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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Carpool debate. "Machado quis pôr Coimbra nos tesourinhos com a história do aeroporto"

Quatro dos cinco principais candidatos a Coimbra aceitaram desafio do Observador para fazer debate num autocarro. Três deles querem o Ministério da Saúde na cidade. Todos são contra o novo aeroporto.

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Como este autocarro não tinha paragem para se protegerem do sol, os principais candidatos à câmara municipal de Coimbra quiseram entrar no minibus do Observador — o socialista Manuel Machado, atual presidente, recusou o convite. Seguia-se um debate de uma hora pelas ruas de Coimbra ao fim da manhã desta quarta-feira, dia 20 de setembro. Impacientes com a proximidade da hora de almoço, os três primeiros candidatos a chegarem ao autocarro de 29 lugares protestavam contra o facto de haver um candidato mais atrasado. Jaime Ramos (da coligação PSD-CDS-MPT-PPM), Francisco Queirós (CDU), e Jorge Gouveia Monteiro (do movimento Cidadãos por Coimbra, que tem o apoio do Bloco de Esquerda) foram reclamando com o atraso de José Manuel Silva (do movimento independente “Somos Coimbra”), cuja demora foi disfarçando os atrasos técnicos do Observador ao preparar seis câmaras e vários microfones.

Antes de começar, os lugares foram sorteados assim como a ordem de intervenção. O jornalista do Observador começou a distribuir os papéis e, por estar mais próximo de José Manuel Silva, estendeu-lhe o papel. Mas houve reclamações. “Foi o último a chegar tem de ser o último a tirar”, disparou Francisco Queirós. Os outros concordaram. José Manuel Silva encolheu os ombros e disse: “Pronto, tiro em último”.

Seguiu-se pouco mais de uma hora de debate, com picardias entre candidatos, enquanto o autocarro percorria as ruas de Coimbra. Cada um escolheu um lugar de passagem para falar de um problema do concelho. Os primeiros metros do autocarro foram feitos pela zona dos Hospitais da Universidade e pelo Hospital Pediátrico de Coimbra. O debate começaria, precisamente e propositadamente, pela saúde. Antes disso, só uma análise, rápida, aos últimos quatro anos e ao trabalho do presidente. Que estava ausente.

Pode ver aqui o debate completo dos candidatos à câmara de Coimbra:

Os erros de Machado. “Declínio”, “preguiça” e “imobilismo”

O primeiro desafio lançado aos candidatos foi para resumirem, numa frase, o principal erro da gestão dos últimos quatro anos, em que o executivo foi liderado pelo socialista Manuel Machado. Dos quatro candidatos em debate, Francisco Queirós, da CDU, esteve no executivo de Machado. A primeira provocação foi lançada por Gouveia Monteiro, um ex-vereador comunista (1998-2009), que também fez parte de executivos do socialista Manuel Machado e que mais tarde saiu do PCP.

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Francisco Queirós (CDU): A nota dominante foi o centralismo do presidente Manuel Machado que cavou ainda mais fundo o imobilismo do concelho de Coimbra.

Jaime Ramos (PSD-CDS-MPT-PPM): Não atraiu empresas, não criou emprego, não conseguiu fixar pessoas, não assegurou melhores transportes nem melhor limpeza, ou seja, acentuou o declínio da cidade de Coimbra.

José Manuel Silva (Movimento independente “Somos Coimbra”): O grande problema deste concelho é que a câmara de Coimbra se transformou numa força de bloqueio devido a uma burocracia extrema, a incapacidade em atrair investimento, em criar emprego, em requalificar o centro histórico em atrair empresas e investimento.

Jorge Gouveia Monteiro (movimento “Cidadãos por Coimbra”): O principal erro foi deixar tudo para o fim, portanto preguiça durante três anos — no caso do vereador Queirós, sete anos — e depois, agora é pouco crível que apareça tanta obra no último ano, portanto, as coisas não colam.

Pode ver aqui os melhores momentos do debate Carpool de Coimbra.

Ministério da Saúde deve instalar-se em Coimbra. Só CDU é contra.

Só a CDU discorda da ideia de deslocar o Ministério da Saúde para Coimbra, proposta que consta dos programas de dois candidatos. O candidato comunista já veria com bons olhos a deslocação do Tribunal Constitucional para Coimbra, uma proposta do social-democrata Jaime Ramos.

Estamos a dirigir-nos para os Hospitais da Universidade de Coimbra. Há dois candidatos — curiosamente os dois que são médicos, Jaime Ramos e José Manuel Silva — a defenderem a mudança do Ministério da Saúde aqui para Coimbra. Faz sentido essa deslocalização porquê?

Jaime Ramos: Em primeiro lugar, temos de conseguir que não se continue a fazer sub-financiamento da saúde em Portugal e, nessa medida, a estrangular aquilo que é a importância estratégica para o país dos Hospitais da Universidade de Coimbra e da sua Faculdade de Medicina. Portugal não pode continuar a apostar na concentração das pessoas em Lisboa e no Porto, desertificando o resto do país. Nessa medida, tal como diz o primeiro-ministro António Costa, temos de levar em frente uma descentralização com vigor. E isso pressupõe também desconcentração de serviços, há funcionários públicos a mais em Lisboa e há zonas do país — como Coimbra — que precisam de mais emprego em função pública. Para isso é fundamental apoiar António Costa neste seu desejo, que não seja só demagogia política para que seja de facto uma iniciativa de descentralização de serviços, de desconcentração, e virem alguns serviços para Coimbra, como o Tribunal Constitucional o Ministério da Saúde ou o Ministério da Educação, dado o peso histórico da Universidade de Coimbra.

"Tal como diz o primeiro-ministro António Costa, temos de levar em frente uma descentralização com vigor. E isso pressupõe também desconcentração de serviços, há funcionários públicos a mais em Lisboa e há país, como Coimbra, que precisa de mais emprego em função pública"
Jaime Ramos, candidato da coligação PSD-CDS-MPT-PPM

Acompanha esta ideia?

Francisco Queirós: Não, o que é fundamental é reforçar o Serviço Nacional de Saúde, é reverter a fusão dos oitos hospitais. Precisamos de voltar a ter dois hospitais centrais, este que está aqui ao nosso lado [HUC] e o Hospital dos Covões. Trazer o ministério para Coimbra pouco acrescentaria, a não ser que se criasse uma nova cidade-satélite. O Ministério da Saúde tem milhares de trabalhadores que provavelmente estaríamos a construir a nova Coimbra, não é? Fez-se isso em Brasília, não creio que seja isso que é importante. O que é importante é lutar por um SNS reforçado, é reverter a fusão dos hospitais. Dar de novo valências ao Hospital dos Covões.

José Manuel Silva também tem esta proposta no seu programa, suponho que concorde com ela…

José Manuel Silva: Coimbra tem dois problemas: a perda de vários serviços públicos e a incapacidade de atrair investimento, pela qual é responsável a atual câmara. Estes dois processos fazem com que se perca emprego e os jovens tenham de sair da cidade. Passos Coelho, como primeiro-ministro, aconselhou os jovens a emigrar, Manuel Machado enquanto presidente da Câmara obriga os jovens a emigrar para outros concelhos, outros países, porque não têm oportunidade de emprego em Coimbra. Nós podemos juntar estas duas situações, conjugando a alegada intenção de descentralização do atual Governo com a necessidade de criar mais emprego público em Coimbra. Propomos que, progressivamente, os diferentes departamentos que compõem o Ministério da Saúde se vão descentralizando para Coimbra, como noutros ministérios se devem descentralizar para outras cidades. Porque Coimbra tem enormes competências na área da Saúde, pode ser uma cidade da saúde por excelência, e um país homogeneamente governado e respeitado implica que seja concretizada para beneficio das pessoas uma verdadeira descentralização. E também para benefício da qualidade de vida em Lisboa, onde há um excesso de carros, entram 370 mil carros por dia. A descentralização também é benéfica para Lisboa, é uma relação win-win.

