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A Police car transports four detained people, among them the entrepreneur and president of Benfica Luis Filipe Vieira, arrives at the Central Court of Criminal Instruction to be heard in the first judicial questioning following his detention on Wednesday as part of an investigation into alleged crimes of swindling, tax fraud, and money laundering, in Lisbon, Portugal, 08 July 2021. Luis Filipe Vieira is one of four people detained, who, according to the Central Department of Investigation and Prosecution (DCIAP), are suspected of being involved in "business and financing in a total amount exceeding 100 million euros, which may have entailed high losses for the state and for some of the companies". MIGUEL A. LOPES/LUSA
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MIGUEL A. LOPES/LUSA

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Carlos Alexandre teve de repreender PSP por comportamento indevido enquanto guardava filho de Vieira

A PSP garante que só foi feito um reparo no que toca ao barulho e que não estava em causa qualquer interação entre elementos da PSP e Tiago Vieira. Caso passou-se no gabinete de Carlos Alexandre.

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Um suposto almoço com inspetores — a ter existido — não foi o único momento caricato envolvendo as autoridades quando Luís Filipe Vieira e o filho foram detidos, a 7 de julho de 2021. Já nas instalações do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), os arguidos foram divididos por várias salas para fazerem a consulta dos indícios recolhidos e, a determinado momento, o juiz Carlos Alexandre teve de repreender elementos da PSP pelo comportamento e alegadas interações com Tiago Vieira, que estava dentro de uma das salas para consulta dos meios de prova — a sala em questão era o próprio gabinete do juiz, que nesse dia fora improvisado para que a defesa pudesse fazer a consulta.

Questionada pelo Observador, a PSP confirma o alerta do magistrado, mas diz que apenas estava em causa o ruído e não uma interação indevida com o detido, filho do ex-presidente benfiquista.

Luís Filipe Vieira e os restantes arguidos foram presentes a tribunal no dia seguinte à detenção, tendo a ordem de trabalhos sido tornada pública pelo Conselho Superior da Magistratura:

  • A entrega dos autos com o NUIPC 406/18.9TELSB, no TCIC, com origem no Departamento Central de Investigação e Ação Penal, ocorreu pelas 15h17;
  • O despacho que determina a passagem a 1.º interrogatório judicial, foi proferido pelas 15h35;
  • O início da identificação dos arguidos e comunicação dos factos, ocorreu pelas 15h40;
  • Aos senhores advogados foi disponibilizada uma sala individual para conferência com o seu constituinte e para consultarem os meios de prova, a partir das 15h45.
  • As identificações e comunicação de factos terminaram às 16h07 .

A distribuição pelas salas individuais e a repreensão de Carlos Alexandre

A divisão por espaços separados foi difícil, dadas as características do prédio da Polícia Judiciária adaptado a Tribunal Central. Segundo o Observador apurou, Tiago Vieira e os advogados tiveram mesmo de ficar no gabinete do juiz Carlos Alexandre, que terá ido para a copa trabalhar nesse momento; Luís Filipe Vieira — e a equipa de defesa liderada por Magalhães e Silva — foram colocados na sala de diligências do juiz Ivo Rosa; José António dos Santos, conhecido como o ‘Rei dos Frangos’, ficou numa sala onde testemunhas e advogados costumavam aguardar, e Bruno Macedo e a sua advogada ficaram numa outra divisão. Todos com polícias a fazer uma guarda à vista.

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O Observador sabe que, na altura, o magistrado terá mesmo lembrado aos presentes que Tiago Vieira era um detido e que aquele não era momento para haver qualquer tipo de conversas, tendo pedido aos elementos da PSP para saírem imediatamente da sala. Estes cumpriram e espalharam-se entra a porta da sala e o hall do elevador

E foi precisamente no gabinete de Carlos Alexandre, onde estava o filho de Luís Filipe Vieira, que aconteceu o incidente que deixou perplexo quem estava ali próximo. O juiz ter-se-á apercebido de um barulho injustificado no gabinete e quando chegou perto da porta começou a repreender alto e bom som os quatro ou cinco elementos da PSP que estavam dentro daquela divisão.

O Observador confirmou junto de várias fontes que, na altura, o magistrado terá mesmo lembrado aos presentes que Tiago Vieira era um detido e que aquele não era momento para haver qualquer tipo de interação, tendo inclusivamente pedido aos elementos da PSP para saírem da sala. Estes cumpriram a ordem e espalharam-se entre a porta da sala e o hall do elevador.

