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Russia - Ukraine war continues
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Nos últimos dias, as tropas de Kiev derrubaram com sucesso a linha de defesa russa ao longo do rio Dnipro

Metin Aktas/Anadolu Agency via Getty Images

Nos últimos dias, as tropas de Kiev derrubaram com sucesso a linha de defesa russa ao longo do rio Dnipro

Metin Aktas/Anadolu Agency via Getty Images

Avanço de 30 km em Kherson e "vitória significativa" no Donbass. Como foram as últimas vitórias da contraofensiva ucraniana

Indiferente ao aumento de ameaças do Kremlin, Ucrânia está a conseguir conquistar territórios no leste e a sul — Kherson poderá cair brevemente. Russos criticam rumo da ofensiva, mas protegem Putin.

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O anúncio da mobilização parcial russa, a oficialização das anexações de quatro territórios ucranianos e a ameaça do submarino nuclear Poseidon. Todos estes acontecimentos dos últimos dias mostram uma resposta mais musculada da Rússia e uma escalada da tensão da guerra na Ucrânia. Contudo, no terreno, pouco ou nada mudou desde o início de setembro — e Moscovo não conseguiu inverter a tendência vitoriosa de Kiev. As tropas ucranianas continuam a alcançar importantes sucessos na contraofensiva no sul do país e perto de Lugansk, no leste.

É cada vez mais provável que Kherson — uma das primeiras cidades a ser conquistadas pela Rússia no início da invasão — volte a ser controlada pela Ucrânia brevemente. Moscovo não deverá ter capacidade de resposta para contra-atacar tão cedo, já que as medidas recentemente anunciadas por Vladimir Putin ainda vão demorar alguns meses até terem efeitos práticos. Por exemplo, no que diz respeito à mobilização parcial, os soldados precisam primeiro de ser treinados antes de irem para a linha da frente.

A Ucrânia quer tirar proveito desse facto. Para tal, mantém a mesma estratégia de comunicação do último mês para apanhar as forças russas em falso. Um porta-voz militar ucraniano da região sul, Vladislav Nazaro, pediu “silêncio”. “Não informem nem sequer das notícias positivas sobre as ações das nossas unidades. A resistência e a força são o segredo do nosso constante movimento até à vitória”, disse o responsável, citado pelo El País. Paradoxalmente, tem sido a Rússia a revelar a situação no terreno, nomeadamente a retirada das suas tropas e o avanço das forças ucranianas.

"Não informem nem sequer as notícias positivas sobre as ações das nossas unidades. A resistência e a força são o segredo do nosso constante movimento até à vitória"
Porta-voz militar ucraniano da região sul, Vladislav Nazaro

Nos últimos dias, as tropas de Kiev derrubaram com sucesso a linha de defesa russa ao longo do rio Dnipro, no sul, algo que está a ser encarado como o maior avanço desde a tomada de Kharkiv. Esta terça-feira, chegavam os relatos de que a Ucrânia já conseguiu retomar o controlo de algumas aldeias e está, localidade a localidade, a aproximar-se de Kherson. Todas estas movimentações ocorrem numa altura em que (de acordo com a legislação russa) a região já integra a Federação Russa, uma decisão que já foi ratificada pelas duas câmaras do Parlamento russo, e em que a ameaça nuclear paira sobre a Ucrânia, numa primeira linha, mas também, inevitavelmente, sobre a Europa.

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A contraofensiva no sul: Kherson cada vez mais perto

As tropas ucranianas fizeram “avanços significativos” nas últimas horas, com a tomada de localidades como Myrolyubivka e Arkhanhelske (a cerca de 130 quilómetros de Kherson), revela o relatório diário do Instituto para o Estudo da Guerra, notando que “os oficiais do exército da Ucrânia têm mantido o seu silêncio operacional no que diz respeito ao progresso das tropas ucranianas em Kherson”.

Esta segunda-feira, o líder pró-russo de Kherson, Vladimir Saldo, veio quebrar esse silêncio imposto do lado ucraniano, admitindo que as tropas de Kiev conseguiram fazer com que a linha de defesa russa recuasse 30 quilómetros. “A situação é tensa. Há localidades que foram ocupadas”, revelou.