"Propomos que, progressivamente, os diferentes departamentos que compõem o Ministério da Saúde se vão descentralizando para Coimbra, como noutros ministérios se devem descentralizar para outras cidades. Porque Coimbra tem enormes competências na área da Saúde, pode ser uma cidade da saúde por excelência (...) e também para benefício da qualidade de vida em Lisboa, onde há um excesso de carros, entram 370 mil carros por dia. A descentralização também é benéfica para Lisboa, é uma relação win-win."
José Manuel Silva, candidato do movimento "Somos Coimbra"

A mesma questão para Jorge Gouveia Monteiro.

Jorge Gouveia Monteiro: O Hospital por onde passámos é um grande hospital nacional e tem de ser tratado como tal. Não pode ser sub-orçamentado, não pode ser retalhado, não poder ser atrofiado pela extinção progressiva que vem sendo feita, de valências no Hospital de Covões. Defendemos que a nova maternidade deve ficar no Hospital dos Covões também como forma de defender esse grande hospital. E ao nível dos cuidados primários é preciso fazer muita coisa: um novo Centro de Saúde na Fernão Magalhães, pode resolver múltiplos problemas que todos os anos atrapalham as populações das várias extensões dos centros de saúde que sistematicamente estão quase a encerrar. E em termos de política municipal importa promover estilos de vida saudáveis. Espero que tenhamos a possibilidade hoje de falar de desporto, do rio, do envelhecimento activo. Quanto menos gente vier aos hospitais, costumo dizer que prefiro ter uma cidade onde as pessoas vão mais ao teatro e a concertos do que aos hospitais. Naturalmente temos unidades de saúde que não servem só o município a que nós concorremos. Servem toda a região e todo o país. Temos de valorizar esses hospitais.

Jaime Ramos: Mas um aspecto que ninguém abordou: o estacionamento em frente aos Hospitais da Universidade de Coimbra. É escandaloso o que se passa, a incapacidade de criar estacionamento para as pessoas doentes, com bons tranportes públicos mas fundamentalmente com bom estacionamento nesta zona.

Todos vêem com bons olhos a mudança do Tribunal Constitucional para Coimbra

Os quatro principais candidatos que desafiam o socialista Manuel Machado (que não quis participar no debate) discutiram soluções para Coimbra ao longo de um percurso que durou cerca de uma hora. À direita, Jaime Ramos (da coligação PSD-CDS-MPT-PPM), ao lado de Francisco Queirós (CDU). Atrás à direita, Jorge Gouveia Monteiro (do movimento Cidadãos por Coimbra, que tem o apoio do Bloco de Esquerda) ao lado de José Manuel Silva (do movimento independente “Somos Coimbra”)

A não existência de descentralização é um problema para Coimbra? É um facto relevante para Coimbra atrair para aqui uma instituição como o Tribunal Constitucional?

Francisco Queirós: Não. O mais importante é atrair empresas para Coimbra, atrair um setor produtivo, criar riqueza e emprego.

Coimbra é uma cidade tradicionalmente académica. É importante fixar aqui esses cérebros?

Francisco Queirós: Há que potenciar os meios que possam facilitar a fixação desses cérebros e o Instituto Pedro Nunes, por exemplo, é reconhecido internacionalmente como uma estrutura que o vai fazendo. Em Coimbra, nos últimos anos, surgiram — nas áreas da saúde, indústria farmacêutica, aeronáutica, informática — novas empresas. É importante que se aposte e continue a apostar nesse setor como é importante desenvolver o setor produtivo, reindustrializar Coimbra. Atrair Ministérios parece-me completamente demagógico. Nada temos contra a fixação de um Tribunal Constitucional ou outro tipo de estruturas, mas concretamente os ministérios não faz mais pequeno sentido. Precisamos, sim, é de melhorar os serviços públicos que temos e apostar neles. Somos contrários à descentralização quando isso significa atribuir mais competências aos municípios — que nós CDU recusamos. Não faz sentido algum ir por aí.

Nada temos contra a fixação de um Tribunal Constitucional ou outro tipo de estruturas mas concretamente os ministérios não faz mais pequeno sentido. Precisamos, sim, é de melhorar os serviços públicos que temos e apostar neles
Francisco Queirós, candidato da CDU

José Manuel Silva: Tudo o que sejam transferências de serviços públicos para Coimbra, naturalmente, terão o nosso apoio e o nosso estímulo porque isso irá enriquecer o concelho de Coimbra e criar mais empregos qualificados. No setor empresarial há um grande défice de intervenção por parte da câmara porque o Gabinete de Apoio ao Investidor funciona sem direção há dois anos e ultimamente tem funcionado apenas com uma assistente técnica. Foi elaborado um regulamento — o Coimbra Investe — mas é um regulamento e um regulamento não atrai investimento sozinho. Precisa naturalmente que haja um gabinete que avalie, aprove e decida sobre as propostas que são apresentadas. Há um regulamento mas não está a ser aplicado porque o próprio regulamento fala do Gabinete de Apoio ao Investidor que não está minimamente funcional, não tem uma estrutura sequer para responder às solicitações muitos menos para ser proativo. Daí que uma das nossas propostas seja, em colaboração com o Instituto Pedro Nunes e com o setor empresarial — onde há enorme espírito de iniciativa — criar uma Startup Baixa para que a câmara estimule a fixação, em Coimbra, de empreendedores, jovens ou menos jovens, que queiram criar novas empresas. Coimbra tem um potencial imenso que está subexplorado e subrentabilizado precisamente por causa do fenómeno burocrático da câmara, da ausência de diálogo do presidente da câmara, que bloqueia as iniciativas dos munícipes e dos empresários. E sem reindustrializarmos Coimbra — que é umas das novas primeiras propostas — não teremos empregos.

Jorge Gouveia Monteiro: O Tribunal Constitucional, pessoalmente, viria com muito bons olhos. É uma questão que não está suficientemente discutida no movimento Cidadãos por Coimbra. O Tribunal Constitucional têm um altíssimo valor simbólico. Estamos na cidade onde se fizeram as Cortes de Coimbra e que, no capitulo do nascimento da nacionalidade portuguesa, teve um papel importantíssimo em toda a ordem jurídica portuguesa. Lembro-me de iniciativas do professor Lopes Cantilho como o TUJE (Tribunal Universitário Judicial Europeu), que estão empancadas por incapacidade do município e da Universidade em pôr a funcionar o TUJE no Colégio da Trindade. Coimbra tem sediada várias organizações nacionais de enorme importância: a Associação Nacional dos Municípios Portugueses, a Confederação Nacional da Agricultura. Não enjeito o valor que tem, em termos nacionais, de perceber que há coisas muito importantes que podem estar sediadas nesta magnífica cidade.

Jaime Ramos, do PSD, já foi deputado e presidente da câmara de Miranda do Corvo

Os jornalistas do Observador não utilizaram os cintos de segurança para poderem estar voltados para os candidatos. O representante da CDU, Jorge Queirós, e José Manuel Silva, do movimento “Somos Coimbra”, optaram por fazer o mesmo. Não se livrando de ouvir repreensão do candidato do PSD, Jaime Ramos, que — tal como Gouveia Monteiro –, tinha o cinto corretamente colocado.

Jaime Ramos: Permita-me um comentário: um presidente de Câmara tem de ser, acima de tudo, uma pessoa capaz de respeitar a lei e atuar de acordo com a lei. Não que a lei complique a vida às pessoas mas para que lhes garanta segurança e simplifique. Eu vou com o cinto de segurança, que é obrigatório, em Portugal, as pessoas usarem sinto de segurança.

