os concertos das Festas de Oeiras.
Dos mais de 330 mil euros, distribuídos por 18 artistas, metade do valor foi pago já em 2020, quando os contratos foram assinados. A autarquia não esclareceu ao Observador o que acontece, caso o evento seja cancelado, aos restantes 50% do valor contratualizado que ainda está em falta. De acordo com os contratos publicados no Portal BASE a segunda tranche do pagamento devia ser feita na data do concerto.
Almada e Amadora adiam espetáculos
As autarquias de Almada e da Amadora também investiram na programação cultural e musical para este verão, mas já sofrem os primeiros impactos da escalada dos números na Área Metropolitana de Lisboa. Na Amadora, os espetáculos agendados para o Cineteatro D. João V entre a passada sexta-feira e domingo foram adiados. Ao Observador fonte oficial da autarquia confirma o adiamento “em virtude das medidas de restrição à circulação de e para os concelhos da Área Metropolitana de Lisboa decretadas pelo Conselho de Ministros no contexto da pandemia de Covid-19”.
O musical “Uma Noite na Broadway” que estava marcado para este sábado tem como nova data o dia 17 de julho, mas o espetáculo de fado “Maria João Quadros convida António Pinto Bastos” foi adiado sem outra data indicativa o mesmo que aconteceu com o concerto de “Secret Lie” que devia ter-se realizado na sexta-feira passada.
Já em Almada, o município investiu mais de 200 mil euros no “Está tudo em Festa 2021”, um evento com concertos, Stand Up Comedy, teatro, cinema, circo, dança e exposições. Para já, fonte da autarquia reconhece ao Observador que o facto da DGS exigir a testagem de todos os participantes em eventos com mais de mil pessoas, ao ar livre, ou mais de 500 em espaços fechados ditou o “adiamento para data a anunciar oportunamente” de um espetáculo que estava previsto realizar na sexta-feira.
O concerto de Kumpania Algazarra fica assim adiado sem data prevista para realização, mas a mesma fonte diz que para já se mantém a restante programação para o mês de junho que inclui nomes como Dino D’Santiago (dia 23), Bárbara Tinoco (dia 24) ou Beatriz Gosta (dia 23).
Há cerca de duas semanas a mesma fonte garantia ao Observador que a autarquia “acompanha atentamente a evolução da situação pandémica” e que “estava preparada para qualquer alteração de contexto que se venha a verificar” frisando que desde o início da pandemia em março do ano passado a autarquia de Almada “honrou sempre os compromissos assumidos com artistas, pessoal técnico, promotores ou associações”, tendo garantido “sempre que possível o reagendamento” dos eventos cancelados.
Sintra reduz lotação dos seis concertos de Ópera para não sujeitar participantes a testes
Em Sintra, que realiza durante o mês de julho seis espetáculos de Ópera entre os dias 3 e 27 de julho, com um custo total de quase 70 mil euros, a indicação atual dada por Basílio Horta é a de reduzir a lotação dos espaços para números inferiores aos que a DGS estabeleceu como limite para a testagem. Ou seja, a opção da autarquia é de manter até ao momento o que está programado, mas limitar o número de participantes no exterior a um número inferior a 1.000 e no interior a 500.
O anúncio do regresso da iniciativa foi feito nas páginas oficiais do município esta sexta-feira, em contraciclo com a decisão de algumas autarquias da Área Metropolitana de Lisboa que optam por adiar os eventos tendo em consideração o aumento do número de casos nos vários concelhos.
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Além deste evento, o município tem ainda a decorrer o 55.º Festival de Sintra, que não sofreu qualquer alteração. Ao Observador fonte da autarquia confirma a manutenção da programação e o não impacto da atualização da norma de testagem uma vez que os espaços onde decorrem os concertos são mais pequenos e não teriam capacidade para acolher o número de pessoas estabelecido como limite pelas autoridades de saúde. Ainda assim, a autarquia afirma que alguns dos horários dos espetáculos estão a ser avaliados e podem ser reajustados, mas não está previsto qualquer cancelamento.