Kirill Stremousov, outro oficial militar pró-russo em Kherson, informou já esta terça-feira de manhã, citado pela Reuters, que o avanço de Kiev parou às portas de Dudchany (a 120 quilómetros da cidade). No entanto, horas mais tarde, o Ministério da Defesa ucraniano publicou no Twitter a informação de que a aldeia Davydiv Brid (a 100 quilómetros de Kherson) já tinha sido controlada pelas tropas da Ucrânia.

Os mapas divulgados esta terça-feira pelo Ministério da Defesa russo revelam também as perdas da Rússia, cujas tropas estão a retirar-se de posições que mantinham desde março. No entanto, durante a habitual conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, nunca as elencou, tendo apenas revelado o mapa sem conceder qualquer explicação.

De acordo com o Wall Street Journal, as forças de Kiev conseguiram afastar as tropas da Rússia do último bastião do país localizado na margem ocidental do Rio Dnipro, um avanço estrategicamente importante e que atua como tampão, impedindo Moscovo de avançar para o restante território da Ucrânia. Além disso, depois de várias pontes e estradas terem sido cortadas, torna-se assim cada vez mais difícil para a Rússia reabastecer as suas tropas, ficando cada vez mais isoladas.

“O facto de [a Ucrânia] ter conseguido quebrar a frente [russa] significa que as tropas russas perderam a habilidade para atacar e hoje ou amanhã podem perder a capacidade para se defenderem”, comentou o analista militar ucraniano Oleh Zhdanov à agência Reuters. “Um mês de trabalho a destruir os seus equipamentos e a reduzir a sua eficácia no campo de batalha dá a entender que [os russos] estão a funcionar a mínimos.”

Todas estas ações ofensivas não só debilitam o moral do exército russo como comprometem o cumprimento de outros objetivos. Celeste Wallander, secretária-adjunta para Assuntos de Segurança Internacional no Departamento de Defesa norte-americano, sublinhou que todas estas movimentações representam uma “grande derrota para a Rússia”. “Afasta-os ainda mais da ambição de tomar Odessa, que era um dos objetivos no início do ano”, explicou a responsável, acrescentando que dá à Ucrânia uma “posição defensiva para conseguir responder a uma ‘guerra quente’ no inverno”.

Movimentações em Kherson são "grande derrota para a Rússia": "Afasta-os ainda mais da ambição de tomar Odessa, que era um dos objetivos no início do ano"
Celeste Wallander, secretária adjunta para Assuntos de Segurança Internacional no Departamento de Defesa norte-americano

Não obstante, ainda não é claro se e quando Kherson vai acabar por ser novamente controlada pela Ucrânia, apesar dos avanços em redor da cidade dos últimos dias. Se o conseguir, será uma das maiores vitórias desde 24 de fevereiro, podendo ser ainda mais importante do que Kharkiv, uma vez que a Rússia já encara o território como seu — e isso significará uma derrota em toda a linha que nem a realização do referendo conseguiu evitar.

Em reação aos avanços ucranianos, o relatório do Instituto para o Estudo da Guerra dá conta de que as altas patentes russas “estão cada vez mais a culpar os serviços de informações da NATO por exporem as fraquezas da Rússia no oblast de Kherson”, prevendo um cenário de “batalhas urbanas” (para que se estão a preparar), ao mesmo tempo que assumem “novas posições defensivas”.

Lyman: o centro estratégico russo controlado pela Ucrânia

As conquistas ucranianas não se reduzem ao sul do território ucraniano — a região de Donbass, mais a leste, também permanece como um dos objetivos. No domingo, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, recorreu às redes sociais para anunciar que já não havia nenhum soldado russo na cidade de Lyman, localizada no oblast de Donetsk (a cerca de 150 quilómetros da capital da região).

A cidade desempenhava o papel de centro logístico, permitindo às tropas russas reabastecer-se de armamento e de mantimentos para depois encaminhá-los para oeste e para sul. O secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, classificou a conquista como “significativa”. “Lyman é um dos principais postos de abastecimento dos russos, por onde passavam várias rotas. Sem elas, vai ser mais difícil”, afirmou.

E os ucranianos não se ficam apenas por Lyman. De acordo com oficiais pró-russos citados pela CNN internacional, as tropas de Kiev já estão na fronteira com o obslat de Lugansk, tendo na mira a conquista de outra localidade estratégica, que fica a 30 quilómetros: Kreminna.