Mais tarde, Jaime Ramos excedeu largamente os 30 segundos de “alegações finais” no final do debate e Francisco Queirós recordou-se destas declarações e não perdoou: “Afinal, tem muitas dificuldades em cumprir as regras”.

Jaime Ramos: Coimbra, de facto, tem que fixar talentos. Forma muitos e deixa-os fugir. Obriga-os a fugir porque não há emprego, trabalho e boas remunerações e boas carreiras. O objetivo terá de ser fixar esses talentos e atrair outros talentos, com uma cidade atraente, jovem, proativa, que tem a qualidade de vida. Coimbra tem de ser a melhor cidade do país para atrair outras pessoas, talentos para além que são criados em Coimbra. Para isso, temos que ter uma iniciativa empresarial muito grande, atraindo empresas e conseguindo que mesmo do estrangeiro venham iniciativas empresariais. Já defendi duas ideias que são importantes neste aspeto. Um deles é o Conselho da Diáspora. Temos muitas pessoas que foram formadas em Coimbra e que foram para o estrangeiro. No Natal, vou-os convidar todos a nos reunirmos para falarmos das suas experiências, da sua sabedoria no exterior e da sua rede de contactos para trazermos novos investimentos que permitam o desenvolvimento de Coimbra.

Aeroporto, nem pensar: foi só Machado a colocar Coimbra “nos tesourinhos das autárquicas”

Há um aspeto muito importante que está no programa de todos que é o Turismo. Estamos agora a seguir a zona da Praça da República, depois iremos à Universidade, que foi elevada a Património da Humanidade há poucos anos. A questão é sobre a ideia da criação de um novo aeroporto, da transformação do aeródromo de Cernache. Essa ideia do atual presidente da câmara pode potenciar o turismo em Coimbra?

Jorge Gouveia Monteiro: Não é de todo uma ideia. As grandes questões do turismo em Coimbra, primeiro, prendem-se com o desenvolvimento das ações indispensáveis à manutenção da classificação com Património da Humanidade. Estamos claramente apreensivos que a câmara e outras entidades não tenham feito os trabalhos de casa necessários para que a peritagem — que se vai verificar em breve da UNESCO — possa manter essa classificação. Não queremos agourar, mas toda a magnifica Rua da Sofia, toda a zona tanto da Baixa e da Alta estão por reabilitar. Lá está a preguiça de que falei há pouco. Pode ser um problema muito complicado para Coimbra. O Museu da Ciência que ficou dotado pelo anterior reitor com 15 milhões de euros, salvo erro, para ser feita a segunda fase do museu — que é um projeto extraordinário nas três alas do Colégio de Jesus, junto à Sé Nova — pode atrair milhões de turistas, além de pôr ao serviço das pessoas todas as fantásticas coleções científicas que a Universidade tem. Está parado. Há aqui imobilismos vários que tolhem a atração turística a Coimbra. Coimbra está muito circunscrita à Universidade e ao Portugal dos Pequeninos. Mas podia haver uma sinalização de outros pontos de interesse, de lojas com tradição, um mapeamento de muitos outros aspetos, até nas várias freguesias onde há património muito valioso.

José Manuel Silva, do movimento Somos Coimbra, já foi bastonário da Ordem dos Médicos

José Manuel Silva: A construção do aeroporto, como foi anunciada pelo dr. Manuel Machado, a construção de um aeroporto internacional, não era necessária. Não é viável sequer no local onde foi anunciado, muito menos com o valor de 10 milhões de euros e que todos percebemos que é uma promessa absolutamente mirífica e irrealizável. É marketing eleitoral. Não foram resolvidos os problemas estruturais do concelho e da cidade de Coimbra. Não há uma política de turismo por parte da Câmara relativamente ao turismo de Coimbra. A câmara revela uma total ausência de política de turismo — onde, por exemplo, é preciso criar um centro de acolhimento para turistas e operadores turísticos, onde se vendam também artigos regionais. Se alguém quiser comprar um artigo de Almalaguês, não tem sítio onde comprar. Temos em Coimbra uma riqueza patrimonial fantástica de permitir que Coimbra fosse a Florença portuguesa, que beneficiasse de um turismo de qualidade e não de um turimso massificado que está a transformar a rua mais icónica de Coimbra — que era a Rua Ferreira Borges — numa rua de cortiça.

"Temos em Coimbra uma riqueza patrimonial fantástica de permitir que Coimbra fosse a Florença portuguesa, que beneficiasse de um turismo de qualidade e não de um turismo massificado que está a transformar a rua mais icónica de Coimbra -- que era a Rua Ferreira Borges -- numa rua de cortiça."
José Manuel Silva, do movimento "Somos Coimbra"

Jaime Ramos: O turismo é fundamental em Coimbra. Mas não nos podemos esquecer que a missão estratégica fundamental para Coimbra seria o desenvolvimento empresarial nas novas tecnologias e nas indústrias criativas, através da criação de um Silicon Valley na nossa zona, aproveitando o Biocant de Cantanhede e a ligação possível das duas Universidades — de Coimbra e Aveiro — e aproveitando aquilo que são os centros tecnológicos existentes já em Coimbra, o IPN (Instituto Pedro Nunes), como foi já referido. Fazendo algumas comodidades para os turistas e para os passageiros, aquele aeroporto deixa de ser só para o Papa quando vem a Portugal ou só para fins militares e passa a desenvolver toda a região. Precisamos do aeródromo de Bissaya melhorado para alguns clusters de turismo. Há pessoas que vêm de países muito desenvolvidos — como da Alemanha e França — a Coimbra fazer tratamentos de fertilidade no campo da saúde. Alguns deles têm jatos executivos. Podemos transformar o aeródromo, num crescimento de 300 metros, numa resposta a estas pessoas. Para além disso, permitir o paraquedismo, a utilização de paraquedas, em termos de desporto e em termos turísticos e o uso de planadores. Basta um investimento na ordem dos 300/400 mil que era muito fácil ter sido feito neste mandato. Bastava não se ter feito a rotunda do Arnado para haver dinheiro para fazer isto. O presidente da câmara não fez isso. Continuou a insistir só em rotundas, esquecendo-se de fazer essa pequena obra no aeródromo. E agora vem com esta proposta risível que causa chacota nacional para criar aqui um grande aeroporto internacional que toda a gente já percebeu que é pura demagogia.

Nós precisamos também do aeródromo de Bissaya melhorado para alguns clusters de turismo. Há pessoas que vêm de países muito desenvolvidos -- como da Alemanha e França -- a Coimbra fazer tratamentos de fertilidade no campo da saúde. Alguns deles têm jatos executivos. Podemos transformar o aeródromo, num crescimento de 300 metros, numa resposta a estas pessoas.
Jaime Ramos, candidato do PSD

Francisco Queirós: O candidato Manuel Machado quis colocar Coimbra naquela página dos tesourinhos das autárquicas. A proposta de um grande Aeroporto Internacional com certeza que já lá está, mas a par da construção do Meo Arena na margem do rio e algumas outras propostas deste género completamente demagógicas. É evidente que só temos um aeródromo em Cernache que devemos potenciar, requalificar, ampliar. Isso faz sentido mas não a história do aeroporto. Relativamente ao turismo, esse magnífico aeroporto que vinha trazer charters de turistas chineses ou sei lá de onde, não era com certeza. Precisamos de ter um turismo sustentável. Um turismo para todos. Não deixa de ser massificado ou de ser para elites. Um turismo para todos, mas sustentável, que atraia estrangeiros e nacionais à cidade, havendo programas regionais para que as pessoas fiquem na cidade muito mais do que aquilo que acontece hoje, que são despejados por autocarros aqui junto à Universidade e depois os mesmo autocarros vão apanhá-los na portagem. As pessoas estão em Coimbra algumas horas. Quanto muito, alguns estão um dia. Nós precisamos que as pessoas fiquem vários dias. Para isso é preciso que lhes sejam oferecidos programas culturais na cidade, que nos hotéis as pessoas tenham acesso a propostas de conhecer diversos itinerários e isso faz-se também numa lógica regional, porque estamos muito próximos de um conjunto de outras ofertas: Figueira, Conimbriga, Buçaco. Isso far-se-á sempre também com a requalificação da Baixa e tendo em conta que não podemos transformar a Baixa, como acontece um pouco em Lisboa e no Porto, apenas em zona de alojamento local.