Autoridade Tributária desmente Luís Filipe Vieira sobre almoço com inspetores: “Não foi servida qualquer refeição”

No momento em que tudo aconteceu, os advogados do detido não estariam ainda na sala do 4.º andar do edifício antigo da Judiciária — só chegaram após o incidente –, pelo que no gabinete estavam apenas Tiago Vieira os elementos da PSP, que tinham feito parte do dispositivo montado para o transporte dos detidos, entre o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, em Moscavide, e o TCIC.

"Num dos momentos em que os polícias promoviam a guarda à vista dos cidadãos detidos, um senhor magistrado solicitou ao nosso oficial responsável a diminuição do efetivo policial, no sentido de diminuir o ruído ambiente (proveniente das comunicações rádio e troca pontual de informação e de instruções entre os polícias presentes)"
Fonte oficial da PSP ao Observador

Questionada esta semana sobre esta situação, a Direção Nacional da PSP começou por esclarecer que “desempenhou, na operação em apreço, um papel de apoio às ações de recolha de prova” e, depois disso, “garantiu a condução e guarda dos cidadãos detidos e subsequente apresentação à autoridade judiciária”.

Sobre o episódio específico em que os elementos foram interpelados pelo magistrado, a Direção Nacional da PSP confirma que, “num dos momentos em que os polícias promoviam a guarda à vista dos cidadãos detidos, um senhor magistrado solicitou ao nosso oficial responsável a diminuição do efetivo policial, no sentido de diminuir o ruído ambiente (proveniente das comunicações rádio e troca pontual de informação e de instruções entre os polícias presentes)”. Ou seja, de acordo com a versão oficial da PSP, o alerta do juiz apenas pretendia reduzir o barulho existente no local.

“Tal solicitação”, continua a PSP, “foi, naturalmente, acolhida, sendo o dispositivo reorganizado, de forma célere e sem colidir com as diligências em curso, mas mantendo o nível de segurança e garantindo que os cidadãos detidos não contactavam entre si”.

Na resposta enviada ao Observador esta quarta-feira, a PSP remata, reforçando não ter sido identificada por aquela força “em momento algum” qualquer “interação menos própria com algum dos detidos”.

O almoço que despoletou as relações próximas com investigados

As alegadas situações de proximidade entre autoridades e investigados durante as diligências na operação Cartão Vermelho foram despoletadas esta segunda-feira por Luís Filipe Vieira, numa entrevista à CMTV. Segundo o ex-presidente do Benfica, na véspera da ida ao TCIC, dia em que foram feitas buscas a sua casa alguns “inspetores” presentes almoçaram consigo.

“Fizeram buscas no meu gabinete, no meu quarto, até nos tetos falsos andaram a mexer. Não sei do que andavam à procura. Fizeram buscas na minha casa, na casa do meu filho. Fui para a minha casa. Almoçaram comigo dois ou três inspetores, na minha casa. Se eu ia almoçar, podiam almoçar comigo”, disse.

"Sem prejuízo de a AT não se pronunciar sobre declarações públicas de arguidos relativas a diligências processuais, importa esclarecer que aos inspetores da AT que participaram nas referidas diligências não foi servida, nem aceitaram qualquer refeição por parte do arguido, em linha com o Código de Conduta da AT"
Autoridade Tributária e Aduaneira ao Observador

Confrontada logo na terça-feira pelo Observador com esta afirmação, a PSP — órgão de polícia criminal que juntamente com a Autoridade tributária coadjuvou o Ministério Público — negou que tivessem sido agentes desta polícia a almoçar com o ex-presidente do Benfica: “A Polícia de Segurança Pública apoiou a ação de investigação em apreço e os nosso polícias realizaram estritamente as suas funções”.

Vieira e o suposto almoço com inspetores. PSP rejeita que agentes tenham comido com arguido, PJ lembra que nem esteve nas buscas

Também em declarações ao Observador, a Autoridade Tributária negou entretanto a existência de qualquer almoço do arguido na companhia dos seus inspetores, como Vieira acabaria por concretizar já numa segunda entrevista concedida na terça-feira à noite.