Kreminna pode ser o próximo alvo da Ucrânia

Future Publishing via Getty Imag

Segundo o relatório do Instituto para o Estudo da Guerra desta terça-feira, as tropas ucranianas “continuam a consolidar os ganhos ao redor de Lyman e terão feito mais avanços em direção à fronteira com Lugansk”, estando a 10 quilómetros da província após terem conseguido controlar cidades como Terny e Torske. A contraofensiva de Kiev também cortou com sucesso uma estrada que termina em Kreminna, localidade na qual estão, neste momento, organizadas as linhas de defesa russas.

Andrei Marochko, representante da milícia da autoproclamada república de Lugansk, adiantou que as tropas da Ucrânia já ultrapassaram a fronteira do oblast, “tendo ganhado um avanço desconhecido na direção de Lysychansk”, segundo o documento do Instituto para o Estudo da Guerra. Essa informação não foi, no entanto, confirmada nem por Kiev nem por Moscovo.

Kremlin enervado e propagandistas estupefactos com a perda de Lyman

Contrariamente a outras derrotas, o que aconteceu em Lyman não passou incólume na Rússia e foi duramente criticado em público, quer na imprensa quer no seio do próprio Kremlin. Muitos propagandistas ficaram estupefactos com a retirada das tropas russas. Num programa do canal estatal, o senador Andrey Gurulyov não “conseguiu explicar o que se passou” na cidade. “Honestamente, de um ponto de vista militar, não consigo explicar. Não consigo explicar porque é que — depois deste tempo todo — eles não conseguem avaliar exatamente a situação.”

Também Vladimir Solovyov, anfitrião de um talk show no horário nobre da televisão estatal, descreveu o sucedido em Lyman como um “desafio sério”. “Precisamos de perceber o que fazer, se calhar tomar decisões impopulares e decisões necessárias.”

A comunicação social russa também se mostra crítica do sucedido em Lyman. Embora nunca apontando o dedo ao Presidente russo (preferindo, em vez disso, culpar o Ministério da Defesa), vários jornais condenaram o rumo da operação militar: “A rendição de Lyman tornou-se um problema político”, a mobilização “foi um abalo no barco da estabilidade política” e o mundo “está perto de uma catástrofe” são algumas das manchetes publicadas na segunda-feira.

Quem se juntou ao rol de críticas foi o líder checheno, Ramzan Kadyrov, que reiterou a necessidade de lançar um ataque “devastador” sobre a Ucrânia. Criticando a falta de logística militar, nunca condenou Vladimir Putin, preferindo colocar a culpa no Ministério da Defesa e no general Alexander Lapin. “Não sei que informações é que o Ministério da Defesa envia ao comandante supremo — Putin —, mas há medidas que precisam de ser tomadas, como a declaração da lei marcial perto das áreas das fronteiras e o uso de armas nucleares táticas”, defendeu.

Putin pressionado e criticado internamente após perda de Lyman

Segundo o relatório do Instituto para o Estudo da Guerra, Putin “estará a envidar esforços para apontar responsabilidades pelos recentes falhanços em Kharkiv e em Lyman”. Em concreto, o Presidente da Rússia poderá culpar o coronel-general Alexander Zhuravlev, comandante do distrito militar ocidental russo, “que não é visto há algum tempo” e que desempenha um papel importante na ofensiva na Ucrânia. O chefe de Estado russo poderá, assim, “tentar desviar as atenções, substituindo-o” do cargo.

Não é, no entanto, o único alvo. Como Ramzan Kadyrov já tinha sugerido, o culpado apontado pelo Kremlin pelos fracassos poderá ser o coronel-general Alexander Lapin. “As críticas em redor de Lapin nos últimos dias nos meios de comunicação sociais nacionalistas podem ter surgido para distrair e culpabilizá-lo pela crescente insatisfação”, lê-se no documento do Instituto para o Estudo da Guerra.

'Peace Mission 2021' Joint Counterterrorism Military Exercise In Orenburg

Alexander Zhuravlev (à esquerda) e Alexander Lapin (à direita) poderão ser responsabilizados pelos falhanços

MOROZOV KONSTANTIN/Ministério da Defesa russo

Por agora, não parece haver alterações na hierarquia militar. Mas, se Kherson cair, esse desaire no terreno poderá obrigar o Kremlin a agir. Sobre quem recairá a responsabilidade e que meios serão usados para a resposta russa à sucessão de derrotas, isso ainda permanece uma incógnita.

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