"O candidato Manuel Machado quis colocar Coimbra naquela página dos tesourinhos das autárquicas. A proposta de um grande aeroporto internacional com certeza que já está mas a par da construção do Meo Arena na margem do rio e algumas outras propostas deste género são completamente demagógicas"

Um Meo Arena em Coimbra. Necessidade ou megalomania?

O candidato do PSD quis, no imediato, responder à provocação de Franscico Queirós — sobre a proposta de Jaime Ramos de construção de um recinto de espectáculos fechado com capacidade para 5 a 8 mil espetadores em Coimbra — quase como uma defesa de honra.

Francisco Queirós, candidato da CDU, é vereador com pelouros no executivo de Manuel Machado: é o responsável pela promoção e reabilitação de habitação, gestão do parque de habitação e gabinete médico-veterinário

Jaime Ramos: Houve aqui uma piada direta relativamente ao Meo Arena. Coimbra deve ser uma cidade de organização de talentos. Aproveitando a sua centralidade entre Lisboa e Porto, deve organizar grandes espetáculos nacionais, em termos desportivos, recreativos e culturais e não temos uma sala para isso. Temos algumas salas boas, a começar pelo Convento de São Francisco, mas não temos essa capacidade de grandes realizações como existe em Lisboa com o Meo Arena e como está a acontecer no Porto com o aproveitamento de Rosa Mota e como Viseu está a fazer um projeto. Coimbra precisa de um grande local de espetáculos desportivos, com recintos desportivos que permitam grandes realizações desportivas indoor e campeonatos em Coimbra. A existência desta grande infraestrutura vai permitir quando não tem ocupação de pessoas no desporto, que aumente a sua capacidade para grandes espetáculos que nos colocara nessa ordem dos 6/8 mil, ou 10 mil eventualmente, de acordo com a dimensão e aproveitamento do espaço. Isto é uma infraestrutura fundamental para afirmação de Coimbra num panorama nacional.

É uma ideia megalómana, Francisco Queirós?

Jaime Ramos: Não, não é uma ideia megalómana porque é muito mais barata do que comprar o Convento de São Francisco.

Francisco Queirós: Não tem a ver com megalomania. Não faz sentido

Jaime Ramos: Comprar o Convento de São Francisco gasta-se muito mais dinheiro — o triplo do que se gastava.

A troca de palavras provocou, no imediato queixas sobre José Manuel Silva, que questionou algumas vezes a condução do debate que estava a ser feita pelos jornalistas do Observador (mais tarde, queixar-se-ia do tempo que Jaime Ramos demorou nas alegações finais).

José Manuel Silva: Mas vamos entrar em diálogo? Hoje existe um Convento de São Francisco, que precisamos de potenciar e temos vários equipamentos culturais. Não precisamos de Meo Arena para nada. Precisamos de pôr os agentes culturais em diálogo uns com os outros. Exigir ainda de forma pública o Convento de São Francisco.

Faz falta uma grande sala de espetáculos em Coimbra, Jorge Gouveia Monteiro?

Jorge Gouveia Monteiro: Não, não julgo que seja essa a prioridade. Não quer dizer que não gostasse de a ver, mas temos recursos escassos, por isso temos de os gerir bem. Neste momento temos uma grande sala de espetáculos e congressos que é o Convento de São Francisco — julgo que iremos lá passar — que tem que ter uma gestão transparente, coisa que não acontece neste momento, tem ajuste diretos.

E é suficiente para esta ideia de que fala Jaime Ramos?

Jorge Gouveia Monteiro: É sobretudo suficiente para aquilo que ele considera a primeira grande prioridade cultural que não é andar a disputar as elites das outras cidades para virem aos espetáculos em Coimbra. É elevar o nível cultural do meu povo, da minha terra, das nossas aldeias, cidades. Quero que mais gente de Coimbra se habitue a frequentar espetáculos — e sei que há candidatos que gostam muito de música pimba. Não acho que seja o ideal cultural. O que quero é naturalmente que toda a população de Coimbra tenha transportes ao fim de semana, tenha hábitos culturais, que haja um grande trabalho com as escolas, com os lares de idosos. Temos 30 mil idosos completamente isolados aqui à volta e aqui também, onde estamos a passar na Rua da Sofia. Temos imensa gente que não tem acesso aos meios culturais. Portanto, se essa gente não tem acesso aos meios culturais, precisamos de lhes proporcionar esse acesso para que eles precisem tanto disso como de ar para respirar.

"Quero que mais gente de Coimbra que se habitue a frequentar espetáculos -- e sei que há candidatos que gostam muito de música pimba. Não acho que seja o ideal cultural. O que eu quero é naturalmente que toda a população de Coimbra tenha transportes ao fim de semana, tenha hábitos culturais, que haja uma grande trabalho com as escolas, com os lares de idosos."
Jorge Gouveia Monteiro, candidato dos Cidadãos por Lisboa

Nessa medida, esta proposta não seria interessante, um pavilhão multiusos?

José Manuel Silva: Tudo aquilo que se possa idealizar para o futuro em termos de construções imensas, claro que todos desejaríamos que fosse possível. Mas estamos a passar na Rua da Sofia, que está fechada, que é uma rua património mundial e que não recebe investimento. Não foi por acaso que propusemos que passássemos pelo Convento de São Francisco. Ainda nem sequer temos uma boa gestão e um corrente aproveitamento do Convento de São Francisco, que é uma obra recente e que se está a transformar num elefante branco, pela despesa que gera em termos de manutenção. Não estamos a criar as estruturas para que Coimbra se possa desenvolver para o futuro. Todos nos sabemos que não é possível construir no curto e no médio prazo um aeroporto ou um grande Meo Arena. É possível aproveitar as estruturas melhores que a cidade tem com transparência, atrair investimento e inverter a espiral negativa do concelho de Coimbra que perdeu 10% dos habitantes nos últimos anos.

Taxa turística de um euro em Coimbra

Jorge Gouveia Monteiro, que chegou a ser vereador da CDU na câmara, saiu do PCP e agora é candidato do movimento Cidadãos por Coimbra, que tem o apoio do Bloco de Esquerda

É possível e desejável criar a tal taxa turística de 1 euro que propõe no seu programa?

José Manuel Silva: Propomos que isso seja discutido com os operadores turísticos e com os vários parceiros. É um tema que deve ser debatido e aquilo que está no nosso programa…

Pelas intervenções de todos, consegue-se deduzir que a prioridade é atrair turistas. Estar já a taxá-los é favorável?

José Manuel Silva: O que propomos é que esse tempo seja debatido porque foi um êxito em Lisboa e não podemos ignorar essa questão. O que propomos é que esse tema seja lançado a debate.

É comparável Lisboa com Coimbra, em termos de turistas?

José Manuel Silva: Toma que fosse comparável, mas Coimbra está a crescer no setor turístico. Tem um défice tremendo de estratégia turística por parte da câmara para fomentar o turismo de qualidade e não massificar o turismo e não transformar o centro histórico de Coimbra num centro histórico fantasma, num cenário para turistas. É preciso trazer pessoas à Baixa, é preciso requalificar o centro histórico, limpar ao centro histórico, torná-lo mais agradável. E um modo de financiamento que teve êxito em Lisboa, deve ser debatido em Coimbra. Propomos que esse debate seja feito com todos os parceiros porque se no final se concluir que é positivo para Coimbra, deve ser implementado.