Luís Filipe Vieira esclarece ter almoçado com agentes da Autoridade Tributária no dia da sua detenção

“Sem prejuízo de a AT não se pronunciar sobre declarações públicas de arguidos relativas a diligências processuais, importa esclarecer que aos inspetores da AT que participaram nas referidas diligências não foi servida, nem aceitaram qualquer refeição por parte do arguido, em linha com o Código de Conduta da AT”, explicou fonte oficial da Autoridade Tributária e Aduaneira.

Segundo noticiado pela Visão, participaram nas buscas ao Complexo Desportivo do Seixal três elementos da Autoridade Tributária — Susana Neves, Jorge Cunha e Sandro Sousa — e cinco agentes da PSP, identificados no processo como Valter Santos, Óscar Ricardo, Carlos Esteves, Alcides Bernardes e Nélson Ruivo. A diligência começou às 9h50 e terminou às 12h, tendo Luís Filipe Vieira assinado o auto da busca.

Apesar de as diligências terem terminado antes das 13h, só às 14h20 é que Valter Santos, chefe da PSP, deu “cumprimento ao [...] mandado de detenção” de Vieira, que nesse momento foi constituído arguido. Tendo em conta o que disse o ex-presidente do Benfica, o almoço terá acontecido nesse intervalo

Em Lisboa, no Dafundo, onde vive Vieira, duas inspetoras do fisco (Isabel Abrantes e Eugénia Castro), um cabo da GNR, Aníbal Almeida, e um elemento da PSP, João Antunes, começaram as buscas cinco minutos antes da diligência no Seixal, tendo terminado tudo às 12h30 — nos 15 minutos finais desta busca tudo foi acompanhado dos advogados de Vieira — Manuel Magalhães e Silva e João Gaspar Simões.

Apesar de as diligências terem terminado antes das 13h, noticia a mesma revista, só às 14h20 é que Valter Santos, chefe da PSP, refere ter dado “cumprimento ao […] mandado de detenção” de Vieira, que nesse momento foi constituído arguido. Tendo em conta a versão do ex-presidente do Benfica, o almoço terá acontecido nesse lapso temporal.

Procuradoria-Geral da República continua em silêncio

Dado que na operação estiveram também envolvidos magistrados do Ministério Público, o Observador questionou a Procuradoria-Geral da República, que não enviou qualquer resposta até à publicação deste artigo.

Já a Polícia Judiciária — por ter sido referido pelo arguido que o almoço foi com “inspetores” — fez questão de afirmar que nem sequer participou na operação, rejeitando qualquer situação envolvendo os seus elementos: “Face a notícias vindas a público sobre um eventual almoço em casa do Sr. Luís Filipe Vieira a Polícia Judiciária informa que nenhum elemento da PJ esteve envolvido nessa situação”

As buscas em casa do ex-presidente dos encarnados, ao contrário do que aconteceu nas que foram realizadas no Estádio da Luz, não foram acompanhadas pelo juiz de instrução criminal.

O que disse o Ministério Público logo após as buscas

Assim que terminaram as buscas, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal fez saber que a “investigação se [encontrava] a cargo da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) e [contava] com a estreita colaboração da PSP”. “Foram cumpridos cerca de 45 mandados de busca, abrangendo instalações de sociedades, domicílios, escritórios de advogados e uma instituição bancária. Estas buscas decorrem nas áreas de Lisboa, Torres Vedras e Braga”, referia ainda o comunicado.

"No processo investigam-se negócios e financiamentos em montante total superior a 100 milhões de euros, que poderão ter acarretado elevados prejuízos para o Estado e para algumas das sociedades. Em causa estão factos ocorridos, essencialmente, a partir de 2014 e até ao presente e suscetíveis de integrarem a prática, entre outros, de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento"
Departamento Central de Investigação e Ação Penal

O Ministério Público anunciava ainda que tinham sido detidas quatro pessoas: “Dois empresários, um agente desportivo e um dirigente desportivo” e que mais tarde veio a saber-se serem Luís Filipe Vieira, Tiago Vieira, o agente de futebol Bruno Macedo e o empresário José António dos Santos.

“No processo investigam-se negócios e financiamentos em montante total superior a 100 milhões de euros, que poderão ter acarretado elevados prejuízos para o Estado e para algumas das sociedades. Em causa estão factos ocorridos, essencialmente, a partir de 2014 e até ao presente e suscetíveis de integrarem a prática, entre outros, de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento”, rematou o DCIAP, sobre a operação que envolveu 66 inspetores tributários, 4 magistrados do Ministério Público, 3 Juízes de Instrução Criminal e 74 polícias da PSP.

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