Jaime Ramos, qual é a sua posição sobre esta proposta? Se José Manuel Silva conseguir propô-la qual será a sua posição?

Jaime Ramos: É evidente que Coimbra, para realizar obras, tem que obter receitas. Seria uma reformulação interessante até porque há outras receitas da câmara que devem ser reduzidas e estou a pensar nomeadamente nas taxas que as pessoas pagam para construir a sua própria habitação ou aquilo que é cobrado às empresas para fazer os seus pavilhões industriais, onde devemos ter uma política favorável em termos fiscais e naquilo que é o apoio às famílias, em termos de IMI, por exemplo.

Mas já é tempo, primeiro de aproveitar o turismo?

Jaime Ramos: É claramente aproveitar o turismo. É muito importante. Temos que desenvolver. Como disse há bocado, temos edifícios, hotéis que foram construídos e financiados que estão fechados em São Silvestre. Tem que haver uma capacidade proativa, relativamente a essa matéria mas o que é importante em relação a isso, e voltando ao Meo Arena: o dr. José Manuel Silva disse que propúnhamos propostas irrealizáveis. É que tenho uma diferença com ele.

José Manuel Silva: Tem muitas, dr. Jaime Ramos. Tem muitas!

Jaime Ramos: Eu faço as obras e fui empreendedor sempre. As pessoas sabem isso e ele só anunciou uma vez uma obra. Foi quando era candidato a bastonário [da Ordem dos Médicos] que era criar uma aldeia do médico em Coimbra. Gastou 2 milhões de euros. Apresentou uma coisa em 3D. Depois não criou nada, só gastou os 2 milhões. E hoje sabe-se que é irrealizável e a Ordem dos Médicos sabe que perdeu 1 milhão e meio.

José Manuel Silva: Não é não. E antes da crise tínhamos investidores aprovados.

Jaime Ramos: Só teve um protejo e falhou.

Estamos a passar no Largo da Portagem, na zona da Baixa, com o Mondego do outro lado, vamos centrar-nos no debate e em discutir coisas boas para Coimbra. É ou não momento de lançar a taxa turistica?

Jorge Gouveia Monteiro: Não creio que seja o momento de criar a taxa turística. Creio que o momento é de aliviar a carga fiscal ainda. O que me parece muito importante neste momento é potenciar toda a capacidade de Coimbra atrair mais turistas. E, repare, com alguma surpresa, para um candidato que se diz completamente independente, sempre que eu falo em projetos em que a Universidade tem estado parada, o José Manuel Silva faz um silêncio ensurdecedor, como se a universidade não existisse. Gostava que você tivesse uma posição independente. Falei do TUJE, o Tribunal Universitário Judicial e Europeu, falei no Museu da Ciência, no grande Museu da Ciência que pode atrair milhares de turistas

Francisco Queirós: Provavelmente vão ser os motoristas a cobrar a taxa de turismo porque uma boa parte dos turistas que nos visitam, como há pouco dizia, descem na universidade e param cá em baixo. Antes disso, o que temos de tratar é de impulsionar o tal turismo sustentável, que as pessoas fiquem mais dias, permaneçam.

"Provavelmente vão ser os motoristas a cobrar a taxa de turismo porque uma boa parte dos turistas que nos visitam, como eu há pouco dizia, descem na Universidade e param cá em baixo."
Jorge Queirós, candidato da CDU

José Manuel Silva: Para isso, é preciso financiamento. Não tem havido, até ao momento. A câmara até transitou com um superavit de 30 milhões de euros. O dr. Francisco Queirós fazer parte do executivo da câmara e nada fez para desenvolver o turismo em Coimbra e para reabilitar o centro histórico.

Neste momento realizámos uma pausa. O autocarro fez então uma única paragem, de pouco mais de quatro minutos, perto do Largo da Portagem. Um dos candidatos comentaria, após mais esta pequena espera: “O que nós não fazemos para ganhar eleições”. Todos riem. Ao retomar a marcha, o Observador fez novamente uma pergunta que foi transmitida — tal como o início do debate — em direto para o Facebook.

Numa frase: o que Manuel Machado fez bem?

José Manuel Silva: Quando alguém é presidente da Câmara faz sempre alguma coisa, mas a questão que se deve colocar não é fez bem, mas se o que fez trouxe benefícios para a qualidade de vida do concelho, se foi o que podia fazer, se foi o que devia fazer, se o que fez era o necessário fazer. E uma câmara que transitou de ano com 30 milhões de euros [o superavit da cidade], que nem sequer foi capaz de gastar o dinheiro que cobrou aos munícipes, ficou muito aquém das necessidades. As pessoas hoje continuam a dizer que a Baixa não está requalificada e não há emprego para os jovens, por causa de um grande défice e de um bloqueio de intervenção por parte da Câmara Municipal.

Estamos a passar no Parque Verde e cada um dos candidatos escolheu um local para falar de um assunto. No caso Jaime ramos, escolheu o Parque Verde do Mondego. Porquê?

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Jaime Ramos: Porque é a imagem de abandono de uma cidade. Houve umas cheias e aquilo que eram as docas dos parques verdes ficaram desde há dois anos sem utilização. Não havendo emprego e não recebendo bem as pessoas que nos visitam. Por outro lado, também próximo também temos a urbanização do Jardim do Mondego que são edifícios que parecem alvo de uma guerra, abandonados. E Coimbra não pode ter esta imagem de abandono [Jaime Ramos aponta para o empreendimento abandonado]. Um empresário que venha de fora para investir em Coimbra, chega e vê estes prédios todos semi-construídos e abandonados, sente que está numa cidade com alguma doença. Uma cidade com um investimento desta dimensão parado, significa que não é amigo dos empresários e dos empreendedores. Tem de ser corrigido de imediato. A Câmara Municipal tem de claramente exigir aos proprietários que ou fazem a sua demolição ou concretizam essa abertura. Outros aspetos que a Câmara tem mantido durante dois anos é toda aquela zona das docas fechadas, o que demonstra a ineficiência da Câmara Municipal. E também significa que temos desprezado o rio, porque além da margem direita que está abandonada, como também a margem esquerda onde não se aproveitou minimamente a margem. Temos Património Mundial da UNESCO, mas o que é certo é que a Câmara Municipal e, de alguma maneira, também a Universidade, pouco fizeram para a valorização deste património e para captarmos mais turistas que fiquem mais tempo a desenvolver a nossa economia.

Jorge Gouveia Monteiro: A câmara de Coimbra constitui-se e bem como autoridade municipal de transportes, o que lhe permite maior força negocial com todo os operadores privados de autocarros, e vão seguir-se naturalmente essas negociações. A câmara reforçou o seu poder negocial de maneira a poder levar autocarros à zona sul, à zona oeste. Portanto, isso é importante e foi uma boa medida que a Câmara tomou.

Jaime Ramos: Tenho um grande respeito pessoal pelo dr. Manuel Machado mas como presidente da Câmara fez o pior mandato desde o 25 de abril. Nunca tinha havido nada tão mau. Fez bem algumas coisas nomeadamente por exemplo a última passagem pedonal sobre o Mondego e permitir que ela seja ciclável. É uma grande ideia que é tornarmo-nos mais próximos do rio e acima de tudo ganharmos uma dimensão de até uma ciclovia entre Coimbra e a Figueira da Foz. Foi uma grande obra.

"Manuel Machado fez como presidente da Câmara o pior mandato desde o 25 de abril"
Jaime Ramos, candidato do PSD

Francisco Queirós: Ao contrário do que as pessoas pensam, há medidas que são tomadas por unanimidade e envolvem o consenso das diversas forças políticas. Na dificuldade de encontrar medidas menos más, sublinharia que o que foi feito de bom, foi feito precisamente neste espírito de consenso e envolvimento de outras forças, nomeadamente pelo vereador da CDU, no serviço médico veterinário de Coimbra.

Como integrou o executivo de Manuel Machado, Francisco Queirós fez um autoelogio à sua ação como vereador. O autocarro passa, entretanto, pelo Parque Verde, o ponto escolhido pelo candidato Jaime Ramos (cada um dos quatro, escolheu um espaço).

Outros dos problemas de Coimbra são o abandono e a reabilitação urbana.

Francisco Queirós: É um problema grave de Coimbra, como das grandes cidades. Um terço da baixa de Coimbra e um terço da alta está em péssimo estado. Há que investir fortemente na reabilitação desse espaço e devolver esses imóveis aos casais jovens que não têm grandes meios. É preciso recuperar para a habitação a preços controlados, para voltar a povoar o centro da cidade. Mas isso tem a ver com políticas integradas, como as políticas de comércio, impedir grandes superfícies… estamos a atravessar a ponte, estamos quase a chegar a um exemplo do que de mau foi feito nos últimos tempos que é a criação de mais uma média superfície mesmo ao lado do Convento de São Francisco. Estou a falar do Aldi que, neste momento, está em obras quase ao lado do convento, só falta que esteja sentado ao colo do Convento, um monumento ex-libris nesta cidade. Não havia necessidade nenhuma de termos mais grandes e médias superfícies. Precisamos de apoiar o comércio tradicional desta cidade. Uma cidade com qualidade de vida precisa de ter esse comércio de proximidade, não só na alta e na baixa, mas nos nossos bairros. Os bairros têm muito mais qualidade de vida quanto mais próximos de casa tivermos, além de espaços para as crianças brincarem, e comércio de proximidade. Permitindo que todas estas grandes e médias superfícies abrissem destruíram em larga medida as possibilidades de o comércio tradicional se poder desenvolver e isso é fundamental para a vida da cidade.

O autocarro aproxima-se, entretanto, do Convento de S. Francisco, o local escolhido por José Manuel Silva.

José Manuel Silva, porque escolheu o Convento de S. Francisco?

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José Manuel Silva: Porque o Convento é uma obra que foi iniciada por outra governação da Câmara, foi concluída por Manuel Machado, com um investimento que rondará os 50 milhões de euros, que dará despesas anuais com um custo perto dos dois milhões de euros, que tem de ser rentabilizado e profissionalizado na sua gestão, através de um concurso público transparente. Agora, o que acontece é que há uma adjudicação do dr. Manuel Machado para gerir o Convento e o número de espetáculos e reuniões é claramente insuficiente. É uma estrutura importantíssima que pode potenciar os desenvolvimento da cidade mas que está sub aproveitada. Coimbra é uma cidade com imensos recursos, com pessoas de elevadíssimo valor mas que tem desprezado esse potencial por ausência de uma estratégia de futuro da Câmara Municipal. O Convento de São Francisco tem 10 salas de diferentes dimensões, tem o grande auditório, tem o espaço da antiga igreja e as pessoas passam aqui em frente não vêm uma atividade significativa. É um espaço desaproveitado que está mal gerido e que obriga a uma estratégia diferente. Todos os agentes culturais da cidades se queixam da dificuldade de dinamizar este equipamento para as suas atividades culturais.

Jorge Gouveia Monteiro, esta ronda está a ser um pouco mais diversa: primeiro falámos do Parque Verde do Mondego, depois de Reabilitação Urbana e agora do Convento de S. Francisco. No meio de toda esta diversidade, e porque acabámos de passar pelo Portugal dos Pequenitos, voltemos ao Turismo. Os Cidadãos Por Coimbra falam em criar cursos de turismo direcionados para taxistas, Polícia Municipal. É suposto serem esses agentes a promover o Turismo em Coimbra?

Jorge Gouveia Monteiro: Correto. Deixe-me só dizer uma coisa em relação às questões anteriores. Na reabilitação urbana o que falta é a câmara adquirir terrenos. O problema dos Jardins do Mondego foi porque se fez aquela concentração de prédios naquele bocadinho para depois ficar com o Parque Verde. Uma câmara com visão estratégica tem de usar o dinheiro que tem para adquirir terrenos e reabilitar prédios. Em relação ao Convento, estou completamente de acordo com o que disse José Manuel Silva: gestão pública. Há mais de um ano propusemos que devia ser uma empresa pública municipal. Estamos numa cidade onde há uma escola de hotelaria, um curso de eco-turismo e o curso de turismo, mas essa formação não é dada às pessoas, ao povo que lida com os turistas. Não dominam as línguas, não sabem dar as indicações correctas aos turistas. São amáveis, como é normal no nosso povo, mas não sabem dar as indicações concretas e isso é lamentável.

Jaime Ramos só fica se for eleito presidente

Vamos passar agora para um tema mais político que tem a ver com a governabilidade na câmara no pós-eleições. Começo por Jaime Ramos. Há duas hipóteses quando um candidato se põe numa corrida destas: ou ganha ou perde. Pergunta dois em um: aceita pelouros se ficar na oposição e, caso ganhe, distribui? Por quem?

Jaime Ramos: Tenho uma atividade médica muito intensa e faço consultas todos os dias. Já hoje estive a fazer consultas de manhã. Para além disso, faço a gestão de uma empresa, de uma organização sem fins lucrativos, a Fundação ADFP, que trabalha com milhares de pessoas e tem centenas de postos de trabalho. É um dos maiores empregadores do distrito. Aceitei afastar-me da minha profissão e da fundação dessa gestão porque senti que em Coimbra estava a haver um declínio brutal. E como apaixonado por Coimbra, senti que tinha de me disponibilizar para esse efeito e, por isso, sou candidato a presidente da câmara. Se for eleito, governarei com todos os candidatos a vereadores. Porque, no fundo, nesta eleição, só há dois candidatos a presidente de câmara, que é o dr. Manuel Machado, que as sondagens apontam na ordem dos 30%…

José Manuel Silva: Ahh, está a falar pelo povo, está a falar pelo povo, não me parece credível!!

Jaime Ramos: … e eu também com sondagens nessa fase dos 30%. Evidente que isto é decidido pelo povo no dia das eleições. Nesse sentido, só há duas opções e, nessa medida, as pessoas vão escolher entre estes dois presidentes de câmara. Se perdêssemos eu não continuaria, seriam os outros a dar continuidade. Eu regressaria à minha atividade profissional e na fundação, mas trabalharei com todos eles numa lógica pluralista que eu acho que é fundamental. Mas nesta lógica pluralista falámos do Convento de S. Francisco…

Não disperse. Gostava de perguntar a José Manuel Silva não só a questão da governabilidade, como também esta questão que levantou que é: há dois candidatos a presidente nestas autárquicas em Coimbra.

José Manuel Silva: Candidatamo-nos à câmara de Coimbra com a humildade de respeitar a vontade popular. Candidatamo-nos não com a arrogância de sermos presidentes e mandarmos na câmara de Coimbra, mas prestar um serviço cívico de contribuir para uma mudança do concelho de Coimbra, no sentido da melhoria da qualidade de vida das pessoas e do seu desenvolvimento. Respeitaremos a vontade popular.

Portanto, não abandona a câmara se não ganhar.

José Manuel Silva: Não. Porque temos a humildade de respeitar a escolha popular. Quem não tem a vontade de respeitar a humildade popular apenas quer ser presidente para mandar, para ser o patrão, para ser o chefe, tal como acontecia com o dr. Manuel Machado que tem exatamente a mesma posição. Se não for o chefe, vai-se embora.

É isso que acha que está a fazer Jaime Ramos?

José Manuel Silva: É exatamente a mesma coisa. Temos de facto a convicção, como as sondagens demonstram — porque somos a única candidatura que está em crescimento — que vamos ganhar as eleições, tal como aconteceu com o dr. Rui Moreira no Porto há quatro anos. Ele começou com sondagens de 11% e ganhou as eleições. Nós começámos com sondagens de 15% e o crescimento e adesão que temos tido de múltiplas personalidades faz com que nós tenhamos um imenso potencial e estamos convictos que vamos ganhar as eleições. E, nesse sentido, vamos assumir o cargo de presidente da câmara respeitando sempre a vontade popular.

"Nós temos de facto a convicção, como as sondagens demonstra que vamos ganhar as eleições, tal como aconteceu com o dr. Rui Moreira no Porto há quatro anos"

Francisco Queirós, vi que ficou incomodado há pouco perante a afirmação de Jaime Ramos.

Francisco Queirós: Sim, porque desde o 25 de abril de 1974 que quem decide é o povo quando vota. Portanto, dia 1 de outubro quando contarmos os votos, veremos. E a postura da CDU é muito clara: estamos disponíveis para servir a população, dependendo obviamente do resultado eleitoral, e estaremos disponíveis para qualquer circunstância se a população decidir que vamos assumir a presidência da câmara, estaremos em condições de o fazer se não decidir assim.

O autocarro chega a zona industrial da Pedrulha, o local escolhido por Francisco Queirós, da CDU.

Francisco Queirós, estamos a passar a Pedrulha, a zona industrial, que é a sua referência. O porquê dessa escolha?

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Francisco Queirós: Estamos na zona que historicamente foi a zona industrial de Coimbra. Uma zona operária. Nos anos 50 e 60 havia aqui por todo lado as fábricas da cerveja, da Triunfo, fábricas diversas — estamos neste exato momento a passar por um conjunto de ruínas daquilo que foram a estatuária, as fundições. Portanto, de todo um conjunto de empresas que aqui existiram, que foram essenciais para o desenvolvimento da cidade e que nós entendemos que podem voltar a ser. Coimbra pode voltar a apostar na reindustrialização, nomeadamente no setor das porcelanas, no próprio têxtil, na cerâmica. Era fundamental termos um centro de cerâmica na cidade e podermos apostar nisto que não só durante muito tempo foi descurado, como foi intencionalmente uma aposta de executivos anteriores, que era a ideia que Coimbra devia ser uma cidade de serviços. Pois que Coimbra seja uma cidade de serviços, que tenha hospitais, que tenha o ensino que tem e muito mais do que hoje tem, mas tem de se reindustrializar. Tanto mais que boa parte dos desempregados do concelho de Coimbra são pessoas com baixa qualificação académica. Ao reindustrializarmos o concelho estamos com certeza a recuperar boa parte daquilo que foi a marca da cidade.

José Manuel Silva: Para isso há que respeitar os empresários…

Francisco Queirós: E estamos outra vez a criar emprego. É claro que precisamos de ter um gabinete na câmara, de apoio ao investimento, de apoio aos empresários, de portas abertas, para poder dialogar com quem quer investir. Aqui é claro o exemplo de uma zona [a Pedrulha, onde havia indústrias] que foi importante na cidade e que consideramos que pode voltar a ser, até porque as estruturas estão aqui. Há um ou outro exemplo feliz de como nasceu uma empresa sobre outra que já existiu. Portanto, aqui há um acesso e é fácil instalar indústrias do setor produtivo. Era importante que acontecesse.

Deixe-me fazer marcha atrás, não literalmente porque vamos no autocarro, mas queria voltar a Jorge Gouveia Monteiro que ainda não falou na questão da governabilidade e é importante ouvir todos nesta matéria. O que fará consoante o resultado eleitoral.

Jorge Gouveia Monteiro: Esta vai ser de longe a melhor câmara dos últimos 30 anos do ponto de vista da pluralidade. E é tempo de, em vez de competirmos para excluir a pluralidade, cooperarmos, valorizando a pluralidade. Portanto, não há apenas dois candidatos: a nossa opção democrática é radical. O Vítor Marques e o Vítor Ramalho deviam estar aqui neste debate juntamente connosco. Há sete candidatos. O dr. Machado foi convidado, mas não veio. Portanto, o povo vai decidir. Já dei esse exemplo várias vezes. Estive num mandato presidido pelo dr. Machado. Não abandonei, embora não tivesse nenhuma área à minha responsabilidade. O dr. Machado só distribuía pelouros pelo gritinho mais a fim, pela sua escolta. Estive em dois mandatos presididos pelo dr. Carlos Encarnação. Exerci o meu mandato com galhardia e com total autonomia e é conhecido o trabalho que fiz. E, portanto, não estive à espera do último ano para reclamar fosse o que fosse. Não era fotógrafo, era vereador e exerci as minhas funções como vereador. Portanto, estamos neste momento no movimento Cidadãos por Coimbra a discutir entre nós as chamadas linhas vermelhas. Portanto, aquelas questões absolutamente essenciais que têm de ser sustidas para podermos cooperar com o futuro presidente da câmara, seja ele quem for e aquelas questões que, quanto a nós, têm que avançar e é condição fundamental que avancem para nós possamos exercer também esse poder.

Há pouco começou a sorrir quando Jaime Ramos disse que voltava à atividade profissional.

Jorge Gouveia Monteiro: Isso significa que Jaime Ramos está dividido no seu íntimo. O amor a Coimbra é um amor se for presidente da câmara. Se for ele o treinador…

José Manuel Silva: Só fica se for chefe da equipa!

Jorge Gouveia Monteiro: …eu só tenho uma dama. Portanto, neste momento, a minha dama é esta cidade. Tenho muitas outras coisas interessantes para fazer: estou a montar a minha empresa, mas é para aqui que estou dedicado.

Jorge Queirós: Jaime Ramos tem dois amores. Há uma canção sobre isso, pode pôr no Meo arena…

Jaime Ramos: Mas é mesmo. Eu tenho mesmo os dois amores porque repare: eu neste momento…

José Manuel Silva: Quem ama Coimbra respeita a vontade popular!

Jaime Ramos: …estou a apoiar os sem-abrigo em Coimbra, que estão pela primeira vez a comer no refeitório. Criámos o centro interoperacional em S. Martinho com creche, pré-escola, universidade sénior… Temos um projeto muito grande para o Planalto do Ingote, uma residência assistida.

José Manuel Silva: Não há dúvida que tem muitos negócios em Coimbra!…

Jaime Ramos: Não são negócios. Sem fins lucrativos, que é uma coisa que o senhor não compreende. E não é capaz de fazer.

José Manuel Silva: Compreendo o que é a solidariedade social. Compreendo…

Jaime Ramos: É o que nós fazemos. Sem fins lucrativos.

José Manuel Silva: E por isso é que candidatamos à Assembleia Municipal um cego, porque defendemos a inclusão social. E vamos mudar o funcionamento da Assembleia Municipal.

Não vamos entrar em diálogo.

Jaime Ramos: Retomando a palavra — que José Manuel Silva me retirou –, estou a fazer muito por Coimbra. Estou a criar emprego através da Fundação, sem fins lucrativos. Sei que a última experiência, mesmo com o dr. Manuel Machado com uma posição minoritária, porque ele não tinha a maioria, e com a presença de outros vereadores e mais três partidos na Câmara Municipal não impediram o desastre da má gestão do dr. Manuel Machado. Por isso, penso que numa situação dessas na minha lista há gente muito competente, muito mais jovem, podem ter uma projeção para o futuro diferente e que por isso ficarão eles na câmara a fazer, no caso de eu perder — o que não acredito que aconteça — a fazer essa oposição criativa e virada para o futuro.

O autocarro passa perto do Choupal, o local escolhido pelo vereador Jorge Gouveia Monteiro. Mas constrangimentos de trânsito impedem que se siga mesmo para a mata do Choupal. Francisco Queirós, o vereador da CDU com o pelouro, interrompe a explicação do local de Gouveia Monteiro que criticava o tipo de socorro a animais feito pelo canil e gatil.

Vamos passar a palavra a Jorge Gouveia Monteiro agora que estamos a caminho do Choupal, explique porque escolheu este local.

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Jorge Gouveia Monteiro: O Choupal é uma área emblemática. Não gosto da palavra icónica. Mas é uma área absolutamente crucial de Coimbra. De todos os conimbricences, os poetas, àqueles que praticam desporto, que passeiam, mais idosos. Há pouco falei de promoção de estilos de vida saudáveis. Choupal é uma coisa magnífica. Entretanto, no Choupal passam-se coisas que não estão bem e, portanto, também é preciso chamar a atenção para aquilo que não está bem. No Choupal, há conflitos de gestão e, portanto, a componente desportiva do Choupal e a componente florestal, à responsabilidade do ICNF não se entende com a câmara. Então, não há uma articulação da gestão. E no Choupal funciona junto à ETAR o chamado canil municipal. Eu dirijo uma associação de protecção de animais que juntou centenas de protetores de animais, pessoas que, de facto, amam os animais. E vemos com grande consternação que o canil e o gatil municipal em vez de serem centros de proteção animal, como aliás as placas dizem, embora aquilo se chame centro municipal de recolha. Em vez disso são um foco de problema no próprio Choupal. São dezenas de animais que as associações recolhem no Choupal que são operados no canil municipal e depois abandonados no Choupal.

Francisco Queirós: Completamente falso.

Jorge Gouveia Monteiro: Animais acidentados. O centro de proteção animal transformou-se num centro de experimentação de esterilização que é responsável pela morte de dezenas de animais, que depois encontramos nas clínicas. E, como características do machadismo, que contamina todos aqueles que vivem à sombra dele, como é o caso do vereador Queirós, há um autocontentamento.

Gostava que Francisco Queirós respondesse, já que foi visado diretamente.

Jorge Gouveia Monteiro: Eu gostava de terminar. E que chegássemos ao Choupal também. O discurso oficial é de autocontentamento. Toda a gente sente na cidade, todos os protetores de animais, que não há uma instituição de socorro, não há uma unidade de socorro animal, como reclamamos há imenso tempo. São as associações que fazem o socorro de animais feridos de manhã, à noite, ao sábado, ao domingo, durante todo o ano são as associações que fazem. Nem sequer foi ocupado o cargo de veterinário municipal. Isto é uma crítica muito clara que todos os protetores de animais da cidade sabem que corresponde à verdade: que não há socorro de animais, que são as associações com enormes problemas, com enormes dívidas que socorrem os animais. É a nós, associações que as pessoas recorrem. O canil nada faz para socorrer o animal. Somos nós, associações, que fazemos o socorro.

Pedimos desculpa: falou do Choupal na Fernão Magalhães, mas são as vicissitudes do trânsito. Francisco Queirós pode defender-se, rapidamente.

Francisco Queirós: Houve um conjunto de inverdades que foram ditas. Os serviços medico-veterinários já tiveram vários prémios. O que acontece é que temos um canil/gatil municipal onde são adotados mais de 600 animais por ano.

Jorge Gouveia Monteiro: Não está licenciado sequer!

Francisco Queirós: Está neste momento em fase final de licenciamento graças a um conjunto de obras que fizemos. É um canil/gatil que é reconhecido. Com uma ligação profunda à comunidade, com programas vários, nomeadamente um que lançámos que é: “Os gatos vão à escola” e não é verdade isto do abandono de animais nem é verdade que haja animais que depois de esterilizados são abandonados ou que morrem. Portanto, são inverdades.

Jorge Gouveia Monteiro: Temos provas, o problema é que temos provas.

30 segundos para apelo ao voto

Passamos às alegações finais. Começava por José Manuel Silva. Um argumento par as pessoas votarem em si em 30 segundos.

José Manuel Silva: Somos a lufada de ar fresco na câmara. Somos uma candidatura independente, sem quaisquer constrangimentos partidários, com pessoas competentes. E a sondagem que já foi revelada demonstra quão útil é votar “Somos Coimbra” para provocar a mudança em Coimbra, a mudança que Coimbra precisa para voltar a crescer e recuperar o seu prestígio e protagonismo nacional.

Jorge Gouveia Monteiro, a mesma pergunta.

Jorge Gouveia Monteiro: Podem votar em mim em 30 segundos ou podem demorar mais um minuto a ver a linha do voto do movimento Cidadãos por Coimbra, que é ao fundo do boletim de voto. Portanto, para votar no movimento Cidadãos por Coimbra, que é um movimento já com experiência e obra feita e com muita luta feita, com muita luta pela cidade, é na última linha do boletim de voto. Não é a foice e o martelo, não é o IV de há quatro anos, que éramos obrigados a usar um número romano, é o movimento Cidadãos por Coimbra, CPC, e o nosso símbolo das fitas que é bem conhecido.

Jaime Ramos, o principal argumento para votarem em si?

Ou continua o dr. Manuel Machado ou irei eu para a câmara municipal. Com todo o respeito pela parte ideológica dos Cidadãos por Coimbra e pela CDU, é evidente que José Manuel Silva é só a canadiana que está a impedir que Manuel Machado caia. No fundo, tentando-me tirar votos, ele está a facilitar a vida ao Manuel Machado.

José Manuel Silva: Não sabia que havia donos de votos.

Jaime Ramos: Continua a prejudicar a vida de Coimbra. Há aspetos muito importantes de Coimbra que nós temos que defender, nomeadamente os transportes, que não abordámos, e a limpeza. Nos transportes é fundamental termos uma visão para a cidade dentro da cidade, mas como também nos concelhos à volta. E que a velhinha estação velha, abandonada nestes últimos anos, seja transformada numa central rodoviária com ferrovia e com existência do metro a ligar a estação velha ao Alto de S. João, e com ligação aos hospitais da Universidade de Coimbra, onde estamos. E permitindo que a classe média e média-alta até deixe de utilizar a sua viatura, poluindo o ambiente, e utilizando um sistema de transportes como existe, no fundo, em Lisboa e Porto. Temos de nos dar ao respeito relativamente aos governos

José Manuel Silva: São 30 segundos ou são 3 minutos? É que se são 3 minutos nós também falamos…

Jaime Ramos: Mas, no nosso caso, infelizmente, esse apoio não é dado e é a câmara municipal que suporta totalmente e temos de exigir ao governo…

Francisco Queirós: Tem alguma dificuldade em cumprir as regras, pelos vistos…

Jaime Ramos: Mas com cinto de segurança!…

Francisco Queirós: Os jornalistas tinham de sair todos, era um bocado complicado.

Para terminar, Francisco Queirós:

Francisco Queirós: A CDU tem provas dadas, na câmara, na assembleia municipal. As freguesias, das 18 que eram 31, exigimos que voltem a ser 31 as freguesias do concelho de Coimbra. As pessoas que ponham os olhos naquilo que é feito em Cernache, no que é feito em S. João do Campo, em Taveiro, Ameal e Arzila, que são freguesias de maioria CDU e onde há trabalho feito, trabalho realizado e que as pessoas reconhecem e vêem que melhoraram as suas condições de vida e que, com olhos postos nisso, apostem em votar de modo diferente, em não voltar a votar como sempre no imobilismo que significou durante estes anos todos quer o PS de Manuel Machado, quer o PSD ao longo destes anos. E, portanto, estou convencido que é isso que os cidadãos de Coimbra vão escolher.

Ao fim de uma hora e 12 minutos de viagem, o autocarro regressou às instalações da RTP Coimbra, onde dois dos candidatos tinham os carros estacionados. Pouco depois, outros dois candidatos pediram para sair perto da Baixa de Coimbra.

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